Nao Importa o que eu Diga

Não procures proveitos desonestos, os proveitos desonestos são perdas.

Pois bem, que é que o autor coloca nos seus livros? O que ele não é e gostaria de ser, como nos sonhos. Os livros são desejos recalcados, atos falhos.

O trabalho não é uma maldição, mas a labuta é.

A fatalidade não é senão aquilo que nós queremos.

Por melhor que digam de nós, não nos dão nenhuma novidade.

O que é persuasivo é o caráter de quem fala e não a sua linguagem.

O coração não tem rugas.

A experiência que não dói pouco aproveita.

Fala-se pouco quando a vaidade não faz falar.

Se nos é impossível permanecermos puros, não tentemos ser artistas.

Somente a curiosidade não envelhece conosco e fica sempre criança.

Os ricos pretendem não se admirar com nada, e reconhecem, à primeira vista, numa obra bela o defeito que os dispensará da admiração, um sentimento vulgar.

Não sabes qual dos teus próximos influi mais em ti, mas seguramente não é aquele que tens mais perto e vês e ouves amiúde.

O futuro não pertence a ninguém. Não existem precursores, apenas existem retardatários.

Como ao bem ocupado não há virtude que lhe falte, ao ocioso não há vício que não o acompanhe.

Um homem a quem ninguém agrada é bem mais infeliz do que aquele que não agrada a ninguém.

Quando não se tem imaginação morrer é pouca coisa, quando se tem, morrer é demasiado.

O belo é o supérfluo, o que não tem o seu fim em si, a flor da vida.

Conserva-se por muito tempo o primeiro amante, quando não se toma um segundo.

Aqui não andam só os vivos - andam também os mortos. A humanidade é povoada pelos que se agitam numa existência transitória e baça, e pelos outros que se impõem como se estivessem vivos. Tudo está ligado e confundido. Sobre as casas há outra edificação, e uma trave ideal que o caruncho rói une todas as construções vulgares. Debalde todos os dias repelimos os mortos - todos os dias os mortos se misturam à nossa vida. E não nos largam..