Mensagem para Pessoa que Ja Morreu

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Alma errada

Há coisas que a minha alma,
já mortificada não admite:
assistir novelas de TV
ouvir música Pop
um filme apenas de corridas de automóvel
uma corrida de automóvel num filme
um livro de páginas ligadas

porque, sendo bom,
a gente abre sofregamente a dedo:
espátulas não há…

e quem é que hoje faz questão de virgindades…

E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos telefones
fugir desesperada

me deixará aqui, ouvindo o que todos ouvem,
bebendo o que todos bebem,
comendo o que todos comem.

A estes, a falta de alma não incomoda.

(Desconfio até que minha pobre alma fora destinada ao habitante de outro mundo).

E ligarei o rádio a todo o volume,
gritarei como um possesso nas partidas de futebol,
seguirei, irresistivelmente,
o desfilar das grandes paradas do Exército.

E apenas sentirei, uma vez que outra,
a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido…

Nossa química era tão forte, que se tornou inflamável. Quando eu vi a gente já tinha explodido e tudo tinha ido pro alto, pros lados, tava tudo esparramado e queimado, eu, você e o nosso amor.

-Sim! Esqueça tudo, e nem se lembre que já me visse! Seja agora a primeira vez!... Os beijos que lhe guardei ninguém os teve nunca! Esses, acredite, são puros!

O que é a riqueza? Para um, uma velha camisa já é riqueza. Outro é pobre com dez milhões. A riqueza é algo completamente relativo e insatisfatório. No fundo, não passa de uma situação peculiar.

E Macabéa, com medo de que o silêncio já significasse uma ruptura, disse ao recém-namorado:
– Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Essa moça tá diferente
Já não me conhece mais
Está pra lá de pra frente
Está me passando pra trás
Essa moça tá decidida

Nunca fui elegante. Minhas camisas eram todas desbotadas, encolhidas, surradas, e já tinham cinco ou seis anos. Minhas calças, a mesma coisa. Detestava as grandes lojas, detestava os vendedores, eles se faziam de superiores, pareciam conhecer o sentido da vida, tinham uma segurança que me faltava. Meus sapatos eram sempre velhos e estropiados, e eu detestava lojas de sapatos também. Nunca comprava nada de novo, a menos que as minhas coisas já estivessem completamente inutilizadas - automóveis inclusive. Não era questão de economia; é que eu não era tolerava ser um comprador na dependência dos vendedores, aqueles caras tão altivos e superiores. Além disso, eu perdia tempo, um tempo em que eu podia muito bem estar de papo pro ar, bebendo.

Já que se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas.
(Para não esquecer)

O melhor ainda não foi escrito. O melhor está nas entrelinhas.
(Água viva)

Já não sou o mesmo, como você também não é. Endureci um pouco, desacreditei muito das coisas, sobretudo das pessoas e suas boas intenções.

A justiça, cega para um dos dois lados, já não é justiça. Cumpre que enxergue por igual à direita e à esquerda.

Confesse: Quando você está com suas amigas, você fica mais idiota do que já é.

Insistir naquilo que já não existe é como calçar um sapato que não te cabe mais: machuca, causa bolhas, chega à carne viva e sangra. Então é melhor ficar descalço, deixar livre o coração enquanto vive, deixar livre os pés, enquanto crescem. Quando a gente cresce, o número muda!

Já perscrutamos bastante as profundezas dessa consciência e é chegado o momento de continuarmos a examiná-la. Não o fazemos sem emoção ou estremecimento. Nada existe mais terrível que esse tipo de contemplação. Os olhos do espírito não podem encontrar em nenhum lugar nada mais ofuscante, nada mais tenebroso que o homem; não poderão fixar-se em nada mais temível, mais complicado, mais misterioso e mais infinito. Existe uma coisa maior que o mar: o céu. Existe um espetáculo maior que o céu: é o interior de uma alma.

Já se disse que as grandes idéias vêm ao mundo mansamente, como pombas. Talvez, então, se ouvirmos com atenção, escutaremos, em meio ao estrépito de impérios e nações, um discreto bater de asas, o suave acordar da vida e da esperança. Alguns dirão que tal esperança, jaz numa nação; outros, num homem. Eu creio, ao contrário, que ela é despertada, revivificada, alimentada por milhões de indivíduos solitários, cujos atos e trabalho, diariamente, negam as fronteiras e as implicações mais cruas da história. Como resultado, brilha por um breve momento a verdade, sempre ameaçada, de que cada e todo homem, sobre a base de seus próprios sofrimentos e alegrias, constrói para todos.

Alguma coisa no amor sem egoísmo e abnegado de um animal atinge a alma dos que já experimentaram o erro, a fragilidade, a fidelidade de afeição do simples homem.

Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a Primavera nem sequer é uma cousa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.
Há novas flores, novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.

Eu vou embora, eu já devia ter ido embora há muito tempo. Não tenho mais paciência nem cabeça para esse tipo de coisa miúda.

Me sinto muito solitário. Mas não consigo encontrar alguém que me entenda e, a essa altura, já não sei dividir mais nada, muito menos apartamento. Já não tenho saco para ser cobrado de nada. Gosto de ficar sozinho com meus versos, escutando música ou simplesmente em silêncio. Sempre fui um cara certinho, sem as rebeldias dos jovens atuais. Claro que algumas vezes dava minhas fugidinhas de casa, mas sempre voltava como um bom menino.

Se mudar, que mude para melhor, pois já estava bom e estava meio ruim também, mas parece que piorou.

Você já deveria conhecer meu tom seco e sarcástico e minha insuportável mania de falar a verdade sem me importar com o que os outros vão pensar. Sem me importar se vão continuar gostando de mim mesmo assim.
Eu nunca precisei fingir que sou uma pessoa boa. Nunca precisei fingir que eu não estou nem aí quando eu estou mais aí do que aqui. Não faz meu tipo. Me esforço às vezes pra ser romântica, pra acreditar nos planos, pra acreditar nas pessoas. Nunca chorei pra convencer. Talvez porque não faça questão de convencer. Ou, como você mesmo diz, sou direta, fria e seca. E nada disso é novidade pra ninguém. É só o meu jeito.
Eu não sou fácil, não me vendo, não aceito migalhas, não gosto de metades. Sou um império do bem e do mal. Sou erótica, sou neurótica. Sou boa, sou má. Sou biscoito de polvilho. Açúcar, sal, mousse de maracujá. Só não sou um brinquedinho. Que alguém joga no canto do quarto quando não quer mais brincar. Sou um pacote. Uma mala. Sou difícil de carregar.

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