Mensagens de Silêncio
VERSO ...
Instante vazio. Um silêncio carrancudo
E a inquietação ativada no sentimento
Tudo é parado, nem mesmo o vento
Cochicha na mansidão, está tão mudo
Eu fico a versar, em um rogo agudo
Vejo, solitário, o vão do pensamento
Que em tal momento é tão sedento
Tão inútil e, que no engano me rudo
Ó divindade desta razão tão bonita
Que dá relevo ao agrado e, acredita
Na consolação das solidões tortas
Cede-me a poética e distinta calma
Para que, no soneto traga pra alma
Fôlego, e não quietas horas mortas...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
06/03/2021, 10’10” – Triângulo Mineiro
PERJURO
Busco à noite, o silêncio, exausto de saudade
Pois é justo o repouso do sentimento fatigado
Novo instante, entanto! Lembrança que brade
Na emoção solitária. O desassossego acordado
Penitência ou vigília? Eu sei que n’alma invade
Toma de todo o pensamento, cada um pecado
Nesta disputa do coração, tão dura eternidade
Largando o meu olhar no tormento assustado
Bem aberto, tenho a sensação ali dormente
Na escuridão, cego, sinto mais que um vidente
Cada batida, cada som do suspirar no escuro
Assim, de dia a poesia, e de noite, à traição
Por que hão de me tirar a poética e a paixão
Dum amor que não deu, se era pra ser puro!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
14/05/2016, 13'40" – Araguari, MG
POR QUE
Por que, em vez do silêncio, não me arraste?
Por que foste tu alvo, a emoção enamorada?
Por que sempre, na lembrança, és tu citada
E em cada verso o teu doce cheiro deixaste?
Por que no olhar aquele olhar com desgaste
Do desejo? por que, ó minha singular amada
Poeto, e suspira uma sensação tão desolada
De uma solidão, ó tomento, amargoso traste
Foste, e no perder não sabia o que perdia
Hoje chora no peito está resistente certeza
Que não teve intuição no que o amor dizia
Agora, vazio e poética sóbria, uma tristeza
Imaginado em que parte estás de cada dia
E, tenho a saudade numa nostálgica dureza
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Araguari, MG - 29/07/2021, 19’06”
PELO CAMINHO
Eu queria ver no silêncio do escuro
O amor puro, o mais que você quer
Que te agrada, em tudo que quiser
Este o prazimento que eu procuro
Te querer, quero! no olhar seguro
De doce paixão. Poesia a lhe dizer
Ser, estar, para enamorado te ter
Assim, que penso em nós, te juro!
Às vezes eu deixo de pensar em ti
E por aí o pensamento vai sozinho
Pensando se ainda está por aqui...
Neste segundo, você é só carinho
Só satisfação, uma sensação rubi
E, então, levo você pelo caminho!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04, agosto, 2021, 15’47” – Araguari, MG
O CERRADO LÁ FORA
Quanto o manto da noite veste o cerrado
O silêncio invade a alma numa melodia
Num versar tão sensível e tão sossegado
Tal uma sensação de uma erudita poesia
As estrelas no céu, alvacentas e luzidias
Numa harmonia em seu encantado voo
Bailam pra lua em parceiras companhias
Celebrando a magia dum dia que acabou
Escura, sombria, duma vastidão gigante
Odorante, e de um singular inteiramente
Belo, significante, muito a todo instante
E nesta quietação mouca dorme a flora
Numa sedução, e fascínio tão inocente
Do embalar da noite no cerrado lá fora...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
26 setembro, 2021, 20’44” – Araguari, MG
SINOS
Rompendo o silêncio do campanário
Sinos da Capela tangem fortemente
Musicando com fervor o fiel rosário
Qual faz palpitar a devoção da gente
Suplicas! as badaladas do rogo diário
Aliança. O sino bate fervorosamente
Seu planger o tom de estuo cenário
Onde a fé vibra numa toada presente
Dentro d’alma bimbalha a esperança
Num hino do coração em confiança
Para o espírito cheio de fraternidade
Ribomba o sino da Capela, é batida
