Poema de Pablo Neruda Crepusculario
Por vezes, sinto-me angustiado.
Algo me atormenta e me deixa nervoso e inquieto durante horas.
É perturbador.
Uma vontade gigantesca que não cessa.
Só nao sei de quê!
Paladino de cristal
Anjos plantaram a semente da esperança
Longos dias se foram, sombrios e profundos
Gerando uma criatura reluzente, ingênua e mansa
Da utopia do sol nascente concebem-se dois mundos
Formoso tal qual o jardim de Órion
Insigne como a constelação invisível
Imponente como o pedestal de Hipérion
Égide como o Olimpo indivisível
No altar da magnificência, fadas bradam sem cessar
Que o santuário da perfeição está para nascer
Curvando-se todas as criaturas da Terra e do mar
Se regozijam com a chegada do príncipe do amanhecer
Uma gota de sangue escorre pelas estrelas do firmamento
Um grande arco dourado substitui a lua
A luminescência gélida cobre o astro rei
Com os pés descalços sobre a terra, dá ordens ao vento
E mudando as estações, a primavera recua
Gerando e concebendo um novo tempo, que solitariamente erguei
Para ser sábio, torne-se um visionário.
Para ser inteligente, interprete sua visão.
Para ser um gênio, metamorfoseie sua vista.
O clarão que me cegou
No vale da sombra da morte, onde a felicidade inexiste, se encontra a minha alma, perdida em meio às portas que não se abrem. Meu rosto se encontra ensanguentado em meio aos escombros de meus pensamentos, que insistem em não irem embora.
Tudo por causa da luz que vi, e que não mais verei. Tudo por causa do arco íris preto e branco, tudo por causa das lágrimas da dor que contrastam com a essência da minha felicidade.
Nada mudará, estarei preso eternamente nas algemas desse labirinto barrento e cheio de malignidades. Oh prisão sem muros, oh deuses invisíveis, pra onde levaram a minha pequena esperança?
A síntese sagaz da vida nasce na cachoeira congelada, onde a neve cai por toda a noite e o frio toma conta do meu ser. Neste lugar, nem mesmo a formosura da aurora boreal é capaz de sensibilizar minha face.
É cruel ver o brilho com meus próprios olhos e não poder tocá-lo, nem apreciá-lo. Esse feixe somente aparece nesse vale de mil em mil anos, por isso, essa era a minha única oportunidade, não mais terei vida quando a sublimidade suprema da beleza voltar a figurar por aqui. Oh deuses, façam de mim um de vós, para que eu possa ser imortal e ver novamente tamanha harmonia.
Prefiro se extinguir, a não poder mais contemplar a única coisa sempar desse lago triste e melancólico. Que eu me embriague com o cálice da morte e que o ceifeiro venha me buscar, pois, não mais existo.
O herói que habita no âmago invisível de sua alma
Todas as coisas raras desse mundo são caras, com exceção de uma, a saber: a amizade.
A miserabilidade dessa coisa singela e fraternal entre duas pessoas, torna a mesma, algo extremamente valioso e sempar no mundo em que vivemos.
Juntos, esse dois seres apaixonados um pelo outro, são imortais e imbatíveis, partilham alegrias e frustrações, discussões e perdões, medos e segredos, ajuntamentos e dissenções.
E quando um se vai, deixa um vazio impreenchível, envenenando a alma alheia, que sofre por perder parte de sua essência.
Na simplicidade das coisas mais banais da vida, encontramos a água inesgotável da felicidade e da esperança, que pode ser bebida gratuitamente pelos dois seres que se agradam de estarem um com o outro, se complementando eternamente entre si.
E assim, quando um está cercado de trevas por todos os lados e a luz insiste em não aparecer, pode enxergar ao longe, cavalgando a passos largos, quase como se sobrevoasse, o seu herói, o seu ídolo, que, fazendo a poeira levantar, prova, com uma elegância peculiar, que você nunca esteve ou estará, sozinho.
No momento exato de sua morte, quando estás esparramado ao chão e podendo contemplar o sorriso da vitória na face de seu adversário, que está prestes a disferir o último golpe, eis que surge o seu amigo, que desembainhando a espada da esperança, te joga para o lado e enfrenta o seu inimigo cruel , que prontamente parte em retirada, por temer os olhos intrépidos daquele que não faz outra coisa senão protegê-lo com todas as suas forças, entregando, se preciso, até mesmo a sua própria vida.
