Nao Importa o que eu Diga

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Parei um pouco de escrever para olhar pela janela e principalmente para ver se eu conseguia deter o pensamento. Acho que consegui. Porque quando começo assim não consigo mais parar, e não quero ouvir eles dizendo que não tem remédio, que eu não tenho cura, que você não existe. Depois eu paro e fico olhando a porta por onde você não entra, o telefone por onde você não fala, e então penso que talvez eles tenham razão, que talvez você não venha mais, e com dificuldade consigo até pensar que talvez você não exista mesmo. Mas não é possível, eu sei que não é possível: se estou escrevendo para você é porque você existe.

Eu preciso muito deixar acontecer o momento da renovação, trocar de pele, mudar de cor.

Eu protegi o teu nome por amor.
Em um codinome, Beija-flor...

E é só amor que eu respiro.

"E eu escrevo um parágrafo e corro pra ver se tem e-mail. E eu escrevo uma linha e corro pra ver se tem mensagem de texto. E eu não escrevo nada e também não corro, apenas deixo você chegar aqui do meu lado, em pensamento. E me pego sorrindo, sozinha. E me pego nem aí para todo o resto. Mas sabe o que acontece enquanto isso? Enquanto eu não me movo porque estou lotada de você e me mover pesa demais? O mundo acontece. O mundo gira. As pessoas importantes assinam contratos, ganham dinheiro. As pessoas simples lutam por um lugar na condução, um lugar no mundo. Estão todos lutando. Estão todos ganhando dinheiro. Estão todos fazendo algo mais importante e mais maduro do que suspirar como uma idiota e só pensar em você. Eu tenho muita inveja dessas pessoas maravilhosas, adultas, evoluídas e espertas que conseguem separar a hora de ir a uma reunião de condomínio com a hora de desejar alguém na escada do condomínio. A hora de marcar o dentista com a hora de engolir alguém. A hora de procurar a palavra “macambúzio” no dicionário com a hora de se perder com as suas palavras que de tão simples parecem complexas. A hora de ser inteira e a hora de catar meus pedaços pelo mundo enquanto você dá sinais desmembrados. Eu não consigo nada disso, eu me embanano toda, misturo tudo, bagunço tudo. A minha única dúvida é se sou a única idiota a fazer isso comigo ou se sou a única idiota a admitir que faço isso comigo."

Como se eu estivesse por fora do movimento da vida.

É incômodo ser dois: eu para mim e eu para os outros.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Somos muito parecidos, de jeitos inteiramente diferentes: somos espantosamente parecidos. E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim.

Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também.

mor, eu me lembro ainda
Que era linda, muito linda
Um céu azul de organdi
A camisola do dia
Tão transparente e macia
Que eu dei de presente a ti
Tinha rendas de Sevilha
A pequena maravilha
Que o teu corpinho abrigava
E eu, eu era o dono de tudo
Do divino conteúdo
Que a camisola ocultava
A camisola que um dia
Guardou a minha alegria
Desbotou, perdeu a cor
Abandonada no leito
Que nunca mais foi desfeito
Pelas vigílias de amor

Sabe, eu me sinto como se tivesse acabado. Parece que nada mais vai ser bonito outra vez.

(...) Está tudo partido, fragmentado, e eu acho que a grande esperança seria a de voltarmos a ser um. Ou sermos todas as coisas numa só, que é o que não conseguimos.

Eu sorri. “Ele é um pouco novo demais pra mim”. A carranca de Jacob se aprofundou mais ainda. “Ele não é assim tão mais novo do que você. É só um ano e alguns meses.”
Eu tinha uma sensação de que não estávamos mais falando de Quil. Eu mantive minha voz leve, zombeteira. “Claro, mas considerando a diferença de maturidade entre rapazes e garotas, não temos que contar como a idade dos cachorros? O que isso me torna, uns doze anos mais velha?”
Ele sorriu, revirando os olhos. “Ok, mas se vamos começar a ser seletivos assim, você tem que contar o seu tamanho também. Você é tão pequena que teria que descontar uns dez anos do seu total”.
Quando nós chegamos em La Push, eu estava com vinte e dois anos e ele estava com trinta - ele definitivamente estava colocando a balança a favor das habilidades dele.

Eu queria dizer uma coisa.
(...) E você já sabe... Mas acho que devo dizer assim mesmo. (...)
- Estou apaixonado por você, Bella. - disse Jacob numa voz segura e firme. - Bella, eu te amo. Quero que me escolha, e não a ele.

Stephenie Meyer
Eclipse - Capítulo 14

"Bem, pelo menos eu espero que você aproveite, pelo menos. Já viu algo que você gostasse?", eu caçoei, balançando a cabeça na direção de um grupo de garotas alinhadas na parede com os enfeites.
"Sim", ele suspirou. "Mas ela está acompanhada".
Ele olhou pra baixo pra me olhar nos olhos só por um segundo - então nós dois desviamos o olhar, envergonhados.
"Aliás, você está muito bonita", ele acrescentou, timidamente.

"Jake? Você está bem?", eu perguntei ansiosamente.
Eu dei meio passo na direção dele, e então Edward me agarrou e me puxou de novo pra trás do seu próprio corpo. "Cuidado! Ele não está sob controle", ele me avisou.
Mas Jacob já era algo de si mesmo novamente; só os braços dele estavam tremendo agora. Ele olhou pra Edward com puro ódio. "Ugh. Eu nunca machucaria ela".

