Nao sou uma Pessoa que Espera a Elogiar
Sou mulher o suficiente para te fazer feliz. E você é capaz de me amar o suficiente a ponto de me fazer fechar os olhos para o mundo para ver apenas você?
Eu concordo cem por cento com o que Cristo falou. Aliás, eu tenho dificuldade com isso, porque sou um pecador.
Entretanto, nem por isso sou menos capaz de definir essa sensação, de analisá-la, ou mesmo de ter dela uma percepção integral. Reconheci-a, repito-o, algumas vezes no aspecto duma vinha rapidamente crescida, na contemplação de uma falena, duma borboleta, duma crisálida, duma corrente de água precipitosa. Senti-a no oceano, na queda dum meteoro. Senti-a nos olhares de pessoas extraordinariamente velhas. E há uma ou duas estrelas no céu (uma especialmente, uma estrela de sexta grandeza dupla e mutável, que se encontra perto da grande estrela da Lira) que, vistas pelo telescópio, me deram aquela sensação. Sentindo-me invadido por ela ao ouvir certos sons de instrumentos de corda e, não poucas vezes, ao ler certos trechos de livros. Entre numerosos outros exemplos, lembro-me de alguma coisa num de Joseph GlanvilI que (talvez simplesmente por causa de sua singularidade, quem sabe lá?) jamais deixou de inspirar-me a mesma sensação: "E ali dentro está a vontade que não morre. Quem conhece os mistérios da vontade, bem como seu vigor? Porque Deus é apenas uma grande vontade, penetrando todas as coisas pela qualidade de sua aplicação. O homem não se submete aos anjos nem se rende inteiramente à morte, a não ser pela fraqueza de débil vontade.
Eu te olho sim profundamente, eu sou sim indecifrável, sempre fui um enigma, sempre fui assim, mas daí vem você e descobre meus segredos, decifra meus pensamentos, entende o meu olhar, aprende meus gostos, entende minhas manias… e você ainda me pergunta se eu amo você.
E doidamente me apodero dos desvãos de mim, meus desvarios me sufocam de tanta beleza. Eu sou antes, eu sou quase, eu sou nunca.
Eu sou tarada por poá branco e preto. Fundo preto, bolinhas brancas. Cada bolinha é um elemento, um tempero, uma parte do conjunto, uma peça, um passo, uma evolução, um aprendizado. Cada bolinha é um símbolo. Cada símbolo é uma conquista. Cada conquista é suada, batalhada. Porque o amor é não querer desistir, pelo contrário, é resistir, não arredar o pé, querer ficar, querer tentar. O amor é uma eterna tentativa. É a busca por mais uma bolinha. É querer preencher os espaços, o vazio, o fundo de uma só cor. O amor é poá. E a gente completa ele do jeito que quiser.
Muito bem. Agora sou um homem sem comida, com dois dedos a menos na mão e um a menos no pé do que tinha quando nasci; sou um pistoleiro com balas que não podem disparar; estou passando mal por causa da mordida de um monstro e não tenho medicamentos; tenho água para um dia com sorte; posso conseguir andar talvez uns vinte quilômetros se puser em ação minhas últimas forças. Sou, em suma, um homem à beira de qualquer coisa.
Quem sou? Mulher com garantia e seria ousadia prosseguir:
se madura ou biruta ou grotesca se sensível ou racional ou se mais uma igual a todas nada me define e eu definho, queria tanto ter certeza erro noite e dia, tenho consciência apenas do que faço mal atitudes certas e palavras oportunas: não confirmo existência faço tudo trocado, as avessas, sem jeito, e choro aos montes difícil existir no mundo sem um bom planejamento pessoal ...Eu não sou nada, ninguém, não sou daqui, não assimilei as regras sou uma boa indefinição bem disfarçada e que anda às cegas.
Porque, quanto a mim, sinto de vez em quando que sou o personagem de alguém. É incômodo ser dois: eu para mim e eu para os outros.
Quem sou eu? A gente é o que a gente gosta. A gente é nossa comida preferida, os filmes que a gente curte, os amigos que escolhemos, as roupas que a gente veste, a estação do ano preferida, nosso esporte, as cidades que nos encantam.
Sou tímida e ousada ao mesmo tempo.
Hoje sou luxúria. Espero mãos pesadas, ópio na veia, sol de giz riscado no chão. Quero dividir meus erros, arranhar minha loucura.
(...) nada te posso garantir – eu sou a única prova de mim (...)
Sei o que é o absoluto porque existo e sou relativa. Minha ignorância é realmente a minha esperança: não sei adjetivar. (...) Olhando para o céu, fico tonta de mim mesma.
Por que quero fazer de mim um herói? Eu na verdade sou anti-heroica. O que me atormenta é que tudo é "por enquanto", nada é "sempre".
Redondo sem início e sem fim, eu sou o ponto antes do zero e do ponto final.
Tenho fé em mim mesmo, a minha experiência com Deus é por aí, sou muito pragmático, cético. Sou otimista. Se não fosse, num certo momento eu teria dançado. Mas, em relação à minha vida, o que está acontecendo é uma busca muito grande de felicidade que eu estou encontrando.