A sublimidade rara do meu eu em você
Se tu partires, não mais poderei achar-me
Na sua pupila se encontra a minha alma
O som sereno da sua voz me acalma
Em meio ao labirinto trevoso estás a buscar-me...
Além dos Elísios, o oráculo me disse
Que seríamos mais apaixonados que Orfeu e Eurídice.
Das criaturas raras, seríamos sempares
Ao ponto de superarmos o arco íris nos ares...
Nossa auréola é honrosa ao mundo
Que se regozija contemplando nossa história,
No firmamento vejo anjos tocando harpas prateadas
Mais épicas que as batalhas heróicas do submundo,
É o coração da dama coroada de glória
Ao ajuntar-se ao seu par, formando nobres noites estreladas...
Santuário destruído
Perdi meu santuário, parte de minha alma e fardo
Simplesmente se foi, me deixando amargurado
Os momentos sublimes e regozijantes com ela estavam
Ela era parte de minha existência, que agora me deixaram
Saudade da ternura, do sorriso e da alvorada
Do amor, da meiguice e da madrugada
Saudade dos passos que ela dava em minha direção
Pensando ser banalizada, mal sabia que era dona do meu coração
No pedestal da suprema excelência, estava a dama de mechas douradas
Eu, ao longe observava, contemplando algo que minha mão não alcançava
Com uma formosura que eu não ouso explicar
Estava aquela que vive além do paraíso estelar
Quem ocupará este lugar, se nada existe para comparar?
Martirizada estará eternamente a minha alma, que perpetuamente estará a vagar
Procurando a existência de algo semelhantemente sempar
Que inexiste em um universo finito e particular
Tudo o que restou foi um olhar
Que pude apenas por um segundo contemplar
Daquela que é dona dos meus desejos e pensamentos
Sem saber que meu viver depende apenas de nossos esplêndidos e sublimes momentos.
A luminescência sublime da dama comedida
Após contemplar seu lúgubre rosto e me embriagar com a ternura de seu olhar, sou tentado pela ilusão teimosamente bela de seu sorriso...
Minha dama é dona de mãos macias, contendo em si mesmas uma suavidade refinada, tal qual a flor molhada do jardim...
Seu coração é forte como o abraço do mar, calmo como a aurora celestial e égide como o firmamento...
Sua doce presença me faz querer viver eternamente nesse mundo encantado, somente para ter a esperança de tocar seus lábios mais uma vez...
Oh minha preferida, entendi que nasci para te olhar e somente para te admirar, descobrindo meu eu interior através de sua beleza incomparavelmente divina...
As asas de um sonho
Segundo as benignidades de seu coração e total benevolência de seu ser, eu imploro-te: olhe para mim...
Seu sorriso inebria meu coração e me faz suspirar pelos momentos vividos contigo, ao mesmo tempo em que eu me lembro das noites estelares e dos passos serenos que tu davas em minha direção...
Sua formosura inigualável, tal qual a imagem de uma escultura imponente e de luz tênue me fazem, incessantemente, prantear por minha alma estar longe da tua...
Tua presença deixava aquele lugar embriagado de harmonia e esperança, uma esperança semelhante a da rosa vermelha que floresce esperando viver por 1000 anos sem perder um fio de beleza sequer...
Eis a minha dama, de lábios coloridos e pele branca semelhante ao linho finíssimo, tal qual a neve que cai do céu estrelado do amanhã...
Estando contigo mergulho em um paraíso de fantasias incontáveis, impossíveis de enumerar, e, em meio a esse oásis invisível, perco a noção entre loucura e realidade, e é nesse momento que descubro a essência do amor, e essa essência não vem de outro lugar a não ser de ti, minha dama de olhos cintilantes...
Oh anja da ternura, abra as suas asas, sublimes e macias, e me carregue para além do infinito, onde nos transformaremos eternamente em pó de estrelas, para sempre resplandecentes...
A meiguice da fada reluzente
Um leve sopro sai de dentro dela, produzindo inúmeras estrelas aos meus olhos, umas mais reluzentes, outras ofuscadas, me levando a outra dimensão...
Com suas lágrimas tenho o poder de pintar o universo de vermelho, de esverdear as estrelas e de descolorir o mar, mas, o maior dos poderes eu não tenho, o de pintar o coração dela com a minha face...
Encantei-me ao encontrar a flor mais perfeita, ao contemplar o som pacífico que vem dos oceanos e ao sentir o calor do sol, mas, nenhum desses encantamentos é mais encantador do que a doce presença dela...
