Olho
ARMA BRANCA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Já depois de uma vida não sabes quem sou;
tens um olho em meus olhos, outro no talvez,
quando chego e me dou às tuas atenções
e não conto até três para fechar os olhos...
Vejo quanto esbanjei o meu tempo em afetos;
fui solícito, exposto e desarmei meu ser,
para ser transparente, suave, sem véu
onde os vetos do mundo faziam fumaça...
Lá se vai uma vida e não me gabaritas;
na verdade nem tiras uma nota honrada;
quase nada conheces de minhas questões...
A minh´alma; meu corpo; tudo quanto expunha
para ser o teu livro de leitura franca
se tornou arma branca e me feres de mim...
DESISTÊNCIA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Se não podes me ver sem essa névoa,
essa trave nos olhos constrangidos,
um olhar de gemidos camuflados
pelos traços de alguma simpatia...
E não tens o que possas apostar
na lisura e no tom do meu carinho,
neste ninho de sonhos e levezas
que te oferto em silêncio e contrição...
Só me resta calar o sentimento,
recolher o sentido que não faz,
onde o vento gastou a confiança...
Tentarei não sentir a nostalgia,
cada dia do tempo que me resta
será tempo de achar quem faça jus...
VERDADES OPOSTAS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
De repente não sei despir meus olhos
dos teus olhos, teu riso, tua estampa,
tudo acampa no bosque da saudade
que brotou em meus campos afetivos...
Tua voz acompanha meu silêncio
e me faz esquecer os sons externos,
meus eternos motivos de sonhar
se renderam à tua novidade...
Não há pressa em saber se já te amo,
pode ser um sussurro de carência
ou daquelas paixões de meninice...
Mas a minha verdade não é tua;
minha lua não cabe no teu mar;
o que sinto é só meu, de mais ninguém...
PLÁGIO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Hoje olho meu rosto e fico bem;
meu espelho não diz pra tomar jeito;
tenho vícios, defeitos e manias,
mas nos moldes de minha humanidade...
Sobretudo, já sei me perdoar;
sei pedir o perdão que não detenho,
revoar, conhecer o meu deserto
e colher uma flor entre as escarpas...
Aprendi a me ver em mais alguém;
a.medir os meus erros ou deslizes,
evitar as reprises que magoam...
Quem me dera chegar a tal estágio,
sou apenas um plágio do que sonho,
me componho, me forjo, tento ser...
CHÃOS
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Cada olho sulcado pelas rugas
conta histórias de vida, sonho e morte;
lega rusgas, esperas, esperanças
entre o corte que o tempo tornou rio...
A idade me fez um livro em braile;
não precisa me ver, já sou leitura,
minha jura de amor é pelo mundo
que seus olhos encontram no meu ser...
Tenho chãos que não saem do meu pé;
uma fé que dispenso expor ao ar
e não cabe nos templos construídos...
Minha paz vem de guerras que perdi;
rio todos os danos que sangrei
ao achar que chorei meus oceanos...
QUEM TEM FILHA TEM MEDO
Demétrio Sena - Magé
Desde que passei a ter filhas, olho pras filhas de outros pais e penso nas minhas. Não quero para elas, o mesmo sofrimento que não quero pras minhas. Quem tem filha tem medo. O mundo está muito machista, misógino e truculento pras mulheres. E muita gente que tem filho, mesmo que tenha filha, incentiva o machismo, o menosprezo e o tratamento abusivo de seus filhos com as filhas de outros pais, sem nem pensar na própria filha, que pode ser também vítima do filho de um pai qualquer, por aí, que também não exige que seu filho seja homem de verdade. Só machão. Se eu tivesse filho, não importa a idade, não aceitaria de modo algum, que esse filho fosse abusivo com a namorada, esposa, nem com uma amiga. Exigiria que ele tratasse bem, com dignidade e cavalheirismo, ou deixasse em paz. Tenho certeza que eu pensaria em minhas filhas, ao ver meu filho agir assim. E pensaria também nas consequências, inclusive penais, que meu filho poderia sofrer.
Há dias em que caminho um pouco perdido, olho para o vago, me perco um pouco no vazio, fico um pouco sem rumo. Então, eu olho para mim mesmo e vejo o quanto a vida conspira a meu favor, o quanto sou cercado de pessoas iluminadas, o quanto sou feliz com tudo que tenho. Aí reencontro meu caminho e você faz parte dele, que sorte a minha!
Nesta noite
latino-americana
de angústias
devastadoras
e urgentes,
não consigo
fechar os olhos
sem pensar
nas dores
crescentes
do ombro
do General
injustiçado
que na pessoa
dele venho
contando
a saga de todo
um povo que
como ele
vem sendo
perseguido.
