Mini Textos de Ana Maria Braga
Metamorfose
Abriste a caixa de Pandora
E agora, o que será de mim?
Faça algo que acalante esses males
Que me está a consumir.
Puseste-me neste desespero
Nesta desconfiança bombástica
Neste desconforto intolerável.
Sou essa borboleta pequena
De asas incontroláveis
Incerta dos desejos.
Caça-me com a tua rede entomológica
Tira-me dessa dança louca
A viver atrás de uma da lanterna iluminada.
Quero acreditar na luz e não consigo
Ela pode ser a minha maior inimiga
Mesmo assim a sigo
E na armadilha posso cair.
Desafoga-me dessa desconfiança
Sem arrogância
Com palavras de esperança.
Faça de mim os teus desejos
Não disfarce as verdades com lampejos
Para fazer-me acreditar.
Saia do teu invólucro de lagarta
Transforma-te em borboleta
Venha me beijar.
E agora?
O que devo fazer agora?
Lutar pelo que foi perdido?
Ficar mais pobre de espírito?
Jogar um jogo de cartas?
Empinar pipas na praça?
Movimentar a pedra no xadrez?
Olhar para a calopsita na gaiola?
Ficar por mais tempo livre?
Ler um livro em português?
Dominar a fúria que me consome?
Mirar o míssel para além do horizonte?
Colocar mais dinheiro no cofre?
Mandar flores por e-mail?
Escrever cartas românticas?
Ridicularizar as instâncias?
Fazer mágicas?
Beber uma bebida forte?
Olhar para o teto sem concentração?
Sentir aversão por tudo isso?
Enfrentar a flecha do inimigo?
Com muita coragem
Ficar na forca de frente para a multidão
Sem reverenciar os aplausos e risos à agonia
Que estão a festejar
Com o semblante mais brando
Escutando os risos e aplausos silenciando
Na minha mais sublime sensação
O ápice que se agiganta para minha bem-aventuraça
Que estou a desfrutar.
Prostração
Os teus olhos estão vermelhos.
E por que choras?
Perdeste o teu amor?
Já refletiste porque perdeste?
Achou que tiveste dado tudo de ti
Mas não foi o suficiente?
Agarraste no inútil pensamento
Que o concebido
Já era teu?
Agora achas que ao trocar as fotografias dos porta-retratos
Trará as forças para esquecer?
Olhará para ele
O quê verás?
Não será a nova foto que irá entrar pelas retinas de teus olhos
É a que já está registrada nos teus neurônios.
E todo o enxoval que te acompanha
Terás de queimar ou quebrar?
Faça todas as tuas cenas por agora
Destroçando tudo o que é material.
Estás a te sentir mais leve?
Mas não imaginas que em breve
Tudo que colocares na tona
Irás desaparecer nos rios de Goa
Levados ao mar.
Com o tempo e o oceano revolto
Devolverá os pertences
Devastados nas areias das praias.
Em todas elas encontrarás os pedaços
E toda a fantasia recomeçará.
Não, não é bem assim que te livrarás.
Acho que perdeste o senso
Não poderás reduzir a cinzas as memórias
De tudo o que te fez sonhar.
Diálogo aos celulares a brasileira que ouço todos os dias e, é mais ou menos assim:
Tô no culto falando cum pastô
Cê num vem não?
Tem de vim, ora pra Jesus.
Ai! Só Jesus, pra intender ocê.
Mas se ocê vim, fecha a porta com treta chave
Aí tem muito ladrão drogado.
Dispois, meu namorado vem buscá nóis.
Então nóis vai até ao shopem.
Agente podemos olhá as vitrini.
Dispois ele leva nóis imbora.
Ispera, to ouvindo minha patroa.
- Num sei não onde tá-
Já que ce num sabe se vem
Coloca a comida pra esquentá
E o fango no fono.
Tem cuidado num si quemá.
Aí quando eu chegá
Posso cumê
Lá no shopem e é tudo caro
E nóis num tem dinheiro pra gastá.
Chá
Bebo chá de todos os tipos
Chás para ficar mais calma
Chás para as dores
Chás para tudo,
Mas sempre bastante cética
Da certeza sobre os chás.
Um belo dia resolvi beber um Xá
A partir de então aprendi literalmente,
Que chás são imprescindíveis
Para aliviar todos os males
Dos erros imprevisíveis.
Egoísmo
Queria você sempre aqui
Do jeito que fosse eu queria
Que você continuasse aqui.
Quanta teimosia a minha!
