Nao Importa o que eu Diga

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A porta está fechada, não adianta bater. E foi tão bom constatar que não me atinge mais. Não me entristece, não me aborrece, não me tira o sono. Passa por mim. Mas, não me atravessa. Foi-se o tempo. E foi-se o tempo faz tempo!

Quem não sabe ouvir não escuta os conselhos que a vida nos dá.

Não importava se tinha razão, devia me calar. No meu tempo, ser educado era ficar em silêncio. Na mesa, não podia emitir som que não fosse da natureza do garfo e da faca. Criança aceitava, não falava. Como um bicho doméstico, um galo, um cachorro, um gato, um canário belga. Encabulava quando raspava a louça, arranhava as rodas ao estacionar no meio-fio do prato. Meu pai falava sem parar dos negócios, dos vizinhos, do futebol e eu escutava com continência e louvor. Nunca me passou pelos ouvidos nenhuma pergunta inteligente para fazer, até porque as perguntas inteligentes surgem das bobagens e não corria riscos. Se as conversas tivessem sido gravadas na época, descobriria que não apareci na própria infância. Entrava com um "obrigado" e saía no "com licença". Não questionava os hábitos, preocupado em me ver livre o mais rápido possível daquela cena. Não sabia como viver para me sentir morto. Não sabia como morrer para me sentir vivo. Meus bolsos cheios de bolas de gude para acompanhar as mãos. Os bolsos do meu pai cheios de chaves para desafiar as mãos. Os bolsos de minha mãe cheios de pedras do terço para esquecer as mãos. A sobremesa era sagu ou arroz de leite, que comia com vagar e ódio, já que consistia na mesma merenda da escola. Passava o dia comendo sagu ou arroz de leite. A canela em cima do doce me arrepiava de careta, emburricava a respiração. Me censurava antes da censura, me proibia antes da negação, me cavava antes de ser enterrado. Pensativo como quem se penteia no espelho. Prestativo como quem tem culpa por crescer. Nas saídas em família, permanecia igualmente calado, omisso, aceitando que as pessoas secassem seus dedos no meu rosto em cada encontro. Quando recebia um elogio público de comportado, o pai sorria, a mãe sorria, e bem que tentava sorrir, mas os dentes eram de leite e logo cairiam. Nunca levantei a voz. Falava para dentro, com a cabeça inclinada de cavalo cansado. Tinha serenidade porque não encontrava outro sentimento para colocar em seu lugar. Não havia estômago para chegar ao fim da esperança. Não estava escuro para me defender com vela, muito menos claro para procurar sombras. Conhecia de cor o ato de contrição, apesar da dificuldade de inventar pecados. A humildade lembrava covardia, o que explica minha vontade insana de fazer calar esse tempo, o meu tempo de camisa fechada até o último botão.

Vou deixar você procurar em todas o que você só vai achar em mim, mas não vou te esperar. Quando você perceber, será tarde demais. Mas eu deixo você olhar, porque você é lindo calado e eu falo para um plateia inteira. Se algum dia Manequim for objeto de palco, a gente se encontra.

A dor da gente não sai no jornal.

Chico Buarque

Nota: Trecho da música Noticia de jornal.

Ah! minha Dinamene! Assim deixaste

Ah! minha Dinamene! Assim deixaste
Quem não deixara nunca de querer-te!
Ah! Ninfa minha, já não posso ver-te,
Tão asinha esta vida desprezaste!

Como já pera sempre te apartaste
De quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te
Que não visses quem tanto magoaste?

Nem falar-te somente a dura Morte
Me deixou, que tão cedo o negro manto
Em teus olhos deitado consentiste!

Oh mar! oh céu! oh minha escura sorte!
Que pena sentirei que valha tanto,
Que inda tenha por pouco viver triste?

Toda a minha alma lhe pertence. Se minha inteira existência não fosse sua, a harmonia do meu ser ter-se-ia perdido e eu teria morrido.

Um homen não é mais que o outro, apenas um faz mais que o outro.

Então, erga a cabeça, menina. Você ainda vai longe. Você é linda do seu jeito, pois Deus não erra.

Sempre fui sentimental e nunca levei adiante relações em que não estivesse emocionalmente envolvida, e por mais que eu pareça ser durona, é apenas fachada. Só eu sei o quanto já sonhei em ser uma princesa resgatada da torre de um castelo.

Há pessoas as quais não é fácil conviver, mas que jamais se podem abandonar.

Thomas Mann
Doutor Fausto

Amor Incondicional

Cuide para que não queiras receber mais do que tens a oferecer, por que há coisas que exigem extrema reciprocidade para que sejam possíveis.

Para que um litro de água preencha um vaso, é preciso que este vaso tenha espaço para aquele um litro de água ou mais, pois se ele não tiver espaço suficiente, ele transbordará e a água sofrerá.

De modo semelhante, a água precisa estar na medida certa que o vaso comporta, ou deixará espaço vazio, e aí será o vaso que sofrerá.

Com teu próximo é preciso proceder da mesma forma: se você quer viver um imenso Amor, é preciso que cultives um espaço imenso em teu coração.

E, se mais que isso, você deseja um Amor incondicional, o teu Amor precisa ser incondicional primeiro – sempre, e sobre todas as coisas, ou ele deixará de ser incondicional...

Seria apenas mais uma história, se não tivesse tocado a alma.

Mau Despertar

Saio do sono como
de uma batalha
travada em
lugar algum

Não sei na madrugada
se estou ferido
se o corpo
tenho
riscado
de hematomas

Zonzo lavo
na pia
os olhos donde
ainda escorre
uns restos de treva.

Saudades não se resolvem, mas o desespero não honra quem partiu.

É que Narciso acha feio o que não é espelho.

Preciso aprender a não precisar de ninguém. É difícil, porque preciso repartir com alguém o que sinto.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Ao correr da máquina.

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Não expressar tudo que se pensa; ouvir a todos mas falar com poucos; ser amistoso mas nunca ser vulgar; valorizar amigos testados mas não oferecer amizade a cada um que aparecer na sua frente; evitar qualquer briga, mas se for obrigado a entrar numa que seus inimigos o temam; usar roupas de acordo com a sua renda sem nunca ser extravagante; não emprestar dinheiro a amigos para não perder amigos e dinheiro; e por fim ser fiel a ti mesmo e jamais serás falso com ninguém!

Morte, não te orgulhes, embora alguns te provem
Poderosa, temível, pois não és assim.
Pobre morte: não poderás matar-me a mim,
E os que presumes que derrubaste, não morrem.
Se tuas imagens, sono e repouso, nos podem
Dar prazer, quem sabe mais nos darás? Enfim,
Descansar corpos, liberar almas, é ruim?
Por isso, cedo os melhores homens te escolhem.
És escrava do fado, de reis, do suicida;
Com guerras, veneno, doença hás de conviver;
Ópios e mágicas também têm teu poder
De fazer dormir. E te inflas envaidecida?
Após curto sono, acorda eterno o que jaz,
E a morte já não é; morte, tu morrerás.

Não existe cedo ou tarde, não existe tempo certo ou errado. As coisas acontecem quando têm que acontecer, cada uma no seu tempo e nada por acaso.