O Homem que Nao se Contenta com pouco

Não há um lado mau da vida: a vida é una.

É mais fácil cumprir certos deveres, que buscar razões para justificar-nos de o não ter feito.

O gênio sem paixão é o asceta da poesia, não é o poeta.

Mais glorioso não é quem vence em batalhas milhares de homens, mas sim quem a si mesmo vence.

Não é possível com mente mortal / indagar os pensamentos dos deuses.

Quando novas informações surgem e as circunstâncias mudam já não é possível resolver os problemas com as soluções de ontem.

Para a tarefa do artista, a cegueira não é totalmente negativa, já que pode ser um instrumento.

É preciso termos muito bom senso para sentirmos que não temos nenhum.

Há tantos vícios com origem naquilo que não estimamos o suficiente em nós, como no que estimamos mais.

Não é a injustiça em si mesmo que nos fere, é o sermos vítimas dela.

O espírito egoísta do comércio não conhece países e não sente paixão ou princípio excepto o do lucro.

O matrimônio é um mar para o qual até agora ainda não se encontrou nenhuma bússola.

Brilhar não significa iluminar.

A nossa sorte não se encontra fora de nós, mas antes em nós mesmos e em nossa vontade.

Lamentar é ter pena de si próprio, não ter esperanças e não semear o bem e a paz.

As pessoas vaidosas não podem ser astutas; elas são incapazes de se calar.

Não pode haver uma totalidade da comunicação. Com efeito, a comunicação seria a verdade se ela fosse total.

O amor não passa de um prazer. A honra é um dever.

Não é a beleza mas sim a humanidade o objetivo da literatura.

Palavras não existem
fora da nossa voz as
palavras não assistem
palavras somos nós

(A doença, Poemas Reunidos, Publicações Dom Quixote, 1999)