Menina Gente Boa
DE GENTE PRA GENTE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Tem um mundo melhor o próprio mundo
que se move na mira dos conceitos;
vem do fundo e se forma em derredor
dessa ótica ou ética do ser...
É um grão resguardado, às vezes preso
na carência do sol de nosso afeto;
na garoa de sonhos entre as nuvens;
nos projetos de vida que não fluem...
Toda nossa esperança está nos pés
e quer mais do que passos pro poder;
do que força pra ter; subjugar...
Há um tempo melhor ao nosso alcance;
uma chance de gente virar gente;
reaver o sentido que perdeu...
AVECEDÁRIO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Foi depois de um AVC
que muita gente aprendeu
o ABC da superação.
RODA-MORTA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Muita gente não veio ao mundo para ser gente. Não em essência. Uma gente urgente, marcada para correr. Para nunca saber que o presente é tempo, e que o passado é uma escola da qual não devemos abrir mão, por mais que a vida nos leve avante. Ele nos orienta pro futuro, e revela que o mesmo estará sempre lá, quer corramos ou não.
Gente que vive para ter o que os olhos não alcançam nem os anos de vida justificam. Faz filhos que os outros criarão, e com isso, gera crias do acaso e das babás. Crias que herdarão muitos bens e serão marcadas para correr, chegar na frente, vencer o próximo, e depois sentir que lhes falta o maior bem. O bem-querer.
Esses filhos também terão seus filhos, e nas horas urgentes, dirão que "Deus proverá", como forma de justificativa... como sustentáculo e manutenção da roda-viva de gente que não vive... que transforma tudo que tem numa eterna isca para ter mais. Essa gente não é. Apenas está. Distorce o dom de viver... e troca o ser pelo ter.
GENTE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
O próximo, o semelhante,
podem ser, perfeitamente:
o distante; o diferente...
VIDA POR VIDA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Já não gasto meu lume com gente sombria;
que resvala, ressente, mais mia que fala;
tem os olhos de ocaso e semblante contrito
como quem nunca sai da masmorra que leva...
Não vou mais à procura de gente sem cor,
passageira da dor que por vezes nem há,
resguardada e que nunca se confessa bem,
porque teme que o riso a denuncie fútil...
Afinal me cansei dessa gente remosa,
pesarosa e com ares de pura mortalha;
tem um luto constante, uma nobreza fria...
Quero gente mais viva, menos recolhida,
dou a vida por vida e negocio sonhos
que não cedem ao peso dos que nunca dormem...
APRENDIZ DE SER GENTE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Aprendi a voltar dos portões emperrados,
das muralhas que ostentam avisos sinistros,
para ver se outros lados me deixam passar
com alguma estratégia melhor do que a força...
Estudei as verdades que o tempo dispõe,
pra saber com que rostos virão as quimeras;
tolerar as esperas e conter as idas
pelas quais corra o risco de me arrepender...
Hoje sei não saber que direção tomar,
caminhar com cuidado até sentir o chão
aderir ao meu passo; minha caminhada...
Superei a certeza que sempre foi vã,
e deixei de ser fã das respostas do espelho
que mantive na sala de minhas vaidades...
SER GENTE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Cabe um pouco de fútil no profundo;
ponha um pingo de mel nesse amargor,
uma brecha de amor no seu protesto
e na raiva do mundo que o rodeia...
Tenha sua novela predileta,
torça pelo Brasil no mundial,
mesmo havendo canal alternativo
que projeta contextos sociais...
Queira um pouco de massa muscular
apesar da cefálica e dos dons;
desses bons atributos do seu ser...
Ser alguém mais comum não tira lasca
nem descasca o miolo cultural
dos que temem carimbos populares...
Respeite autorias. Ao divulgar o que não é seu, sempre cite o autor.
TEMPO DE SER GENTE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Faz tempo que decidi não ser uma pessoa sem tempo. Não ao ponto extremo de silenciar ou responder com monossílabos à manifestação de um amigo feliz, preocupado, triste ou solidário que me aborda, pessoalmente ou por instrumento remoto. Especialmente quando esse amigo tem consciência - e demonstra - de que provavelmente o meu tempo é curto, ainda que não seja.
Mesmo com tantos afazeres, tenho tempo de não ser esquivo; de querer saber do que se trata; de não expor meu clássico e delicado "chega pra lá" em quem faço pensar que me é querido. Hoje quero manter quem me quer bem; quem me admira sinceramente e faz questão de uma palavra, um olhar... uma breve atenção - sem tensão -, porque isso é algo raro nos dias de hoje.