De crença, onde a paixão é acolhida
Nos aflorando o amor e benignidade...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
29 janeiro, 2022, 17’04” – Araguari, MG
SONETO INDIGENTE
Na entranha dos poemas tenebrosos
O silêncio parece ter palpitante vida
E a solidão, sobre a poética refletida
Traz ocos e sentimentos impetuosos
Pela sofrência, em salmos lamuriosos
Sussurra a prosa em uma rima sentida
E a versificação senti tão enternecida
Os cânticos rumorejantes e vultuosos
Em odes sombrias, a privação, o pesar
Ah! soneto indigente, deixai-me livrar
Da situação importuna que tempestua
Priva-me do verso esfolado, crucificado
A aflição, as matinadas, de um passado
Que suspiram na poesia sibilante e nua!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Maio, 16/2022, 18’16” – Araguari, MG
SAUDADE SUPREMA
Silêncio, tarar, ideia envolta na solidão, murmura
Nos versos sussurrantes do meu versejar sombrio
Eu, agoniado, privado, numa poética de amargura
Velo a minha angústia com cântico insosso e frio
De onde? quem? Essa sensação de uma clausura
E está dor, um acaso demente, um talvez doentio
Que deixa meu sabor com aquela amarga doçura
Apertando o peito, e a emoção sem o suave feitio
E vai a madrugada a meio, nostálgica, importuna
Nos rogos de minh’alma, e tão repleto de lacuna
Divagando falta no pesar de outrora, triste tema!
E eu quisera, outro ponto, nesta pontual sofrência
Na aflição de cada rima ter aquela muita existência
Na suprema ausência de uma saudade suprema! ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
30, julho de 2022, 03’23’ – Araguari, MG
IDEIAS
É sempre do silêncio que vem as ideias
Envoltas em sensações e tons argutos
É sempre do sentimento, os resolutos
Contos... que cantam enredos e teias
Dotando o verso de sensíveis odisseias
Em risos e choros, imaginários brutos
Outros afeiçoáveis, sempre absolutos
Nas cordas da poética e ilusões cheias
Corre da inspiração um louco excitar
E a mente suscita o que n’alma existe
Em um versar, que a tentação insiste
É a cismática poesia, então, a sussurrar
Pondo a mente a agir com seus clichês
É a emoção do poeta com seus porquês
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
30 setembro, 2022, 19’09” – Araguari, MG
DETALHES
Como é cruel a solidão na sensação atada
Como é penoso o silêncio arfando no peito
Com a poética em uma melodia desafinada
Torturando a ilusão perdida e sem proveito
Ter o vazio de uma flor, um gesto indeciso
Um olhar triste, no coração fúnebre círios
Que aquecem a dor e queimam o sorriso
Sem nada, absorto em sofrentes martírios
E eu, cá, no cerrado, de infeliz memória
Sem estória, numa redundante oratória
Suspiros, sussurros, nos mesmos ideais:
Buscando por um alívio dum solitário ser
Querendo o alguém sem ter que perder...
Pois, amar é sempre um sentido a mais!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
26 janeiro, 2023, 20’09” – Araguari, MG
RESSURGIR
Desmesuradamente o silêncio no verso doía
Sobre uma saudade que no peito era poente
A angústia que ao sentir não mais consumia
Rompendo e assaltando a quietude da mente
E, cá no cerrado a tarde melancólica anoitecia
E um soluço seco no vazio se fazia de repente
Escorrendo pela poesia com uma tal vertente
Emoção... e sobrepondo a noite a luz do dia
Assim, sem medida, a poética se pôs tirania
Fazendo da prosa tortura no seu conteúdo
Tentando não dizer o que fatalmente dizia
Então, o meu sentimento vagou pelo infinito
E a sensação em um rugir, num rugir mudo
Impelindo tudo, em um grito aflito, aflito grito!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
01 fevereiro, 2023, 21’00” – Araguari, MG
Tem dias em que, pingos d'águas viram tempestades, silêncio/pesadelo, e a vontade de te ver/redemoinhos.