Meu sentimento por ela é semelhante ao fogo inextinguível e nem mesmo o maior dos dilúvios poderia apagar, pois, quem poderia esquecer um sorriso tão resplandecente, asas tão macias e flamejantes e mãos tão suaves, contendo em si mesmas a ternura da fada mais bela dos bosques floridos...
E a que compararei sua face, voz e olhos? A primeira é semelhante ao balançar das flores do jardim causada pelo vento que sopra sem cessar, a segunda é semelhante ao som sereno de uma harpa afinadíssima tocada pelo anjo mais apaixonado que habita além do terceiro céu e o terceiro é semelhante ao brilho de todos os vagalumes do mundo juntos, na noite mais especial de todas as noites especiais...
Ao me lembrar dessas coisas mergulho em um profundo silêncio, somente para ouvir os sinos da esperança, cantados silenciosamente pelas badaladas do coração daquela que tem dentro dela a essência da minha felicidade.
Para os tolos, não basta apenas a apatia, a omissão e a covardia. É impreterível perseguir aqueles que escolheram a estrada inversa.
Com essa volúpia estúpida, regrada de sementes trevosas e de peçonhentos grãos, eles intentam em realizar alusivamente o maior de seus objetivos pessoais: o de ver seus semelhantes serem embriagados com uma preguiça irreversivelmente eterna que terá força para transformar o universo em uma esfera multicelular de mulas ambulantes – tendo tais patetas como “líderes” supremos e absolutos do bando –.
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Réquiem do sol
A clepsidra desbotada absorve minha solidão
O doce silêncio ascende minha alma solar
O vento e as nuvens turvam sensorialmente o ar
Nas lendárias memórias do insensato coração
Os deuses conspiram contra o amor e a doçura
Ateiam fogo nas bandeiras da paixão e da ternura
Reis, principados e tronos anseiam a morte trágica do poeta
Que existe porque a saudade sublimemente o desperta
Na mítica argila, o rabisco de Macha reluz o intrépido trovão
A estatueta ametista sinfoniza as inapagáveis e imaculadas resplandecências
Ao norte, o vento escarlate desenha a impetuosa perfeição
Canonizado, o ninho dos fantasmas descortina as prumadas transcendências
Tu és meu livro memorial, minha estante de sumptuosas recordações
Eu sou sua metade, seu pedaço pelo destino outrora roubado
Seu castelo de tristezas, gritos, prantos, lamentações e fado
Quero entregar-lhe desejos, sonhos, fantasias, desígnios e sensações
Fragmentados nas infinitas camadas do lúdico carrossel dourado
Consubstanciados na homérica galáxia do sagrado paraíso constelado
Cabra macho, sim senhor!
Quando Jesus chegava em um lugar onde as pessoas não queriam recebe-lo, ele se retirava imediatamente, pois nunca mendigou atenção de ninguém e não existia para seres trancafiados em si mesmos.
Também sou assim: me entrego como Shakespeare nos palcos, mas se não houver reciprocidade, sou capaz de deixar a plateia sem um cumprimento sequer, nadando na lama pútrida da própria ignorância que seus olhos fetidamente criaram.
A maior riqueza é aquela que não pode ser tomada, pois nasceu em um raio de águas eternas. Não se engane, as melhores coisas desta vida são de graça e acredite: a maioria das pessoas não as quer.
Olhe a sua volta: grande parte dos homens age pelos seus interesses, não pelos seus ideais, mentem para esconder a verdade e nem ao menos sabem quem são e pior ainda do que todas essas coisas expostas: possuem muitos bens, mas nenhum deles é capaz de lhes completar, visto que são absolutamente secos, vazios, ignorantes e desprovidos do maior de todos os atributos: o amor.
Para compreender o inteligente, é necessário pensar.
Para compreender o sábio, é necessário imaginar.
Para compreender o ignorante, é necessário hibernar.
