O Homen que se Acha Sabio
Sua pergunta me fez relembrar das nossas conversas.
É... isso me deixou confuso, não sei em qual momento nós fomos de "quase algo" ao nada.
Eis que o vento sopra em meu rosto, em meu corpo.
Vindo de frente, refresca minha fronte, massageia meus cabelos.
E eis que me fragmento num sem-número de sementes de dente-de-leão, sopradas pelo vento.
De minha essência nada resta, pois me espalho por onde ando, por onde as sementes voam.
Quisera ser flora para te encantar, e o fora, fora um dente-de-leão. Leão manso, de altivo passo, retumbante rugido e suave respiração.
Meus cabelos, ora juba, ora inflorescência, balançam ao vento e espalham sementes de dente-de-leão pelos campos ondeantes onde ando.
Outrora rugi, outrora rosnei, outrora agarrei, mas não aguentei. Outrora, eu era. Agora, deixo de ser.
Nada detém o vento, que num redemoinho me envolve, meus fragmentos revolve, num rodamoinho me dissolve. Sou capítulo soprado.
Me fragmento num sem-número de sementes, que voam pelo vento. E na terra, em minhas pegadas de leão, nascem dentes-de-leão.
(Epitáfio anemocórico, no livro O Bruxo de Curitiba)
Água fria, que do céu cai,
revigora o verde, faz brotar.
Água quente, do mate extrai
suave amargo, faz trovar.
