O Homem Errado Luis Fermando Verissimo
Duas chaves
abrem a mesma porta
Claves de sol
Voz noturna-rouxinol
Migrações coloridas
Pássaros de rosas-vidas
Abre-se coração
Ouve-se a canção
Recebe a pétala
solitária na mão.
- O voo não silencia a emoção -
Despidos,
pobres bichos!
E a chuva a lhes umedecer.
Outros cantam!
Tais felicidades às avessas
parecem sorrir
risos saciados
sem sede
sem medos.
Em que reside a alegria?
Na água e milho
- Dirão eles!
E eu sem respostas
Sem cantos
Sem risos
Sisudo
cara amarrada,
Vestido!
Ainda tenho alma
- acredite –
é calma
Tem horizontes poéticos
como os tempos velhos de mim
Quanto vale a idade?
Minhas estrelas ainda
são doces pregados no céu.
Muito além de um caminho:
vida!
Passos ansiosos
nem sempre pensados;
Pés pesados no chão.
Viver é dádiva!
Fulminante o sol se põe
como a brisa da praia
Vive-se o instante!
Faltaram infinitos.
A vida nunca para!
Viver é ser!
Final
Uma pomba, inocente
pousa sobre um túmulo
Os corpos estão aqui,
- suponho -
Onde estarão suas almas?
Desconfiada me observa.
Estou vivo!
- Grito.
Eu fico.
Ela voa...
Busca o montanhoso
ponto do Condor
iluminado pelo sol
Vai tornar-se alma.
Pés calmos não avançam
e a estrada os vence.
Que caminhos percorrem?
Cansados levam os olhos
a ver misérias humanas
criadas pelo homem.
Um olho olha,
o outro cala.
A lágrima ...
Tão duro construir
a paz!
Repetem-se os passos
- O anexo não salvou Anne -
Nada se salva
O mundo acaba
A humanidade é a mesma.
Ao final da tarde penso em um poema,
mas me lembro de que não comprei leite
e corro até a padaria
Amanhã a conta da água
e depois a da energia
e sábado tem o aluguel
E domingo tem a fome
e segunda tem a fome
e sempre tem a fome
Em um dia o dinheiro some,
o poema falece,
os olhos tristes
veem outro dia amanhecer.
Se for caminho
ei de enfrentá-lo
pois a fé dá força
para a paz reinar
Se o que eu desejo
for inalcançável
a minha crença
manter-se-á inabalável
Se faltar brilho
um céu de estrela
pintarei ligeiro
para me iluminar.
A minha mãe rezava,
malemal me lembro
O vento forte
Temporal
Frio
Chuva
Folhas perdidas...
A madeira da casa gemia
tremia em nós o anseio,
mamãe rezava;
Tenho certeza!
Raios luminosos
Insegurança escura
Mamãe tinha fé:
- Santidade,
no altar da minha saudade!
As reticências ainda dormem
nas ruínas das destruições
do tempo estupido e visceral
Antenas anônimas captam
ruídos ruidosos da rua e as
câmaras indolentes
filmam a metrópole aflita
Respingos de caos e sombras
no muro baleado – imóvel -
grafitado de aflições efêmeras
ante os trilhos do destino
Só os egos não veem os fósseis
- Não só Judas, nem só Gení –
Empáfia máfia repugnante:
quem manda pode?
Sobre o amanhã:
- Tudo é igual, nada vejo;
Pouco sinto,
nada sei
Talvez meus olhos amanheçam cheios
e meu sorriso venha a óbito
ao escutar
o grito sofrido dos homens
em brados por justiça.
Mundo ingrato!
A vida traz o inesperado
- Gol olímpico –
Luas aluadas
Sombras que amanhecem
O rio sobe a montanha
em andaimes a espiá-la
e desliza em lágrimas
Vive e cultiva a flor
- Da pele -
Espinha e sente
o odor
da dor que dói
silenciosa
Acena ao divino
num flash de fé
Adormece leve
escutando o coração
Em paz…
Lembranças enfileiradas,
balançadas
na cadeira de palha
de pernas quadradas.
O olhar fixo na estrada
Algum movimento...
- Vento – e mais nada!
O tempo não avança
nesta distância
- Isolamento
Espera demorada.
O azul do céu
- Nos olhos -
aguardando...
Para eu ser feliz
bastam-me bons amigos,
uma morada de versos
rodeada de inspirações...
Uma corda no violão,
canções de fé e otimismo,
uma vertente de benquerença
e apreços no coração...
O barulho da natureza,
o som da poesia em meus ouvidos
e a certeza de que as amizades
são abraços de gratidão.
Caminhando desatento
sem hora, sem rumo
lentamente;
O que importa?
Coração aquietado,
bolsos cheios de mãos,
preso ao desejo de assim não ser:
Silencioso
Ausente
Invisível
Incrédulo
Não há vida
nas ruas...
Nem no íntimo
do andarilho.
A imaginação atemática:
razão em equações enigmáticas,
versos perdem a rima,
grafias fonêmicas anímicas
sem acentuar nada da alma.
Sensibilidade dorme esquecida
Sem sonhos
Sem poesia
Sem vida
A estrela que não brilhou
A semente que não germinou
A flor que o veneno queimou
O ponto cego
O atoleiro inesperado
O vento frio da madrugada
A parte íngreme da estrada
O lixo que o cachorro virou
A carta que voltou
A luz que se apagou
O nada
A vaga negada
O intruso da fruta estragada
Nota destoada
O dente que dói
A mosca da feijoada
Ausência não sentida
Nascer nasceu,
mas nunca teve vida.
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