Camille
Deixa dizer-te os formosos cânticos do meu coração
Que a minha alma tanto repulsa pela emoção e pela dor
Foram moldados com carinho, ternura, brandura, zelo e amor
Petrificados na ânfora de Atena com a força de uma paixão
Camille, tu que viajas nas cataratas eternas, deleitando-se
Nem de longe esquece-te do imponente ser de garras e rugido
Oh minha sonhadora: de mechas loiras, ruivas e traje brunido
Quero viajar para sempre nas quedas celestiais, acariciando-te
Tu matastes a morte com a flamejante espada da esperança
E me destes a vida, criando um paraíso que nunca poderei igualar
Cravando o sagrado opúsculo nas areias do Chronos hodierno
Por ti, sofro nas mãos cruéis e perversas do soldado da vingança
Tudo para cavalgar pela última vez, rumando para o reino basilar
Unindo-me para coabitarmos no paraíso cróceo, flavescente e eviterno
Esmeralda
Minhas lembranças desbotam com o tempo, elas murcham e morrem como meras rosas no jardim. Mas a esperança não, ela ascende e se expande como a reluzente luz do crepúsculo, cegando todos aqueles que ousam contemplá-la. É um sino que não cessa de soprar, mesmo quando todos já estão surdos e mal podem respirar.
E embora as minhas memórias estejam perdidas no inesgotável alfabeto de Hipnos, jamais serei capaz de arrancá-las, pois uma vez sendo morada do coração, a ternura torna-se um hospedeiro eterno, tal qual céu e estrelas, chuvas e trovões, relâmpagos e clarões, desejos e sensações.
E nada hei de fazer para esquecer a beleza do imaculado quadro da aurora , cujas letras escarlates e esverdeadas fizeram os anjos silenciar e os montes e ventos perderem seu etéreo resplendor, como um culto épico e soberano a beleza materializada em forma de uma simples mulher: a fada esmeralda dos sagrados vales do amanhã.
Anja
Inalterável é sua insigne formosura, que me faz lembrar as joias celestiais: reluzentes, puríssimas e absolutamente inefáveis...
Tão perfeitamente bela que eu não ouso explicar, lamentando pelas incontáveis limitações que constituem o meu ser, que jamais seria capaz de exprimir tamanho esplendor...
Tu és a representação máxima da venustidade angelical, da airosidade suprema das fadas ternurosas e da glória divina e sua total soberania...
Eternamente alegre estarei, no céu estrelado do amanhã, ao me recordar de sua existência e ao saber que uma luz brilha dentro do meu coração, por tu voltardes seus olhares para mim, apreciando a presença dos meus olhos contemplando sua nobre face...
Mais absoluta que o pó das estrelas do firmamento, tão soberana quanto o rugido dos faunos e mais Égide que o Olimpo indivisível, és tu, a minha anja de face sorridente, tão dona da felicidade quanto os seres cantantes dos sagrados campos Elísios.
Paladina Sinfônica
Ouço os sinos da alvorada tocando
Um som lúgubre ecoa nas veredas
No céu contemplo ninfas sapateando
E ao longe os anjos tecendo sedas
Tu és a mais perfeita das fantasias
Um genuíno oásis de passividade
Ostentando cânticos de melosas sinfonias
Transmitindo a mais absoluta sublimidade
Na flor mais rara está sua aura
Que acolhe o universo com ardor
Expelindo gotas da areia fauna
No supremo santuário do louvor
Eternamente estará a vagar
No mundo infinito do amanhecer
Semeando pó estelar e ventos puritanos
Sua insigne imagem me faz suspirar
Sonhando tocá-la no clarão do anoitecer
Embriagado com o cálice dos tiranos
Indóceis ilusões
Nas noites trevosas e indomáveis, me recordo dos dias em que eu era um fantasista utópico, embriagado por incontáveis lendas que me tornavam um ser devaneador e totalmente sem noção da realidade.
Algumas pessoas não podem entregar aquilo que desejamos, não porque não querem, mas por não ostentarem ferramentas para tal exercício. Destarte, vemos que não passamos de meros sonhadores, lançados em um mundo onde as criaturas que poderiam criar o nosso desejo, simplesmente não o fazem por não possuírem o maior atributo da humanidade, que é o de ter fé.
E assim, depois de muito esperar, somos presenteados por algo que é maravilhoso apenas por um tempo específico, pois, no decorrer de nossa existência, podemos verificar facilmente que o âmago é opaco e completamente vazio, porquanto nossos olhos são traidores e tem o poder de nos embair, nos transformando em seres religiosos, totalmente crentes nessas doutrinas que são propagadas por esses falsos mestres que não conhecem a verdade, a honra, a justiça, e, principalmente, o amor.
Desta forma, todos os nossos sonhos são quebrados, dilacerados e destronados, juntamente com os nossos corações, que passam a ser semelhantes a um jardim sem flores, tornando-se o cemitério das nossas almas, aguardando piedosamente para serem o túmulo das nossas fantasias.
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