Tenho tempo de não julgar que um amigo é um chato; que um admirador não tem noção; que a demonstração de alegria de quem me aborda é algo incômodo a depender da hora, circunstância ou lugar. Desde que passei a ter tempo e medir a importância dessas pessoas em minha vida, me tornei feliz... como julgava ser, no meu falso trono de pessoa sem tempo para ser pessoa.
ESCRITORES E GENTE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Tente não se deixar iludir, pelo menos tão facilmente, com a natureza dos escritores que, assim como eu, abarrotam livros, blogs e redes sociais de pensamentos, reflexões e conselhos sobre virtudes humanas. Você pode ou deve seguir tais conselhos e reflexões, porque são verdadeiros, mas não pense que eles refletem sempre a realidade pessoal de quem os escreve. São muitas as vezes em que os escritores admoestam a si mesmos na segunda ou terceira pessoa.
Ontem, por exemplo, nada menos do que um dia depois de haver escrito sobre serenidade, equilíbrio emocional, tolerância, e até o velho truque de contar até dez, eu estava mais explosivo do que nitroglicerina. Não me sentia disposto a contar nem até meio. Mesmo assim, continuarei a escrever. Pode ser que um dia os meus escritos me convençam a ser exatamente como quero e peço, incessantemente, que o mundo seja... e que assim seja.
SER GENTE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Fui buscar um sorriso em qualquer canto;
procurar um semblante reluzente;
conhecer gente leve, resolvida
com seu pouco; seu algo; seu entorno...
Adentrar Ambientes onde o luxo
vem das flores, da sombra, do arvoredo,
das pessoas sem medo de não ter
o que só se terá por já ter tanto...
Diz ao mundo que fui pro fim do mundo
que no fundo está mais pro seu começo,
mas entendo que tenho de voltar...
Vou catar uns tostões de bom humor,
amor próprio, versão da humanidade
que não acha sentido em nossos dias...
PELOS CORTES DA VIDA
Demétrio Sena, Magé – RJ.
É que a gente se foge de tanto fugir;
já não pode com nada, mas quer se poder;
nem quer mais se fundir ao que a vida forjou,
mas no fundo se toca; está toda fundida...
Nada pode salvar a quem o mundo pode,
pois explode no abismo de quem foi podido,
foi fugido e não foge do alvo da fuga
cuja rota lhe foge no fim da ilusão...
Quando a gente se arvora o mundo vem podar
pelos cortes da vida, pois a vida é poda;
uma roda cortante que o mundo não cega...
Ninguém pode poder o que pode sem fim,
apesar de fundida sei que a gente foge
pelo sim, pelo não, de ser o que não é...
GENTE FELIZ
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Obrigado por tudo, embora tenha
dado em nada; no vácuo; no deserto;
céu aberto sem fundo nem visão
para nova esperança noutro amor...
Obrigado, inclusive, por não ter
se obrigado a mentir um pouco mais;
por me ver como alguém que merecia
ver a sua real identidade...
Fui feliz porque fui, não fiz de conta
e gostei do licor falsificado,
sendo amado apesar de não ter sido...
Não se culpe da culpa que hoje sente
quando mente outra vez pra não sei quem;
é alguém que porcerto está feliz...
GENTE VIVA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Gente viva me atrai porque tem luz,
não há peso nos traços, na expressão,
seu olhar não tem sombra nem capuz
ou algemas; ranger de assombração...
Muita gente se priva da emoção
de sonhar e se abrir ao que a seduz,
tem um tom de flagelo e contrição
como quem se corrói ao pé da cruz...
Quero laços com gente sem amarras;
que se atira, se doa, mostra garras,
não parece viver atrás da porta...
Nunca mais interajo com granito;
quem não tem atitude; só tem rito;
já me canso de gente meio morta...
NEM LUXO NEM LIXO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Creio em gente que diz o que os olhos atestam;
o que nada retém, adverte ou previne;
tenho fé no semblante que desnuda o corpo
e lhe torna vitrine sem filtro fumê...
Louvo gente bem gente, não capa e verniz,
idolatro a grandeza da simplicidade,
quanto menos é deus mais alguém me seduz,
quanto menos é cruz mais comove o caminho...
Não há luxo nem lixo nos meus ideais,
nada mais, nada menos do que me completa
ou me solta no livre compasso do tempo...
