Nao estou Sozinha
COMO ENTENDER
Como entender o mundo se estou há tanto tempo longe dele? Como entender se nossa relação ficou um pouco a mercê das mudanças repentinas?
Estou tentando me moldar de alguma forma. Tentando segurar sem que as mudanças interfiram no meu entender e os valores atemporais oscilem desestruturando toda uma contextura resistente. Há um desentendimento entre o mundo e eu.
Talvez eu não queira essa mudança. Talvez o mundo e eu estejamos querendo que tudo seja moldado para um único e absoluto caminho de certezas concretas.
Talvez nada seja do jeito que espero. Talvez esta insegurança seja apenas uma linha imaginária. É tudo tão vago que não sei por onde começar a desenlear todo esse novelo de incertezas.
Preciso de tempo. Tempo para me reestruturar e analisar toda essa mudança que não consegui alcançar.
O mundo mudou muito rápido que se eu tentar seguir seu ritmo sem um planejamento ou uma parada, há uma grande chance de eu não vencer esta jornada.
Mesmo quando tudo ao meu redor pede calma, o mundo não para. Ele gira sem parar, sua velocidade interfere involuntariamente no meu interno e eu preciso acompanhá-lo.
Estou tentando me ajustar e sobreviver a este novo e desconhecido mundo cheio de mistérios.
Estou procurando alguém a quem eu possa desesperadamente derramar todo esse meu conhecimento da vida. Dar esta minha vivência. Dar em enormes doses, o que eu sinto, o que eu penso e o que eu vejo. Dar generosamente tudo o que aprendi neste dia a dia intenso. Não quero ficar apenas pra mim, toda esta enorme vontade de viver. Quero dividir, como quem divide metade de um chocolate.
Estou a cada dia mais permissiva. Ando me doando à vida. Doando-me ao amor. Permitindo que coisas novas entrem. Novas aventuras, novas experiências. A felicidade tem estado ao meu lado diariamente.
Tudo o que estou passando, vem de um período considerável crítico e que pensei que tivesse superado. Estou lutando bravamente para me livrar e tentar viver uma nova vida.
Meu lado mulher corajosa e firme nos meus propósitos está um pouco abalado. Estou buscando uma forma para entender e superar tudo isto. Se vou conseguir não sei, mas tentarei de todas as formas.
"Percebo que estou lutando contra um vício peculiar, no qual ser uma inspiração para os outros é minha droga, pois temo que qualquer falha transforme-me em um monstro."
"Sofrimento, sofrimento, sofrimento. Eu estou sofrendo com sofrimentos alheios. Eu deveria, ao menos uma vez, fazer alguém sofrer. Já sofri demais pelos outros."
Escrever, me dá a sensação de leveza, de bem estar, de harmonia, de purificação. Quando estou escrevendo, estou me vertendo nas páginas brancas e deixando o melhor de mim. Deixando meus segredos nas entrelinhas e um pedaço de mim ao leitor.
Estou num estágio de libertação inconsciente. Conscientemente me encaixo de alguma forma, em algum lugar, não muito distante.
LEI DA VIDA
Há um voo acima de mim
Estou anos à frente de muitas pessoas
Queria poder parar e esperar
Porém, não posso. Não posso parar.
Há um tempo que não para.
Sou forte o suficiente para encarar
Qualquer coisa que atravessar no meu caminho.
O tempo tem pressa e eu também
Quero chegar o quanto antes.
Eu não vou me curvar a nada.
Meu medo se desfaz em brumas.
Minha vida se arrastou pelo chão e
Não consegui me reerguer
Até minhas asas se desdobrarem,
Vou me arrastar,
Vou me arrastar, até onde eu conseguir
Sangrarei eu sei, mas não me importarei
Sei das minhas forças. Superarei tudo.
É assim a lei da vida. A lei da natureza.
ESTOU NO RECREIO
Sofrerei quando a dor se apresentar de fato,
quando a força do ato me atingir sem dó,
por enquanto só vivo e me deixo esvair
no que vem por aí, de surpresa e de susto...