Não compreender a sua dor
A sua agonia,
Só queria que você continuasse aqui
Para que eu tivesse a sua companhia,
Para que eu pudesse compartilhar as minhas palavras
Mesmo que você não compreendesse mais, o que eu dizia.
Eu queria que você ficasse aqui
Só por mim, nem era por você.
Só você sabia o que sentia
E com toda a sua sabedoria
Desafogou a sua dor
Silenciou.
Deixou-me e nem explicou.
E eu egoísta que sou
Ainda choro e grito a te procurar.
Imagino você aí no paraíso
O que deve estar a pensar?
Deve ser sobre a minha insensatez
A minha pouca compreensão
Sobre tudo que você me passou,
Que a vida é assim
Um holocausto dentro do uno.
E eu egoísta que sou
Paralisei na angustia
De não compreender que o lugar onde está
É o mais aprazível
E iremos nos encontrar.
A ordem do silêncio
Talvez seja tarde para ficar pensando
Escrever e, cair em sufrágio o leitor.
Então indago na proposição o silêncio
A não procura da hipótese verdadeira.
Predestinado ao nada fica alguém
Quando o silêncio comanda a minha intuição.
Em conflito eu entraria neste momento,
E provaria do meu rancor.
Essa repugnância logo lhe diria
A montante o seu valor.
Não! Não tenha então esse direito suposto
Que de nada irá adiantar o seu esforço
Sua vaidade não terá razão.
O meu sentimento abortado
Deixou o espaço ao meu lado desbotado
Sem guardião para a minha base.
O que faço agora neste cair da tarde?
Abro a guarda à ocupação.
Do meu amor ao ódio por Beth
Beth, com a sua varanda cheia de pó,
Suas chaves a darem nó
Seu telefone é de dar dó
Seu e-mail é um bagulho só.
E eu aqui tão inútil
Queria ter Beth para mim
Talvez mais, ser Beth,
Com a sua clássica elegância e sabedoria.
Fico a penar
Sonhando com seu baú
Correndo atrás, com atitude ineficaz,
Beth, rainha.
Eu esqueci a minha alma.
Estrago o meu amor,
Não vejo mais as flores nem as Marias,
Só vejo Beth, a todo vapor.
Não sei mais o que é vida
Viver é estar no encalço de Beth
Quero molestar, importunar, fatigar, do amor ao ódio,
Já que eu não tenho Beth, minha rainha.
Como seria bom esquecer Beth,
Gostar de uma mulher feia e sem vida
Mas, o meu amor não tem bondade alguma,
É fraco, como filhotes de passarinho.
E Beth, nem aí para tudo isso.
Parto da minha inveja à vigília e, vejo Beth,
Indo e vindo, com seu andar de garça,
Lindo! Lindo!
Vergel
Meu querido Vergel, mesmo sendo de bits.
Hoje me despeço, pois vou estar fora por uns dias,
Vou buscar novas aventuras
Para te alimentar de fantasias.
Não fique com ciúmes,
Será um tempo de passagem
Mesmo longe posso te acompanhar
Mas não prometo que será realidade.
A liberdade que tenho
Está em seu jardim mais florido
Têm canteiros mais nobres
E outros esmaecidos.
Meu querido Vergel
Desde que te adotei, mudei de essência,
Vou criá-lo até a minha morte
É o que constrói a minha vida.
Vaidade
Beber para ter coragem de gritar
O grito dos indecentes
Da inconsequência
Da justificação que não convence.
Viajar para fugir da própria verdade
A verdade que está enraizada
Que acompanha em toda a caminhada
E da redoma não sairá.
Pássaro negro camuflado de mil cores
Para manter os milhares de amores,
Mas a chuva cairá
E as cores irão desbotar.
Manter um tapete vermelho estendido
Caminhar sobre ele desmilinguido
Com a bebida, as viagens e as cores,
Que causam dissabores.
Que presunção mal fundada
De quem mantém ostentação
Para merecer admiração
De uma qualidade do que é vão.
Amigo
Amigo, o que queres de mim?
Todas as melhores pedras incrustadas no marfim?
Todas as minhas virtudes?
Quantas cobranças que me faz!
Pergunto ainda:
O que tens para mim?
Somente as loucuras dos seus lamentos?
Nunca esquece as minhas conjecturas?
Mas as suas, nunca haverás de lembrar?
Amigo, esqueço sempre as nossas desavenças,
Perdoo sempre, mas voltas a lesar.
Em cada mau trato, uma pedra se desprende do marfim,
A joia vai perdendo o seu valor
Ficando somente uma nuance
De uma amizade hesitante.
