Peito Apertado
Quando as lembranças da infância se entranham no meu peito, rasgam-me as entranhas e arrancam minha carne ao ritmo de memórias que não perdoam, tudo o que superei , daquele passado terrível com tanto esforço vira pó, e eu fico a arrastar o cadáver de quem fui.
O impossível é a montanha que desafia o peito, um grito contra o abismo, a prova crua da coragem que não se rende.
O medo ronda, mas não governa, é sombra frágil diante do peito em chamas, um invasor que nunca tomará morada.
O amor é oração quando a boca se cala, no peito, o pedido vira ponte e passo, sentir atravessa o desejo e a graça, assim o coração faz igreja silenciosa.
A verdadeira celebração não faz barulho, ela acontece dentro do peito. O reencontro com a própria alma é o mais silencioso e poderoso dos milagres. Deus festeja em silêncio, e o céu se abre no instante em que você se perdoa.
Quando o peito aperta até sufocar, Ele não só vira abrigo, mas sussurra a paz e sincroniza o ritmo da minha respiração.
Quando a vida contrai e sufoca, a fé em Seu amor dilata o peito e me impele, irresistivelmente, a continuar.
A tragédia íntima nunca é fotografada para a posteridade, aquele momento exato em que o peito se transforma em zona de guerra sísmica, onde o coração não pulsa, mas sim explode em mil estilhaços contra as paredes da carne, é um espetáculo reservado apenas para o sofredor e, talvez, para a entidade maior que nos assiste do alto, as palavras que hoje soam como testemunho de vitória nasceram da gagueira desesperada de quem acreditava ter chegado ao ponto final irreversível, onde o único horizonte visível era o negrume denso da ausência total de saída, um beco escuro com a placa de "Fim da Linha" piscando incessantemente.
O coração que ameaçava explodir no peito era o alarme sísmico do teu limite, o grito final de um corpo que não suportava mais o peso da mentira social de que "estava tudo bem", esse terremoto interno foi o que pavimentou a estrada para o Encontro, pois a rendição total é o único passaporte válido para a intervenção divina, não foi a tua força que o trouxe, mas sim a qualidade devastadora da tua fraqueza, um paradoxo sagrado onde a perda completa de controle se torna o portal de entrada para a Graça reordenadora.
Carrego dentro de mim batalhas que ninguém viu, mas cada uma delas moldou meu peito como ferro aquecido, não pedi para ser forte, fui obrigado pela vida, e mesmo assim aprendi a amar no intervalo das dores, sou testemunha da minha própria ressurreição diária.
Você carrega mundos no peito, e ainda assim continua. Isso é resistência pura. É a prova de que você nasceu para mais.
O amor verdadeiro não sufoca, ele expande, ele abre espaço dentro do peito, e transforma feridas em
janelas, quem ama cura.
A vida me endureceu, mas não permiti que me amargasse, há aço no meu peito, mas ainda há flor nas minhas mãos, eu equilibro forças.
Desça à caverna sombria e abrace o pequeno náufrago que ainda treme em seu peito, a cura é o ato primal de autopiedade feroz, o afeto que, negado, cria a ferida e, oferecido, a estanca.
O mundo lhe oferece mapas falsos e destinos impostos, mas a bússola de carne reside no peito, ignore a cartografia externa e siga o ímã silencioso do seu centro, o único ponto onde a paz tem endereço.
Puxe o ar até o fundo da alma, que o caos ululante do mundo seja um som distante, pois seu peito é um santuário autônomo onde a tempestade externa não tem permissão para entrar.