'RELATIVIDADE'
No espaço curvado, qual o sentido das rugas? E o silêncio dos artigos escritos, da relatividade aparente? Cabelos grisalhos esplainando as linhas dos dias distorcidos, veemente. Tempo branco como neves derretidas, neófitos por descobertas, curas, contrapartidas...
Retina encoberta, reflexão da visão nas novas originalidades criadas. Noites no sótão à procura de respostas. Talvez a fórmula da vida escritas em funções matemáticas. Das deflexões tão sonhadas que chegara nas pernas, nas falas, nas relações 'bestiadas'...
Dos eclipses cobertos de nuvens, surgiram as verdadeiras vertigens. No cálido clarão opaco das lentes ficara o cientista, filósofo, químico, físico, matemático. Sedentos por novas saídas. Extraordinários heróis fungicidas. Perdidos nas erudições do ontem, do hoje, do amanhã, das causalidades não ditas...
O homem discreto escuta muito e fala pouco, pois sabe que no silêncio há sabedoria, mas o tolo fala muito e despreza conselhos, pois sua visão limita-se a seu nariz.
Em um dia de lágrimas retruquei a Deus:
Pai me sinto tão só, não tenho ninguém, no silêncio daquela noite eu pude ouvir sua voz mansa e suave no pé do meu ouvido
Filha você tem a mim, então você tem tudo.
Jamais esquecerei esse dia, até então foi só subida.
A existência é o silêncio que grita dentro do vazio, um instante onde o nada se torna possível e, por isso mesmo, impossível de ser esquecido. Não somos entidades separadas, mas pulsos dessa mesma vastidão tentando, em vão, agarrar o que nunca esteve à nossa mão: o sentido absoluto. Somos feitos do instante entre o ser e o não-ser, a tensão infinita que cria o movimento e o pensamento. Não há fora do existir, pois o existir é a fronteira que se estende e se recolhe, um horizonte que nunca alcançamos, mas que nos define. Viver é assumir a responsabilidade de ser a pergunta viva, um eterno questionar sem resposta, um testemunho daquilo que escapa à compreensão. O que chamamos ‘realidade’ é apenas o contorno provisório dessa busca, a sombra tênue de algo que é ao mesmo tempo todo e nada. Ser, então, é reconhecer que somos a ferida aberta do cosmos — e que nessa ferida pulsa a única certeza: a de que, no fundo, nada é certo, exceto a eternidade do mistério.
Buracos no Silêncio
(Homenagem a Tanaru — o Índio do Buraco
Verso 1
No ventre da selva, onde o vento é rei
Um homem caminha sem ninguém na lei
Tem buracos na terra e um sol na mão
E um povo perdido na escuridão
Verso 2
Ele fala com as folhas, conversa com o chão
O rio responde na mesma canção
Cada passo que dá é um livro fechado
Cada noite que vem é um sonho enterrado
Refrão
Oh, Tanaru, ninguém te viu partir
Mas a floresta ainda sabe ouvir
O som do arco, a sombra no mato
O tempo passando num passo exato
Verso 3
As estrelas vigiam, mas não dizem por quê
A lua lhe mostra o que o mundo não vê
E a terra é o templo, e o templo é você
Guardando segredos que não vão morrer
Ponte
Um dia os homens virão, sem saber do lugar
Vão pisar no silêncio sem se perguntar
Quem era o último a dançar com o vento
E a deixar seu nome no esquecimento
Refrão final
Oh, Tanaru, teu rastro ficou
Na veia da selva que nunca secou
E enquanto houver folha caindo no chão
Teu canto ressoa na mesma canção
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