Os Seres Vivos

Querer saber - o que parece tão difícil - se não é errado, entre tantos seres vivos que praticam a violência, ser o único ou um dos poucos não violentos, não é diferente de querer saber se seria possível ser sóbrio entre tantos embriagados, e se não seria melhor que todos começassem logo a beber.

Por que certas pessoas gritam tanto? Seres vivos em geral, gente, árvore, são extremamente sensíveis a gritos. Com paus e pedras podemos partir ossos, mas com palavras partimos corações.

Todos os seres vivos tremem diante da violência. Todos temem a morte, todos amam a vida. Projete você mesmo em todas as criaturas. Então, a quem você poderá ferir? Que mal você poderá fazer?

Nunca ria de dragões vivos.

Deve-se consideração aos vivos; aos mortos deve-se apenas a verdade.

A saudade pelos vivos é dor suave.

Os mais verdadeiros e os mais vivos amores são sempre os mais inesperados.

Chorarmos por daqui a cem anos não estarmos vivos é loucura semelhante à de chorarmos por não termos vivido há cem anos.

Nunca existiram grande homens enquanto vivos. É a posteridade que os cria.

Como são sábios aqueles que se entregam às loucuras do amor!

A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro.

Com os seres vivos, parece que a natureza se exercita no artificialismo. A vida destila e filtra.

Para quê levar a vida tão a sério, se a vida é uma alucinante aventura da qual jamais sairemos vivos.

Soneto 18

Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Às vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.

Todos fecham seus olhos quando morrem, mas nem todos enxergam quando estão vivos.

Por que será que a gente vive chorando os amigos mortos e não aguenta os que continuam vivos?

O efeito da morte sobre aqueles que continuam vivos é sempre estranho, e muitas vezes terrível, pela destruição de desejos inocentes.

O maior feito de Jesus não foi ressuscitar os mortos, mas é a capacidade de ressuscitar os vivos.

Muitos vivem apenas porque estão vivos. Vivem sem objetivos, sem metas, sem ideais e sem sonhos. Não sabem como lidar com suas fragilidades e lágrimas. Sabem lidar com os aplausos, mas desesperam-se diante das vaias.

Não há vivos, há os que morreram e os que esperam a vez.