Eu nunca vou ver ninguém mais, Bella. Eu só vejo você. Até quando eu fecho meus olhos e tento ver outra coisa. Pergunte ao Quil ou Embry, isso deixa eles todos loucos.

Mais uma festa

Um a um foram chegando, e eu somando a quantidade de amor que tenho no mundo. Mais ou menos 50 pessoas foram, somando com mais um monte de e-mails e mais um monte de ligações, é… até que sou bem amada. Calma, você é amada, tá vendo? Não precisa mais ficar em casa de pijama assistindo Woody Allen, você é amada. É que dá uma preguiça de existir.
Comemoro que estou viva, no meio da confusão que é comemorar ter amigos, comemorar a blusa nova, comemorar que tenho emprego e, por isso, amigos e roupa nova, comemorar que fiz progressiva na franja, comemorar que não sou um alien e consigo socializar, comemorar que existo dentro de uma comunidade que me aceita e até sai de casa pra tentar achar uma ruazinha difícil pra caramba.
Sorri em todas as fotos, esgotei minhas piadas, desfilei abraços, toquei em muita gente, ganhei alguns presentes, fiz bem meu papel de “olha que legal, estou aqui, mais um ano se passou e eu continuo achando que vale a pena estar aqui”.
Um a um vão embora, e eu somando a quantidade de amor que vai embora.
Sobram os loucos e suas insônias, sobra o garçom cansado que não agüenta mais os loucos e suas insônias. Sobra uma latinha num canto, seis cadeiras solitárias formando uma rodinha animada, muitas bitucas que insinuam um animado papo que não existe mais. Sobro eu, novamente.
A vida, a noite, as festas, tudo continua igual. O mesmo fedor de cigarro no cabelo, o mesmo homem bonito me olhando de longe, o mesmo homem bonito que, quando chega perto e abre a boca, eu gostaria que tivesse permanecido longe. O mesmo ânimo em pertencer, a mesma alegria em comemorar, a mesma festa em se encontrar. Mas ninguém sabe exatamente ao que pertence, o que comemora e muito menos o que encontra.
Atravesso a rua sozinha, carregando uma sacola cheia de presentes e cartinhas. Entro sozinha no meu carro, ouço de novo a música da semana, sigo em frente. Carrego o afeto que ganhei numa sacolinha rosa, mas dentro do meu coração é sempre esse saco furado e negro.
Por mais que todas as terapias do mundo, todas as auto-ajudas do universo e todos os amigos experientes do planeta me digam que preciso definitivamente não precisar de você, minha alma grita aqui dentro que, por mais feliz que eu seja, a festa é sempre pela metade.
É você quem eu sempre busco com minha gargalhada alta, com a minha perdição humana em festejar porque é preciso festejar, com a minha solidão cansada de se enganar.
Não agüento mais os mesmos papos, os mesmos cheiros, as mesmas gírias, os mesmos erros, a volta por cima, o salto alto, o queixo empinado, o peito projetado pra frente. Não agüento mais fingir com toda a força do mundo que tudo bem festejar sem saber quem é você.
Eu não acredito mais em sumir do país, em trocar de emprego, em mudar de religião, em ficar em silêncio até que tudo se acalme, em dormir até tarde, no fim de tarde na Praia Preta, na nova proposta, no novo projeto, no super livro, no filme genial, na nova galera, na academia moderna, no carinha até que bacana que gosta de jazz e restaurantes charmosos, no curso de história, em comprar o novo CD mais master animado do mundo, em ler John Fante longe de tudo, em ser dondoca, em fazer progressiva, em fazer boxe, em fazer torta de verdura, em ser batalhadora, em ser fashion, em não ser nada. Mas eu continuo acreditando na gente, eu continuo acreditando que tudo sem você é distração e tudo com você é vida.
Como eu queria agora ir para a sua casa, deitar na sua cama, ouvir a sua voz, esquentar meu pé na sua batata da perna. Como eu queria saber seu nome, seu cheiro, sua rua.
Assim como um dia um samba saiu procurando alguém, este texto tem a missão de sair em sua busca. Eu não escrevo por dinheiro, vaidade, pretensão ou inteligência. Eu escrevo porque eu sei que é assim que vou te encontrar. Eu escrevo porque não posso mais agüentar que a festa acabe.

Será horrível demais querer se aproximar dentro de si mesmo do límpido eu? Sim, e é quando o eu passa a não existir mais, a não reivindicar nada, passa a fazer parte da árvore da vida – é por isso que luto por alcançar. Esquecer-se de si mesmo e no entanto viver tão intensamente.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Ele me conta das meninas, eu conto dos caras. Eu acho engraçado quando ele fala “Ah, enjoei, ela era meio sem assunto” e olha pra mim com saudade. Ele também ri quando eu digo “Ah, ele não entendeu nada” e olho pra ele sabendo que ele também não entende, mas pelo menos não vai embora. Ou vai, mas sempre volta. Não temos ciúmes e nem posse porque somos pra sempre. Ainda que ele case, more na Bósnia, são quase quinze anos. Somos pra sempre.