Mia Couto

Cerca de 100 frases e pensamentos: Mia Couto
Mia Couto (1955) é um escritor, poeta, jornalista e biólogo moçambicano. Recebeu o Prêmio “União Latina de Literaturas Românticas” e o “Prêmio Camões”, entre outros.

"Lembrou as palavras da sua mãe: mulher preta livre é a que sabe o que fazer com o seu próprio cabelo".
(Em "O Perfume" - Do livro "Estórias Abensonhadas)

"Os outros passam a escrita a limpo,
Eu passo a escrita a sujo.
Como os rios que se lavam em encardidas águas.
Os outros tem caligrafia, eu tenho sotaque.
O sotaque da terra."

(Em "O outro pé da sereia". Lisboa: Editorial Caminho, 2006. Fonte: elfikurten.com.br)

⁠Em tempos de terror, escolhemos monstros para nos proteger.

"A minha pátria é outra e ela está ainda por nascer."
(in " Mulheres de Cinza " pág .36)

"Sou um menino que envelheceu logo à nascença. Dizem que, por isso, me é proibido contar minha própria história. Quando terminar o relato eu estarei morto. [...] Mesmo assim me intento, faço na palavra o esconderijo do tempo”.


( em "A varanda do frangipani", Lisboa: Editorial Caminho, 1991.)

Dentro de mim
o universo se dissolveu
e um respirar de céu
em meu peito se inundou.

Seria a Vida,
seria o Tempo sem nostalgia, ou seria, apenas, a poesia?

Sei que havia um fluir de rio lavando antiquíssimas dores.

E do cristal de tristeza
que antes me negava o ar, desse nó de vazio,
voltou a nascer o mar.

De que vale ter voz
se só quando não falo é que me entendem?
De que vale acordar
se o que vivo é menos do que o que sonhei?
(Versos do menino que fazia versos)

(Do conto "O menino que escrevia versos". em "O fio das missangas". Lisboa: Editorial Caminho, 2003. Fonte: elfikurten.com.br)

“O escritor não é apenas aquele que escreve. É aquele que produz pensamento, aquele que é capaz de engravidar os outros de sentimento e de encantamento.”

( Trechos da intervenção na cerimônia de atribuição do Prêmio Internacional dos 12 Melhores Romances de África, Cape Town, Julho de 2002 - fonte: miacoutiando)

" As pálpebras limpam os olhos das poeiras. Que pálpebras limpam as poeiras do coração?
(In " Na berma de nenhuma estrada " - página 175)

"Andemos, meu amor, de coração descalço sobre o sol". (in 'Raiz de Orvalho)

Entrego-te os meus pulsos
para que me leves
mesmo que eu seja
apenas um esquecimento teu.

Não me deixem tranquilo
não me guardem sossego
eu quero a ânsia da onda
o eterno rebentar da espuma

As horas são-me escassas:
dai-me o tempo
ainda que o não mereça
que eu quero
ter outra vez
idades que nunca tive
para ser sempre
eu e a vida
nesta dança desencontrada
como se de corpos
tivéssemos trocado
para morrer vivendo.

" Na veia rasgada se confirma: nenhuma vida é alheia. E todo o sangue é sempre nosso".
(Vagas e Lumes)

Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com a suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça

Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno

Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci

Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos

No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome

Mia Couto, in 'Raiz de Orvalho'

Só me pertence o que não abraço.
Eis como eterno me condeno:
Amo o que não tem despedida.

O que dói na morte é a falsidade. A morte apenas existe por uma brevíssima troca de ausências.

Beber toda a ternura
Não ter morada
habitar
como um beijo
entre os lábios
fingir-se ausente
e suspirar
(o meu corpo
não se reconhece na espera)
percorrer com um só gesto
o teu corpo
e beber toda a ternura
para refazer
o rosto em que desapareces
o abraço em que desobedeces

(Em "Raiz de orvalho e outros poemas". Lisboa: Editorial Caminho, 1999. Fonte: elfikurten.com.br)

A maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza. Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados. Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.

A infância não é um tempo, não é uma idade, uma coleção de memórias. A infância é quando ainda não é demasiado tarde. É quando estamos disponíveis para nos surpreendermos, para nos deixarmos encantar. A infância é uma janela que, fechada ou aberta, permanece viva dentro de nós.

Mia Couto
Tradutor de chuvas. Portugal: Ed Caminho, 2015.

Nós temos hoje gente com dinheiro. Isso em si mesmo não é mau. Mas esses endinheirados não são ricos. Ser rico é outra coisa. Ser rico é produzir emprego. Ser rico é produzir riqueza. Os nossos novos-ricos são quase sempre predadores, vivem da venda e revenda de recursos nacionais.
(E se Obama fosse africano?)

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