Falsa Filosofia
Eu sou quem deseja compreender
Essa sua doutrina de bem viver
Que andas a defender
Da literatura ficcional árabe e europeia
Da Idade Média,
Através dos sete mares,
- Que se vive sem ordenado -.
E se manifesta com veemência
Exteriorizando os sentimentos e pensamentos
Com ardor e entusiasmo,
- O que alimenta a vida é viver do amor -.
Estou a dar o devido apreço
A essa ideia triunfal.
Mas, como posso acreditar nisso, nessa sua espiritualidade?
Nessa vã filosofia?
E o vinho, o pão de onde virão?
Pois acordo todos os dias,
Vejo com transparência
Famílias inteiras em penúrias
Na míngua de víveres.
Ah! Não sei se caio nessa cilada
De um dia possuir
A pedra filosofal.
Paralelas
Traço as retas
Infinitas retas num papel
Branco infinito
Retas que tendem ao infinito
Nunca se fecham
Não formam regiões
Poligonais.
Nas equações
Mais retas, retas
Para onde vão?
Já nem as traço
Com a régua
Essas equações das retas
O dia inteiro
No cansaço
Acompanhando as retas
As paralelas
Como no asfalto
Feitas pelos pneus do carro
Retas para onde?
Onde me levarão?
Para o infinito
Lá no final
O abismo
Morrendo em meio ao vão.
Da neurose à psicose
Tens a neurose furtiva,
Vives alucinado e em delírios.
Na tua neura temos diálogos,
Na tua psicose, espasmos.
Nos diálogos rouba-me a distinção,
Sente-te sobranceiro
Denodado em seu valor.
Quando entras na alma das sombras
Veste-te de altivez,
Dos teus delírios à empáfia
Rebusca com apreensão
Com esmero excessivo
À sensação que precede o ataque,
Que já na crise aflitiva
Suga-me toda a energia,
Abrindo sulcos na terra.
Vejo pelos profundos rastros
Deslizando abaixo
O primor que fostes um dia.
Entro em profundo desassossego
De ver-te neste estágio iminente
Indo ao encontro do desenlace fatal.
Sinto-me rigorosamente impotente
De controlar os teus propósitos
Desde logo, subsistentes.
Sua existência
Sua existência me conforta
Não importando saber se você,
Está rico ou pobre
Magro ou gordo
Com a aparência mais jovem ou envelhecida
Feliz ou infeliz
Acompanhado ou só
Viajando ou enclausurado
Comendo ou minguando
Nervoso ou apático
Com saudade ou desprezando
Drogado ou de cara
Orando ou resmungando
Sendo assim ou assado.
Assando.
O que mais me importa
É você existir,
Para que não desapareça
Este ser inconsequente
Que se tornou a minha fonte inspiradora
Dos meus momentos mais sublimes
Em que deslizo os meus dedos no teclado
Criando poesias.
Sem fim
O que você está fazendo aí parado em pé?
Para onde te levará essa fila?
Você tem certeza se ela terminará?
Sabe o que irá encontrar?
Sinto que você está bastante ansioso
Observando e esticando o pescoço
E é uma fila indiana
Parece mais uma romaria.
Suas mãos estão suadas?
Porque o seu corpo se move constantemente?
Será algo que você não poderá perder?
Existe uma hora marcada para chegar ao fim da fila?
Você está entorpecido por isso?
Tem de alcançar?
Você agora externa pela face certa raiva
Seu semblante mudou muito,
Foi pela certeza das vozes em sua mente,
Que disseram que não mais chegaria?
Agora você está agonizando na fila,
E olha para trás
Não existe mais ninguém?
A fila anda lentamente e você é o último da fila?
Não adianta se penalizar
Nada mais fará diferença,
Você se apossou da fila errada
Ela não tem fim nem começo
É uma fila em espiral, infinita.
Desejas-me
Desejas-me como quem deseja colher camélias em vasos de varanda
Como quem sonha em surfar na mais alta das ondas
Ou escalar a mais íngreme montanha.
Desejas-me como quem deseja chegar por teletransporte
Como quem conta com a sorte
Ou desconsidera a morte.
Desejas-me pela ilusão do querer
Pela fantasia do ego
Ou imanência e transcendência de poder.
Desejas-me sem as camélias
Cingido pela epopeia
Transmutado pelo épico.
Sublevação
Não te espante Doutor
Essa é só a minha dor,
Mas não toque o dedo na ferida
São os ais... Da minha vida.
