Mensagens com Complemento de um Bombom
CARTA A UM AMOR IMPOSSÍVEL
Escrevi-lhe uma carta, numa tarde de verão,
E meti-a no correio pela minha própria mão.
Esperei,
Desesperei
E quase endoideci
Por não obter resposta.
Em mim, fez-se depressão.
Comecei a ter vida de inferno,
Quando me entregaram na mão
Numa manhã fria de inverno,
A carta que eu tinha
Tão perfeitinha,
Escrito numa tarde de verão...
Vinha, ainda por abrir,
Suja, enrugada,
Já de cor amarelada
Como filha pródiga a vir.
No verso, no lado contrário,
Li, em letras garrafais,
Que foram para mim fatais:
"Desconhecida no destinatário”.
(Carlos De Castro, In Há Um Livro Por Escrever, em 11-02-2023)
DA GRÉCIA HELENA
Um dia, de noite,
Pela madrugada
Afogueada,
De lua cheia,
Eu vou raptar-te,
Ó, minha moça, sereia,
Para amar-te,
No meu castelo de areia.
Contigo, beber o vinho da loucura
Num desejo insano de ternura,
Em cama armada de dossel,
À luz da lua embriagada
Pelo sol, ao vê-la excitada,
Por um cálice de licor de mel.
Um dia, de noite,
Pela madrugada,
Sem se dar conta de nada,
Eu irei raptar-te,
Adorar-te,
Como obra de arte
Roubada,
Ó, minha moça morena,
Da Grécia, Helena,
Minha eterna e doce amada!
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 17-02-2023)
A BORBOLETA
Era branca,
Com uma mescla de cinzento
E voava
Voluptuava,
Como um balão ao vento.
Poisou ela
Numa flor amarela
E ali se demorou
E extasiou,
A beijá-la.
A flor, então corou
Parecia-me até que tombou,
Mas não.
Era a flor então
Que beijou também
A branca borboleta
Com uma mescla de cinzento,
Mas, eis que surge um senão:
Soprou forte o vento,
Eu estava a ver, porém
A borboleta voou
E poisou
Numa flor branca
E não gostou.
E voou, voou...
Eu também poiso só
Em flores que gosto,
Para não sofrer o desgosto
De meter dó.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 28-02-2023)
MULHER SEM SER
Chorava.
Era mulher
Sofrida
Sem cor
Ou amor
Pela vida.
Ofereci-lhe um flor.
Do monte,
Rebelde como a liberdade
Da sua idade
Proibida,
Insentida,
Naquele corpo franzino,
Sem fulgor,
Nem horizonte,
Que mora mesmo defronte
À fronteira da dor
Por demais consentida.
Ela, aceitou a minha flor.
Por ser do monte
E do monte só
Porque tinha a frescura
Que tem a água da fonte
E lhe matava a sede dura.
E para me não meter mais dó,
Ou compaixão no olhar,
Pediu-me que a deixasse só,
Para que não a visse chorar.
(Carlos De Castro, In Há Um Livro Por Escrever, em 10-03-2023)
ALTARES
Anos vão.
Construi e tenho no meu quarto
Numa cómoda velha de minha mãe,
Um santuário,
Tipo berçário,
Que acolhe alguns santos
Do reino que Deus tem.
Uns mais que outros, sacrossantos,
Para mim.
E assim,
Talvez pela memória
Feita só estória
De querer afastar medos e quebrantos
Em simples peças de barro,
Já em padecimentos de sarro.
E cada vez mais eu reparo
Que neste mundo às avessas,
A quem faltar fé ou faro
Baterá em portas travessas.
Ravessas, elas só se abrirão
Por senha ou pela beatice,
Sempre esta minha tolice
De não aceitar sermão.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 27-03-2023)
PRAGA ROGADA
Diziam-lhe
E rediziam-lhe
Que quando ele se fosse
Um dia
Para a eterna enxovia,
O diacho do Demo
Rei dos infernos
Eternos,
Nem queria
Vê-lo lá.
Não é que de rir
Foi tanta a vontade
Que ele o fez às despregadas,
Saiu-lhe o umbigo fora
E agora
Olhando por si abaixo
Consegue apalpá-lo,
Massajá-lo,
Ao umbigo,
Que saiu do seu postigo.
Continuou a olhar para baixo
Do umbigo
Apalpou,
Massajou,
E nada...
