Nao sei o que fazer tenho dois Amores

Todo o espírito que existe no mundo é inútil para quem não o tem; ele não tem perspectivas sobre nada e é incapaz de aproveitar as dos outros.

A recordação é activa. Não é um objecto perdido que se encontrou. Ela faz crescer a massa do presente e do futuro.

Censuram-se severamente defeitos à virtude, ao passo que se não poupa indulgência para as qualidades do vício.

Apenas sabemos bem aquilo que não aprendemos.

Sobretudo não temei o povo, ele é mais conservador do que vós.

Devemos esforçar-nos por ser razoáveis, mas não por termos razão; a sinceridade acima da infalibilidade.

Há, sim, um direito do mais sábio, mas não um direito do mais forte.

Afirmar que os nossos êxitos são devidos à Providência e não à habilidade, é uma esperteza mais para aumentar, aos nossos olhos, a importância desses êxitos.

Não há prazer que dure se não for reanimado pela variedade.

O mundo julga-nos, não pelo que somos, mas pelo que parecemos ser.

A liberdade não é nada quando todo o mundo é livre.

Digo que quando se tem espírito demais é pior do que não ter nenhum.

No amor não há desastre maior do que a morte da imaginação.

Não damos nada tão generosamente como os conselhos.

GRAUS NEGATIVOS

Encontramo-nos numa festa que não gosta de nós. Ao fim, a festa deixa cair a sua máscara e mostra-se tal como é: uma estação de manobras. Colossos gelados estão de pé, sobre os carris, no nevoeiro. Um pedaço de giz riscou as portas da carruagem.

Não se devia mencionar, mas aqui há muita violência reprimida. Por isso os pormenores são tão pesados. E é tão difícil vermos o outro, que também existe: um raio de sol reflectido que se movimenta por cima do muro da casa, que desliza através do bosque ignorado, de rostos cintilantes; uma frase bíblica que nunca se escreveu: "vem até mim, pois eu sou contraditório como tu".

Amanhã trabalharei numa outra cidade. Eu corro para lá, através da madrugada que é um grande cilindro negro e azul. Oríon está pendurada por cima da geada. Crianças num montão de mudez esperam pelo autocarro, crianças pelas quais ninguém reza. A luz cresce, pouco a pouco, como o nosso cabelo.

entre os vinte cimos nevados
nada movia a não ser
o olho do pássaro preto

Em arte não nos sujeitamos às leis do mundo, mas àquelas da arte, que está vinculada às leis da consciência.

Como saber que se falhou, se não sabendo como não falhar? Mas então porque se falha? E se saber que se falha é realmente ignorar como se não falharia? Sabemos de outros que não falharam, porque sabemos então neles o que é não falhar.

A existência não tem razão de ser, está acima de todas as razões.

Se nós invejamos os outros, eles por sua vez nos invejarão: o mal da inveja não conhece limites.