Observa Doutor
As minhas cordas vocais
Não são como as cordas das harpas
São pregas fenomenais.
Os ais que grito e ouves
São bem postos
Não duvide, eu não gosto,
São ais... De toda uma Nação.
Não se engane Doutor
Diagnosticando essa minha rouquidão.
Terás de dar o mesmo diagnóstico
A toda população.
Admita doutor
Que será muito difícil encontrar
Este mesmo sintoma
Em outros Doutores, discricionários.
Encontro-me doente Doutor?
Os meus ais não serão escutados?
Não existe paliativo para essa dor?
Ah! Doutor
Se a dor vai continuar
Vou subir no mais alto dos montes
Serão tantos os meus gritos em ais
Emitindo ondas sonoras
Intensamente vibrantes
Que perturbará as cordas das harpas
Fazendo-as tocar
Músicas infernais.
Invídia
Estou tão longe,
Longe dos espíritos maus
Mas, que possuem uma fúria de bestas,
Que ecoam sons a esgoelar.
Esbravejam o meu nome
Na esperança de secá-lo
Com um amor de inveja
Prestes a lhes trucidar.
Não, não mereço tanto amor assim,
Não mereço que vivam a mim,
Não se degolem ainda
A hora não se faz.
Sei que sou este mal necessário
Que suplanta os desejos
Alimentando ódios
Nas meninas dos olhos.
É sofrimento que abunda
Nos sorrateiros
Que não possuem espírito próprio
Desejando ser a mim, por inteiros.
Ainda hão de se enganar,
Competir com a minha valente alma
Requer hercúleo esforço, e o meu espírito,
Não lhes irão encarnar.
Plágio
Dizem que Deus criou o Universo e tudo o que nele existe, inclusive o homem e a mulher, então, Deus é um grande cientista, mesmo estando Ele acima da ciência, logo, Ele é mais que a ciência, Ele é soberano na arte de criar.
Os humanos apenas tentam fazer cópias do que Ele criou, logo, eu sou uma imitação, os meus pais se apropriaram da criação de Deus, assim como todos os demais homens e mulheres do mundo, sem deixar de incluir toda fauna e flora, que Ele também criou. Tudo isso numa cadeia desde a criação do Universo.
Desta maneira, posso então, afirmar, que tudo que existe e foi produzido depois Dele é puro plágio, eu sou plágio, o Planeta Terra se transformou em plágio, não existe nada no mundo conhecido pelo ser humano que seja original.
Sendo assim, como posso compreender o conceito de plágio criado pelos homens? É também plágio?
Partindo da premissa de que Deus é o criador de tudo, posso dizer que sim, tudo é plágio.
As transformações ocorridas no Universo continuam tendo a mão de Deus? Será Ele, quem continua a fazer as coisas acontecerem, será Ele quem se preocupa com o Planeta Terra, um grão de areia neste Universo. Ele tem tempo para se preocupar com coisas tão ínfimas da sua criação? Tenho certeza que não.
Mantenho a minha certeza, pensado que o homem, na sua imaginação mísera de criar, se apegou numa inominável parte da Sua obra, - que Ele não completou perfeitamente -, e vive aos sete cantos, cantando de galo, e na verdade, apresenta seus feitos sem mencioná-Lo? Isto é plágio.
Deus está pouco preocupado como esta parte da Sua obra, se contrário fosse, Ele não deixaria que acontecesse plágios tão inferiores, como os que acontecem aqui em nosso astro.
Posso agora citar algumas coisas que Deus não permitiria em Sua obra, criar pessoas defeituosas fisicamente, moralmente e sem almas. Não permitiria a criações de doutrinas /dogmas usando o seu nome na dominância dos menos favorecidos, o sofrimento, a falta de amor, as diferenças sociais e de etnias, não deixaria que destruíssem a natureza, não deixaria que mudassem a sexualidade dos homens da sua forma original, dentre infinitas outras coisas que não teria espaço neste texto sucinto.
Se o que digo não for verdade, então Deus não existe e o plágio, não existe. Posso afirmar que, foi o homem quem criou um Deus para proteger-se de si mesmo, do seu próprio medo, do receito de enfrentar-se, uma forma de desculpar-se das suas vergonhas, de justificar as suas criações fracas e oprimidas, não reconhecer a própria insignificância.
Mas, se Ele existe, Ele por muito abandou essa parte da Sua obra, e a deixou para os reles se preocuparem com ela, e a plagiarem da forma mais inferior que existe no Universo.
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