Não Existe Dificuldades
Você não explica o amor, mas tem notícias de que algo assim existe; E é isso que dá sentido para a vida humana.
Sentir-se sufocada, sem saber o que te sufoca;
Sentir-se só, mesmo sabendo que existe alguém ao seu lado;
Viver, sem saber o sentido da vida;
Buscar algo que não se sabe o que, e onde encontrar;
Tentar falar, sem palavras;
Gritar e saber que ninguém te houve;
Saber as respostas para as questões dos outros e não saber a respostas para as suas próprias questões;
Esconder, quando se quer ser vista;
Oferecer aos outros apenas palavras e, não sentimentos;
Estar...e não ser;
Olhar para o passado e ver sempre as mesmas coisas;
Ter apenas uma história para contar;
Por acaso você acha que a luz somente existe enquanto a está vendo? Não, é você que não existiria se a luz não o visse.
O efeito que você tem nos outros é a moeda mais forte que existe.
Não existe nada mais pesado que a compaixão. Mesmo nossa própria dor não é tão pesada quanto a dor cossentida com outro, por outro, no lugar de outro, multiplicada pela imaginação, prolongada por centenas de ecos.
Existe uma diferença entre ser vítima e se fazer de vítima. Somos todos suscetíveis a nos tornar vítimas de alguma maneira. Todos sofremos algum tipo de aflição, desgraça ou abuso causado por pessoas ou circunstâncias sobre as quais não temos controle. Isso é ser vítima. É algo que vem de fora. Em contrapartida, o complexo de vítima vem de dentro. Ninguém pode fazer você se sentir inferior a não ser você mesmo. Nós nos tornamos vítimas não pelo que acontece conosco, mas quando escolhemos nos agarrar ao sofrimento.
É bom lembrar que contra o preconceito, a intolerância, a mentira, a tristeza, já existe vacina: é o afeto. É o amor.
Criar o que não existe ainda deve ser a pretensão de todo sujeito que está vivo.
É preciso uma coincidência qualquer para que o amor se instale. Existe um certo milagre nos encontros. Não é tolo dizer que o amor é sagrado.
TERÇA-FEIRA, 21 DE AGOSTO DE 2007
Existe sempre uma coisa Ausente - Caio F.
Paris — Toda vez que chego a Paris tenho um ritual particular. Depois de dormir algumas horas, dou uma espanada no rodenirterceiromundista e vou até Notre-Dame. Acendo vela, rezo, fico olhando a catedral imensa no coração do Ocidente. Sempre penso em Joana d’Arc, heroína dos meus remotos 12 anos; no caminho de Santiago de Compostela, do qual Notre-Dame é o ponto de partida — e em minha mãe, professora de História que, entre tantas coisas mais, me ensinou essa paixão pelo mundo e pelo tempo.
Sempre acontecem coisas quando vou a Notre-Dame. Certa vez, encontrei um conhecido de Porto Alegre que não via pelo menos á2o anos. Outra, chegando de uma temporada penosa numa Londres congelada e aterrorizada por bombas do IRA, na época da Guerra do Golfo, tropecei numa greve de fome de curdos no jardim em frente. Na mais bonita dessas vezes, eu estava tristíssimo. Há meses não havia sol, ninguém mandava notícias de lugar algum, o dinheiro estava no fim, pessoas que eu considerava amigas tinham sido cruéis e desonestas. Pior que tudo, rondava um sentimento de desorientação. Aquela liberdade e falta de laços tão totais que tornam-se horríveis, e você pode então ir tanto para Botucatu quanto para Java, Budapeste ou Maputo — nada interessa. Viajante sofre muito: é o preço que se paga por querer ver “como um danado”,feito Pessoa. Eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio.
Enrolado num capotão da Segunda Guerra, naquela tarde em Notre-Dame rezei, acendi vela, pensei coisas do passado, da fantasia e memória, depois saí a caminhar. Parei numa vitrina cheia de obras do conde Saint-Germain, me perdi pelos bulevares da le dela Cité. Então sentei num banco do Quai de Bourbon, de costas para o Sena, acendi um cigarro e olhei para a casa em frente, no outro lado da rua. Na fachada estragada pelo tempo lia-se numa placa: “II y a toujours quelque choe d’abient qui me tourmente” (Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta) — frase de uma carta escrita por Camilie Claudel a Rodín, em 1886. Daquela casa, dizia aplaca, Camille saíra direto para o hospício, onde permaneceu até a morte. Perdida de amor, de talento e de loucura.
Fazia frio, garoava fino sobre o Sena, daquelas garoas tão finas que mal chegam a molhar um cigarro. Copiei a frase numa agenda. E seja lá o que possa significar “ficar bem” dentro desse desconforto inseparável da condição, naquele momento justo e breve — fiquei bem. Tomei um Calvados, entrei numa galeria para ver os desenhos de Egon Schiele enquanto a frase de Camille assentava aos poucos na cabeça. Que algo sempre nos falta — o que chamamos de Deus, o que chamamos de amor, saúde, dinheiro, esperança ou paz. Sentir sede, faz parte. E atormenta.
Como a vida é tecelã imprevisível, e ponto dado aqui vezenquando só vai ser arrematado lá na frente. Três anos depois fui parar em Saint-Nazaire, cidadezinha no estuário do rio Loire, fronteira sul da Bretanha. Lá, escrevi uma novela chamada Bem longe de Marienbad , homenagem mais à canção de Barbara que ao filme de Resnais. Uma tarde saí a caminhar procurando na mente uma epígrafe para o texto. Por “acaso”, fui dar na frente de um centro cultural chamado (oh!) Camille Claudel. Lembrei da agenda antiga, fui remexer papéis. E lá estava aquela frase que eu nem lembrava mais e era, sim, a epígrafe e síntese (quem sabe epitáfio, um dia) não só daquele texto, mas de todos os outros que escrevi até hoje. E do que não escrevi, mas vivi e vivo e viverei.
Pego o metrô, vou conferir. Continua lá, a placa na fachada da casa número 1 do Quai de Bourbon, no mesmo lugar. Quando um dia você vier a Paris, procure. E se não vier, para seu próprio bem guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo.
O Estado de S. Paulo, 3/4/1994
Caminhos cruzados
Existe uma linha invisivel que une aqueles destinados a se encontrar, não há coincidências na vida, tudo conspira, tudo passa.
Num eterno ciclo, vamos ao abismo da tristeza ao ápice da felicidade.
Perdemos o passado a cada segundo e construimos o futuro sem termos conciência disso.
A distância é apenas um pretexto para que nosso reencontro seja mais aprazível.
Entre Mim e Ela
Entre mim e ela
Existe um oceano
Peixes, algas, cavalos marinhos
E estrelas do mar.
Entre mim e ela
Existe um céu
Inúmeras estrelas
E uma lua minguante.
Entre mim e ela
Existe um multiverso
Inúmeros cometas, planetas
E um imenso vácuo.
Entre mim e ela
Existe uma multidão
Inúmeras vidas
E tanta gente em depressão.
Entre mim e ela
Existe a filosofia
Kant, Nietzsche, Hume, Platão
Poucas certezas e inúmeras indagações.
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