O Amor Esquece de Comecar Fabricio Carpinejar
Onde a ignorância (falta de informação) atinge níveis muito altos, todo tipo de barbárie pode e deve ser esperada e combatida.
Por baixo da pele da história correm as veias de Londres, eu fui a luz no meio de tanta treva, e nunca tantos dependeram de um único homem".
E que graça teria a vida se nos desse fardo leve para carregar? É o peso que mede o valor da bagagem...
As impressões digitais
Eu nasci e cresci debaixo das estrelas do Cruzeiro do Sul.
Aonde quer que eu vá, elas me perseguem. Debaixo do Cruzeiro do Sul, cruz de fulgores, vou vivendo as estações de meu destino.
Não tenho nenhum deus. Se tivesse, pediria a ele que não me deixe chegar à morte: ainda não. Falta muito o que andar. Existem luas para as quais ainda não lati e sóis nos quais ainda não me incendiei. Ainda não mergulhei em todos os mares deste mundo, que dizem que são sete, nem em todos os rios do Paraíso, que dizem que são quatro.
Em Montevidéu, existe um menino que explica:
— Eu não quero morrer nunca, porque quero brincar sempre.
p. 267
Quando eu já não estiver, o vento estará, continuará estando.
(O ar e o vento, p. 269)
A ventania
Assovia o vento dentro de mim.
Estou despido. Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contra-vento, e sou o vento que bate em minha cara.
p. 270
Que venham as ondas do Passado, confusas e carentes, misturadas as do Futuro, ansiosas e de olhar perdido no horizonte, pois permaneço no mar do Agora, que posso tocar e interagir e onde deposito meus pensamentos mais ternos, minhas razões mais puras e meus sentimentos mais limpos.
Perde quem esconde seus sentimentos, que não os deixa correr como um rio que anseia o mar, pois amarga a falsa pretensão de ser " forte ", quando na verdade é fraco e covarde.
Ah, inveja,
boca sem dente,
amargo que se sente quando se engole o sorriso de lado e o olhar descrente.
O instante de um raio de luz atravessando as trevas era para ela a criação cotidiana do mistério da vida.
A felicidade não reside nos inteligentes.
Independe de dinheiro, local, cultura, raça, cor ou credo, mas está ligada intimamente com o desapego, com a resiliência e com a falta de expectativas, características dos sábios.
Certos confinamentos e clausuras abrem portas e janelas que nem sabíamos existir...as vezes até mesmo necessários porões escuros e sótãos iluminados. Os melhores arrancam o telhado e deixam o sol entrar.
Querem estradas retas e sem declives, mas são as trilhas nas montanhas que nos fortalecem e nos levam a paisagens incríveis.
Sede gratos por aquilo que tens e como vives, caso contrário tudo vos será retirado, até mesmo a tua vida, para que percebas e dê valor.
Muitos que se preocupam tanto com o que entra pela boca menosprezam o que sai e o que entra pelos olhos e não adormece, atormenta. Completam esse triste quadro vendo sem enxergar, ouvindo sem escutar e pegando sem sentir. Tudo é alimento, seja para o corpo, seja para a alma e ambos adoecem.
Não adianta os galhos e folhas subirem e conhecerem a luz do sol, pois só quando as raízes descem as profundezas escuras da terra é que uma árvore pode ser considerada pronta.