Faço culto às pessoas de boa vontade,
que não têm a verdade como sua escrava
e vieram ao mundo pra viver ao vivo...
ATÉ A MORTE CHEGAR
Demétrio Sena, Magé.
Conheci muita gente com cara de nada;
sem nenhuma expressão de qualquer sentimento;
não havia momento, repente, mudança,
um registro da alma na flor da expressão...
Vi pessoas talhadas pra serem assim
ante a dor, o contento, a vontade, a repulsa,
no começo, no fim ou no meio do caos,
nas expectativas e nas descobertas...
Muita gente parece de bronze ou de gesso,
reza um terço imutável que nunca termina,
deixa o mundo girar e não cai do suporte...
Vejo rostos em branco, sem nenhuma pauta,
só a falta da falta que que a vida não faz
nessa paz de quem morre até que a morte chegue...
DOM DE SER GENTE
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Venho aqui para despregar. Ou para pregar a desconversão do que desumaniza o que somos. Desconverta-se agora e se livre do bem que jamais lhe fez bem algum. Só lhe causou conflito, angústia, medo e remorso do que não requer tanto peso. Torne-se bem mais leve, ao crer mais no momento que na eternidade construída sobre coisas que, além de coisas que são, moram longe. Muito longe. Muito além das emoções naturais de quem nasceu para ser livre. Responsavelmente livre.
Nunca mais se castigue assim para se libertar. Não há liberdade no masoquismo nem na culpa constante que você só tem porque a venderam para sua consciência. Desligue-se do inferno constante que promete um céu para depois, quando você não puder mais cobrar. Nos ilimites do espaço existem mistérios que só pertencem a si mesmos. Que ninguém conhece como tantos dizem que sim.
Há um deus humano em cada um de nós, que não exige a santidade forjada exigida nos outros, por aqueles que sabem do que falo. Não se poupe de nada que não seja nocivo, especialmente ao próximo, e viva para o mundo. Afinal de contas, é o mundo em que vivemos. Tenha vontades próprias e se capacite a cada dia, para regê-las de acordo com sua consciência e com o arbítrio que é todo seu. Não das gaiolas onde os pretensos donos da verdade querem mantê-lo cantando para eles.
Tome a vida que vibra em seu entorno. Pegue-a e dê de presente a si mesmo, e seja um presente para os outros. É o dom de ser gente que nos autentica e põe alma na pele. É o todo, por dentro e por fora, que nos canoniza para cometermos os pecados naturais, inofensivos e sem pecado, com os quais nascemos. Ninguém consegue nem precisa deixar de ser pecador. Basta manter a humanidade.
VERSOS DE ALERTA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Pense um tempo de gente que achou equilíbrio
entre todas as formas de avanço e conquistas,
pois lançou suas vistas além do seu eu;
desaguou na importância de todos os seres...
Veja um mundo em que todos têm tempo de amar,
porque viram que o tempo se refaz e rende,
quando a gente se aprende nas lições do outro
e se mira no aço das próprias verdades...
Uma vida mais leve reside no casco
do que pode não ser mas compramos que sim,
sob o fim que se vende como sem saída...
Reatemos os elos do sonho rompido,
somos mais do que pedras em nossos caminhos
ou espinhos trocados em nome do nada...
GENTE ARCADA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Nunca tive talento com gente de bolha,
que se quebra no ar à menor vibração,
ou é folha varrida por todos os ventos
e não sabe o que sente; nem sabe o que sabe...
Faço curva pra gente quebrável demais,
que desanda, esfarela, perece ou resvala,
se mascara e se cala sobre seus conflitos
pra depois cometer injustiças vencidas...
Quem jamais se resolve ou resolve o que for,
feito flor de soprar que se deixa na mão
e seu talo, no chão, vai pra baixo dos pés...
Sempre tive cuidados com gente marcada
para ser vitimada por tudo ao redor,
uma dó de si mesma e mil mágoas do mundo...
MORTOS-VIVOS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
‘Falo com gente morta,
O tempo todo’.
Gente que criou lodo
e virou porta.
Vivo com gente fria,
sem emoção,
sem sentimento.
Que ficou vazia,
verteu no chão,
sobre o cimento.
Gente sem veia, calo,
feito rebanho,
de alma torta.
Parou entre o ralo,
o banho
e o rodo.
‘Falo com gente morta,
O tempo todo’.