Não viu nem apalpou nada!
Então disse aos seus botões:
- Medo do inferno !?...
No inferno, já estou eu!
E adormeceu...
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 21-04-2023)
POEMA LAMENTO
Um mau poema
Sem tema
Alcance ou lema,
É tudo o que te posso dar.
Não sei mais.
Ela não quer nada comigo
E como castigo...
Também não quero ir mais longe
Não quero levar vida de monge
Porque monge
Sem capuz,
Já o sou nesta minha cruz.
Não pretendo nome
Ou cognome,
Estejam descansados
Para vosso bem.
Se o quisesse, alcançaria
Mesmo da noite para o dia!
Um bom poema
Para minha pena
Mas sem vontade de chorar,
É coisa que não te posso dar.
Lamento!
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 22-04-2023)
Tenho no vento um amigo confidente fiel de raiz.
É ele que me diz às vezes que faço bem em esquecer os males do mundo, para não correr o risco de me olvidar de mim e renegar que existo.
VINGANÇAS
A vingança não dura um segundo
No coração dos simples e puros
Como a água cristalina e corrente
Que desliza frémita e tão contente
Passando apressada nas barreiras
Marcações de pedras fronteiras
E socalcos das terras do mundo.
Água vinha
Água vem
Água se foi
Água mansinha
Sem mais ninguém.
A vingança, por si se dói,
Nos corações benditos.
Nos corações empedernidos
Sem ponta de bons fluídos,
Ela corrói e destrói,
Vem, mas não vai.
É teimosa,
Birrenta
Como égua fanhosa
Peçonhenta
Que rebenta nos piores adjetivos.
Mas vai um dia na noite que cai
Com ventos de depuração.
Vingança que não vai
Não tem razão
De morar nos sem sentidos
Dos corações bandidos.
E eis que os corações tais
Desses empedernidos mortais
Não aguentaram o choque
E morreram sem esperança
Nem reboque
De aplicar a vingança.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 02-05-2023)
A MENINA E A ÁRVORE
Desprevenido, plantei-te!
Sem escavar sequer um palmo
De terra do fundo germinador.
Quando brotaste o tronco esguio
E os ramitos
Pequenitos
Numa manhã chuvosa,
Custosa e fanhosa
De um Março marçagão,
Colei a minha trémula mão
À tua tão pequenina,
Magrinha,
Comprida, de pianista.
Parece impossível!
Haverá alguém que resista...
Deste-me na minha um esticão,
Como a querer fugir de mim.
Tomei isso como premonição
Negra,
Amarga
E fúnebre.
Continuas com a tua mãozita pequena
Da tua árvore a envelhecer
De madura,
No tronco e nos ramos
Mas com as maçãs tão verdes,
Ácidas,
Intragáveis.
Tão inutilmente
No perto,
Longe
De mim.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 06-05-2023)
Há vozes a revoltar-se dentro de mim.
Incitam-me para que seja um lutador nato, ou um gritador de injustiças, pelo menos.
PÁSSARO LIBERTADOR
Na linha imaginária do horizonte,
Filtrada pelo sol já passageiro,
Vejo um vulto, asa de anjo
Que me chora logo defronte
A esta janela do meu derradeiro
Olhar cativo no monte
Do meu penar,
Sem te poder mais amar.
Anda, passarita Clara.
Com o teu bico de beijo,
Inicia-me no teu solfejo
E liberta-me desta amarra.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 27-05-2023)
MEU MAR MINHA LINHA
Era eu um pequenito
Naquela praia grande
De areal imenso
Do então Espinho extenso.
Eu ficava sozinho
Sentado numa pedra
Mais ao longe
Como que a comandar
A proa do meu barco
Rumo àquela linha do horizonte
Que eu via sempre direitinha
Com aqueles barcos grandes
De cargas de pão, de ouro
E especiarias, nos porões
Das fantasias.
Se calhar alguns petroleiros
Assaltados pelos piratas
Da minha verde imaginação
Que passavam com pachorra,
Na linha, do mar quente de verão.
E eu então imaginava:
Para além daquela linha, ficava
A Beira de Moçambique,
Era aí que o meu pai morava.
Não muito longe, eu via numa tela:
A Caracas do meu tio Vitorino,
Emigrado em Venezuela.