Vou em busca do após e não quero saber
se o terei logo à frente pra fechar meu ciclo,
sei tragar o momento e tê-lo com fervor,
como aquele favor no qual finquei o dente...
Vou atento prá hora das provas finais,
farejando as matérias que chegam no vento
e me fazem querer sempre mais do que vejo...
Morrerei quando a morte não tiver mais freio,
mas estou no recreio, quero jogar bola
e chutá-la nas redes de minhas vivências...
SEGUINDO SEUS PÓLOS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Estou pronto a nevar, se tiver de ser frio;
sendo assim tudo bem, me preparo pra isto;
posso ter pela frente o pior desafio,
mas a sua vontade já tem o meu visto...
Se trouxer uma cruz, aceitarei ser Cristo;
sou exposto ao seu choque; desencape o fio;
seja tudo e também me tornarei um misto
que no fundo é produto natural do brio...
Aprendi a lidar com seus pólos contrários,
com seu rosto e su´alma de muitos sudários
no mistério afetivo do meu sentimento...
Mas me deixe saber das mudanças de fase;
saberei ser espelho se tiver a base
ou noção sustentável do temperamento...
IRMÃOS; UMA SOCIEDADE FANTÁSTICA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Do que mais gosto quando estou entre meus irmãos, é a certeza de estar entre irmãos. Não há entre nós formalidade ou melindre; temor de nos magoarmos por palavra mal posta ou resposta negativa. Nenhuma ideia, por mais longínqua ou dispersa, da hierarquia de muitos clãs que têm os mais distintos conforme a idade, o grau de instrução, a condição econômica e outros itens. A qualquer instante, um dos nove pode gerar um mal entendido, fazer algo irresponsável na opinião dos outros e provocar uma confusão homérica; um bate boca daqueles. Porém, no dia seguinte não haverá mais mágoa; vítima nem algoz; inocente ou culpado. Distância; silêncio; cerimônia.
As nossas conversas nunca se tornam discursos de alguns, palestras ou aulas de outros, lições de sabedoria ou moral de um de nós. Cada qual tem seu jeito, e nem por isso elegemos protagonistas; antagonistas; coadjuvantes; pontas. Todos portam defeitos e qualidades devidamente assumidos, e nossa mãe nos ensinou a jamais classificar a família por méritos, porque mérito é volátil. Se hoje tenho a razão, no dia seguinte a perderei para outro. E se a família vira uma sociedade comum, gueto e nata mudarão de lado a todo instante, o que há de gerar conflitos profundos; guerras ideológicas sem trégua; preconceitos incorrigíveis.
Entre irmãos não há retórica. Regras parlamentares; reivindicações formais. Evocações de leis, direitos, deveres. Irmãos que se amam não são cidadãos entre si. São irmãos. E assim como volta e meia um se excede, quebra o ritmo, apronta poucas e boas e frustra todas as expectativas, tem até o que faz isso com mais frequência. Mas nesse meio não há fiscais. Apontadores. Árbitros nem juízes para julgar e dar veredito. Todos perdoam, mesmo com xingamentos, protestos e juras de que foi a última vez... mas a última vez é infinita, pois irmãos não têm parâmetros, vantagens ou desvantagens. Brio nem vergonha.
Falo apenas dos irmãos que se amam. Não daqueles que se aceitam nos limites da conformidade. Da organização hierárquica e burocrática. Da comunhão de ideias, ideais, visões de vida, sociedade ou credo. Nem dos que se gostam, respeitam e até se unem por acordos e obediências de ocasiões. Se amo tanto estar com os meus irmãos, é porque o nosso amor se reconhece maior do que todas essas besteiras que fazem da família uma vitrine vistosa, porém desnecessária, enganosa e frágil... e porque decidimos, depois de muitos baques da vida, ser exatamente uma família... não propriamente um clã.
