Montanha Russa Marta Medeiros
Respeito.
Tem quem se ache perfeito
acha que nunca pode errar
se acha dono do direito
fala e não quer escutar
não pode ser desse jeito
aquele que quer respeito
também tem que respeitar.
Um só país.
Querem dividir nosso nordeste
fazer de fato a separação
isso me dói no fundo do coração
não aprovo nem mesmo sendo um teste
quem vem de fora aqui também investe
o Brasil tem um povo forte e guerreiro
no meu país ser chamado de estrangeiro
não nasci pra viver esse destino
tenho orgulho em falar sou nordestino
mas amo em dizer sou brasileiro.
Destino sertão!
A seca quando arrocha
não nasce nada no chão
o vento parece tocha
devastando a plantação
a terra vira uma rocha
e a tristeza desabrocha
nas entranhas do sertão!
Sou matuto.
De matuto tenho jeito
isso vem desde menino
já sofri com preconceito
coisa ruim que recrimino
mas me sinto satisfeito
porque bate nesse peito
o coração de um nordestino!
Nosso país.
O Brasil me desaponta
o político virou burguês
aqui tudo se desconta
mas quem gasta são vocês
e a fatura dessa conta
o povo paga todo mês.
Agradecer!
É pouco mas é decente
mesmo assim me sinto bem
o nosso povo é carente
sem reclamar de ninguém
agradeço pelo presente
porque sei que muita gente
nem mesmo esse pouco tem.
Sobre o nordeste.
Ainda tem quem faça guerra
mas não conhece o lugar
nunca ouviu um pé de serra
nem provou um munguzá
não viu as belezas da terra
nem os encantos do mar.
Sem água.
Essa é a imagem que vejo
não há nada que me iluda
só destrói nosso desejo
já virou Deus nos acuda
mas que pena o sertanejo
sofrer assim sem ter ajuda.
A nossa dor.
Seca, sonho e desengano
vida que a fome destroça
nem parece ser humano
onde a lei faz vista grossa
e essa dor do africano
se confunde com a nossa.
Meu sertão.
É bem corrida a cidade
com aquela aglomeração
a comida é pela metade
é muita programação
pode até ter qualidade
mas prefiro a simplicidade
de uma vida no sertão.
Nosso povo.
O Brasil é cheio de falha
se dá bem quem é burguês
o nosso povo trabalha
mas quem recebe é vocês
pra gente só vem migalha
e pro rico só o que calha
é o grosso no fim do mês.
Eu sou.
Sou nordeste brasileiro
em cada palmo deste chão
sou a luz do candeeiro
que ilumina o coração
sou o sangue do vaqueiro
derramado no sertão.
A mesma seca.
Já chegaram aqui com pressa
não acharam um pé de flor
fizeram tanta promessa
em nome do Nosso Senhor
mas de lá ninguém regressa
e eu vendo uma seca dessa
vou seguindo a minha dor.
Minha seca, minha dor.
A seca vem atrevida
não respeita a nossa dor
que machuca a ferida
deste povo sofredor
quanto mais falta comida
mais aumenta o seu valor.
Isso é Brasil.
O nosso dinheiro sumiu
há tempo ninguém recebe
isso é a cara Brasil
não se come e não bebe
o meu prato está vazio
e o governo não percebe.
Terra seca.
Eu mesmo não me iludo
isso é terra renegada
a água vem de canudo
duvido ela ser filtrada
por aqui prometem tudo
mas não vejo chegar nada.
a mesma alma.
Nós temos a mesma graça
filhos do mesmo poder
corpo da mesma vidraça
que se quebra ao bater
a nossa cor traduz a raça
mas a alma conduz o ser.
Cuscuz de milho.
Eu como cuscuz com leite
com charque como também
com picanha no azeite
e carne de sol quando tem
com uma tripinha respeite
no coco ralado é enfeite
cuscuz com tudo faz bem.
Um olhar.
Quando a situação agrava
é bem difícil se sustentar
muitas vezes a língua trava
para o coração se expressar
só não conheço uma palavra
que fale mais que um olhar.
Aqui nasci.
Este aqui é meu destino
é onde me sinto bem
tenho sangue de Virgulino
e desse orgulho sou refém
aqui nasci... sou nordestino
e não nego pra ninguém.