Depois, de barriga vazia
Voltava à areia da praia,
Morna da sorna da tarde
Que se ia com os barcos
E convidava ao sono.
Então, eu cobria-me com o meu manto
De areia
E, entretanto,
Adormecia...
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 30-05-2023)
CEREJAS
Degustava eu um ramo delas,
Quase assim.
Uma mais vermelhas
Ainda de formas fedelhas
De polpa ruim.
Outras, matizadas de branco,
Amarelado,
E eu sou franco,
Deixei as amarelas de lado.
Algumas, de bordeaux vincado,
Mas só cor
Sem sabor
Adocicado.
Poucas mais encontrei
Doces
Ainda que maduras
Apesar de duras
Como o mel melado.
Ia a meter a última à boca
E parei.
Era mais redondinha que as outras
Mas muito vermelhinha
E tinha
Uma outra cerejinha
Pegada à sua barriguinha
Como uma mãe que acabou
De dar à luz,
E quer mostrar a filhinha
Que reluz.
Tive pena de as comer
E num rebate de consciência,
Com exemplar paciência,
Fui metê-las em terra fresquinha:
A cereja mãe e a filha,
À espera que um dia destes
Irão nascer mais cerejas
Assim,
Por mim.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 05-06-2023)
A FLOR AMARELA
Veio um passarinho
Feito abelha
E deixou cair uma semente
Nos interstícios das pedras negras
Da velhinha calçada...
Brotou aí uma pobre flor,
Sem calor,
Nem carinho,
Nem nada...
Tinha a cor amarela,
Tão singela
E pura
De quem nasce ao deus-dará,
Pobrezinho...
Nunca pediu água a ninguém...
Quando vinha a chuva tarde, porém,
Dava-lhe vigor,
Em rega de amor,
Numas gotas de magia
Que a enchiam de alegria.
Veio um sapato e calcou-a.
Por milagre ou sorte,
Ela venceu a morte
E no outro dia
Lá estava ela,
A florzinha amarela
Fresca e viçosa,
Como alface graciosa.
Em frente, nos jardins dos ricos,
As flores ricas morreram todas...
Por serem muito mimosas.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 29-07-2023)
OLHOS MORTOS
Quando te beijei naquela manhã,
Trazias nos olhos um regato de água,
Seco.
Estéril.
Forjado.
Senti em ti rios de desprezo
Subtis,
Hostis,
A correr sem destino,
Mal cheirosos,
Pelas margens do teu rosto,
Dos teus olhos covardes, mortos,
Por não olharem os meus.
Na sede que eu tinha da tua água,
Nem reparei que a tua estudada mágoa
Se misturava com o PH da tua acidez,
Sempre que queres magoar quem te fez.
Minha querida estátua que já és
Para mim tão absorta e estarrecida,
Nas tuas gélidas palavras sem sortida,
Um ser que não conheço nem de frente
Nem já de revés,
Eu que fui o obreiro da tua própria vida.
Um pai, já dizem não valer de nada
Agora neste mundo podre, sem guarida,
Houvera tempo de vida atrás voltada
Que nunca eu te geraria, nem cerzida.
(Carlos De Castro, in Há um Livro Por Escrever, em 31-07-2023)
OUTONO INFIEL
Falso este Outono
Ou um rapaz rapace,
Tomate feito de alface,
Ou ridícula manha do dono?
No fresco do seu calor,
Naquele falso ardor
Ele mente,
E a gente nem sente
A infidelidade premente.
Quem és tu outono
O, dos poetas?
E ele (respondeu-me em seu mono):
Eu já não sou quem tu pensas,
Poeta de tantas parecenças,
E agora sem mais ofensas,
Digo: Não sou mais o teu outono.
É impressionante como um futebolístico resultado menos positivo, consegue mudar e adulterar as relações de amizade entre alguns humanoides.
Depois, venham cá soprar-me aos ouvidos a dizer que só há um X (xis) número de drogas num espetro identificado neste mundo terrantês.
Para os eruditos e balofos estudiosos: acrescentem mais esta substância alucinogénia ao vosso cardápio de ilusões,
ou então, acabem de vez (...) com esta praga, antes que Alguém venha manifestar que é ela (mais uma...)
que está a criar desarmonias e muitos males reinantes no tecido da sociedade, enfim.
💡 Mudanças reais começam com uma boa ideia — repetida com consistência.
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