Saber de
tanta gente
que se foi
e de quem
como ele
segue na vida
resistindo
me traz
ainda mais
para perto;
sei de gente
que o peito dói,
mas segue em
frente sorrindo.
Só não quero
saber de quem
compactua
torturando
e mentindo;
porque gente
assim até Deus
se desinteressou.
Não é de hoje que
sei que você está
de olho em mim,
Eu soul poetisa,
não sou tonta,
e sem perceber
de ti tomei conta,
Com uma rebelião
por segundo o seu
coração não sabe
mais a rota de volta;
Aumentei o volume
a temperatura,
e coloquei romance
no seu coração:
o céu não é mais o limite.
Eu te olho como o Sol
e a Lua cortejam
a copa da Embaúba,
E na poesia dou a pista
que nasci para ser tua.
Olho para o Cipó Mucunã,
volto a mexer no balaio,
me encanto com o barulho
do Coco, do Babaçu
e da Taboca separadinhos
tocando uns nos outros,
Tenho muito o quê fazer,
porque tenho que me enfeitar
para ser uma bonita festa
para nós dois e o amor não se perder.
Olho de Sogra
Se é para ter
o Olho de Sogra
que seja um
doce bem doce
como o seu,
Poesia e amor meu.
Olho do alto o futuro
carregando o amor mais puro
destemundo para não pisar
na serpente do destino.
Eu olho para o futuro
de cima carregando
o amor mais puro
deste mundo
para não pisar
na cobra do destino.
Os galhos do Ipê-mamono
fazem a sua doce percussão
nesta manhã serena,
Olho para o alto e encontro
ele em total poema
que me deixou em transe flóreo.
Por que quando olho em seus olhos só consigo ver um reflexo dos meus sentimentos, leves traços que transfiguram o que acreditava ser real.
Procurando doidamente
por você,
Olho para o céu,
e lá você não está;
- Porque você em mim habita
E para sempre reinará...
Busco explicações
no voo duplo dado,
Apreciando a cumplicidade
das gaivotas,
É tua essa alma
e esse coração apaixonado,
O amor para muitos é
praticamente inútil,
E para outros é um
planeta que não foi habitado.
Quem dera, quem dera...
Que o homem fosse
como a gaivota,
Não haveria nessa vida
nenhuma quimera,
O mar revolto se tornaria marola...
Vendo o Sol se pondo
entre as areias,
Como uma hóstia no sacrário,
Tenho o teu amor
como um relicário,
Crendo nas larguezas,
grandezas e firmezas.
Crendo, crendo, crendo...
Que o amor vai além do vento...,
E que ele supera todo o tormento,
Capaz de dissipar
a névoa do sofrimento;
Existindo como o mais
santo e sacro sentimento.
A tua presença é percebida,
- olho para o céu e te aprecio
Percebo-te divinamente,
Presença boa no coração,
E que apazigua a mente.
Tens tudo de mim,
- sou capaz de prosseguir
És o meu ar - o meu tudo,
Por ti navego pelo mundo,
- entrego-me sem fim
Para o meu Senhor do tempo.
A tua presença fluída,
É expressão do amor,
Por ti escrevo poesia,
Faço-a com bom ardor.
Ossos, músculos e sentimento,
- és completamente meu.
Não calo para o mundo nem
Por um instante - o amor amante.
Imagem e matéria fulgurante,
Não te perco, e nem me faço errante.
Trago em mim esse amor valente,
Existe gente que se engana que sente,
Eu sinto-o verdadeiramente,
Seguindo a vida encantadoramente,
Como um rio calmamente
Levando o barquinho tranquilamente...
Olho para o horizonte,
Sinto você bem longe,
Ainda insisto em te seguir,
a tua atenção,
Cadê o meu coração?...
Não faça mais isso não.
Quero morar em ti,
Você já mora em mim,
Não me canso de escrever,
Tantas são as minhas trovas,
Já te dei tantas provas, enfim;
Deste doce amor sem fim...
Não deixa de ser um idílio,
Tentar te colocar no trilho,
Sou uma rosa intrigada,
Às vezes sinto-me deixada,
E me faço estrelada,
Para ter a tua atenção voltada.
Cada corrente, cada brisa,
Faço frente, maresia,
Estou na areia da Praia do Amor,
Esperando que admita,
Que sem mim não há poesia,
E também não há alegria.
Quero mais de um milhão de beijos,
E morar no paraíso dos teus desejos,
Quero ombro, quero colo,
Seguindo muito além,
Do teu respeito - quero o teu amor inteiro.
