O Valor do ser Humano Rubem Alves

A riqueza é para ser gasta.

As leis de difícil execução em geral não podem ser boas.

Os poetas têm de ser pessoas médias, nem deuses, nem vendedores de livros.

Não afirmo que o inimigo do Brasil é o capital estrangeiro, mas também não afirmo que por ser estrangeiro é melhor e mais amigo.

É mais fácil ser-se amante que marido, pela simples razão de que é mais difícil ter espírito todos os dias do que dizer coisas bonitas de quando em quando.

A realidade é que nós tomamos para ser verdade.
O que assumimos como verdade é o que acreditamos.
O que nós acreditamos é baseado em nossas percepções.
O que percebemos depende do que buscamos.
O que procuramos depende do que pensamos.
O que pensamos depende do que percebemos.
O que percebemos determina o que nós acreditamos.
O que nós acreditamos determina o que fazer para ser verdade.
O que fazer para ser verdade é a nossa realidade.

O desejo transforma o ser de que nos aproximamos num monstro que não se parece com ele.

A vida é uma coisa muito complicada. E toda a questão de ser ou de não ser consiste em encontrar-se nesta confusão.

Mais vale ser-se parvo do que morto.

O embaraço parece ser a única possibilidade de compreensão entre pais e filhos.

Se nos é impossível permanecermos puros, não tentemos ser artistas.

Qualquer pessoa pode ser modificada para melhor, se ela assim se propuser.

Um tapinha nas costas, apesar de ser apenas algumas vértebras de distância de um chute no traseiro, está quilômetros adiante em resultados.

Querer ser do seu tempo é estar, já, ultrapassado.

O homem é o único ser que, ao nascer, nu sobre a terra nua, é abandonado ao vagido e ao pranto; e nenhum animal é mais propenso às lágrimas do que ele, desde o início da vida.

Aquilo cuja existência pudesse ser demonstrada não seria nem poderia ser Deus.

O tédio é de certo modo o mais sublime dos sentimentos humanos. O não poder ser satisfeito por nenhuma coisa terrena nem, por assim dizer, pela terra inteira. Por isso o tédio é pouco conhecido dos homens sem importância, e pouquíssimo ou nada dos outros animais.

O papel do marido atraiçoado continuará a ser ridículo até o dia em que a sociedade reconhecer que a honra é uma propriedade como qualquer outra, e que, roubado esse património, o desprezo, como punição do delito, deve cair não no que sofre, mas sim no que perpetrou o roubo.

Quase se poderia dizer que só existo na medida em que existo para o outro e, no limite: ser é amar.

A vida é pobre demais para não ser também imortal.