Minha Amiga Debutante

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Eu já mandei minha felicidade embora muitas vezes simplesmente por não ter a menor ideia do que fazer com ela, deixei que ela passasse porque estava mais acostumada a lidar com o meu caos pessoal. E dessa vez não quero que isso aconteça. Dessa vez olhei pro meu pessimismo e decidi encará-lo. Ele me disse que vai doer depois, que quanto maior a altura, maior a queda. Eu disse que queria arriscar. Por favor, deixa, pelo menos dessa vez, deixa eu saber como é! Ela não queria, mas no fim das contas teve que ceder, afinal quem manda aqui ainda sou eu! Agora eu passeio com ela todos os dias, nos tornamos grande companheiras. Eu e a minha felicidade, a minha felicidade e eu. Às vezes ainda nos estranhamos, às vezes ela ainda me deixa um pouco desconfiada. É que às vezes ela chega tão decidida a se juntar a mim no meio da noite, entre um abraço e outro, entre uma palavra doce e outra. E de vez em quando, o meu pessimismo tenta se sobressair e me dizer pra tomar cuidado, pra não dar muita trela. Mas parei de ouvi-lo, confesso que a presença da minha nova amiga é muito mais agradável e cheia de vida, e sinceramente, sempre gostei mais do colorido que do cinza! Tô pagando pra ver sim, tô com a cara exposta sim, e pode doer o quanto for, podem maldizer o quanto for, o sorriso que eu levo hoje apaga todos os outros rastros. Eu aprendi, aos trancos, que ser feliz não dói. Ser feliz não dói. Confia em mim, não precisa ter mais medo – ela me disse.

Culpo minha pobre e velha mãe e meu magro e triste pai, por me jogarem na vida e ousadamente me colocarem o nome de Raul. Eis-me!
Culpo ao meu próprio escárnio de repetir três vezes o mesmo erro, se é que qualquer um desses três tenham a mesma lucidez dilacerante do que é a dor do absurdo do ser.
Nada é mais que um nada mergulhado no oceano de uma dor de chibata chamada Deus! Que este tenha o meu perdão.
Só peço que um raio de amor venha do espaço, e blind as três para que a escuridão da santa divina ignorância lhes vedem a visão do apocalipse, amém!

Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.

Mário de Andrade
ANDRADE, M., Poesias Completas, São Paulo, Edusp, Itatiaia, 1987

Adoro ouvir coisas que dão a medida de minha ignorância.

Clarice Lispector
Todas as crônicas. Rio de Janeiro: Rocco, 2018.

Nota: Trecho da crônica Conversas.

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Perder um filho

O dia amanheceu nublado e a chuva ainda não parou. O sol veio com a minha dor e tristeza. A dor de perder um filho é inexplicável. É muito difícil superar a perda.

A maternidade muitas vezes traz-nos um medo absurdo da perda. Mas eu amei estar grávida, viver a maternidade é amor! Esteve alojado na minha barriga durante alguns meses e carreguei no meu ventre um filho que amava e que ainda não conhecia!

É sofrer sozinha e sentir solidão apesar do apoio da família. É ter de sorrir com o coração que está em pedaços e caminhar com a saudade infinita no peito. Não há dor maior do que a de perder um filho. É dor e dor com muita saudade!

Como é triste perder um bebê, eu sei que nunca vou esquecer o meu anjinho! Quero acordar e ver que tudo não passou de um sonho. Mãe é capaz de dar a própria vida para salvar.

Perder um filho é sentir-se no meio do deserto e afogar-se no mar de dor! Senhor, que a minha dor e a minha tristeza se torne felicidade!

Nesse momento minha inspiração dói em todo o meu corpo. Mais um instante e ela precisará ser mais do que uma inspiração. E em vez dessa felicidade asfixiante, como um excesso de ar, sentirei nítida a impotência de ter mais do que uma inspiração, de ultrapassá-la, de possuir a própria coisa – e ser realmente uma estrela. Aonde leva a loucura, a loucura.

Clarice Lispector
Perto do Coração Selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Quando meu celular tocar e eu vir que é você, eu vou deixar tocando… afinal, o toque é a minha música preferida!

‎"Caiu finalmente a minha ficha do quanto você é, tão e somente, um cara burro. E do quanto você jamais vai encontrar uma mulher que nem eu."

Só quero ficar quieta, no meu canto, pensando na minha vida. Sem ninguém pra me julgar. Quero ficar comigo, um momento, em paz. Quero pensar. Quero ser eu, por alguns segundos.

"No amor cansei de ser diarista. Tava querendo que alguém assinasse minha carteira!

Minha aparência é péssima, a mente e o corpo exaustos. Mas existe uma tranqüilidade estranha. Não tenho mais nada a perder. Não sabia que o mundo era assim duro, assim sujo. Agora sei. Tenho apenas essa consciência, que só a loucura ou uma lavagem cerebral poderiam turvar.

Eu daria cada alento de meu peito
Para lhe dar todas as coisas que minha mente não podia nutrir.

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que nossos olhos
nos podem dar
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver

Eu não preciso controlar a vida, meus hormônios, meu futuro, os outros, minha felicidade. Eu só preciso levar a vida, eu só preciso desfocar do sonho que me deixa míope e enxergar além, ou melhor: enxergar o que está na minha cara. Ver o quanto o resto todo já é perfeito e está lá, eu já conquistei, é meu.
Antes de dormir rezei, mas dessa vez não pedi o moço de cavalo branco... apenas agradeci por estar me sentindo tão inteira, feliz, em paz e, principalmente, por não precisar de ninguém ao meu lado para estar bem.

Fito-te - E o teu silencio é uma cegueira minha.

Custou-me muita dor, solidão e desespero aprender que sentir amor é uma potencialidade vital minha, é produção criativa da pessoa que sou e, para amar, dependo apenas de mim mesmo. E sua expressão e comunicação são produtos da liberdade pessoal e social conquistada.

Roberto Freire
Ame e Dê Vexame

A desistência é uma revelação. Desisto, e terei sido a pessoa humana – é só no pior de minha condição que esta é assumida como o meu destino.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

“Você já não faz parte da minha vida e eu não me importo mais com isso.”

O indizível só me poderá ser dado através do fracasso de minha linguagem. Só quando falha a construção, é que obtenho o que ela não conseguiu.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

"Minha vida é um conto de falhas."