Menina dos Cabelos Escuros
Parei perto, quase como se fosse magneticamente puxada. Cabelos castanhos escuros, bagunçados pro lado. Barba quase que rala emoldurando seu rosto rígido. Sobretudo preto aumentando o ar de mistério de sua feição. Branco, quase pálido e com um olhar capaz de fazer você morrer de amor pelo menos trinta e nove vezes em apenas uma hora. Aquele tipinho de vampirinho de ficção romântica que encanta qualquer menina de dezesseis anos, e mesmo que já não tenha mais tal idade, aquele olhar te fará voltar a ter. Mas o que mais me chamou a atenção foi que ele tinha um livro nas mãos.
Estou sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor e de pior. Vejo sua feiura e sua beleza e me pergunto como uma coisa pode ser as duas.
O ser humano não tem um coração como o meu. O coração humano é uma linha, ao passo que o meu é um círculo, e tenho a capacidade interminável de estar no lugar certo na hora certa. A conseqüencia disso é que estou sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor e de pior. Vejo sua feirúra e sua beleza, e me pergunto como uma mesma coisa pode ser as duas. Mas eles tem uma coisa que eu invejo. Que mais não seja, os humanos têm o bom senso de morrer.
Como a maioria dos sofrimentos, esse começou com uma aparente felicidade.
Por algum motivo, os homens agonizantes sempre fazem perguntas cujas respostas já sabem. Talvez seja para poderem morrer tendo razão.
Olhou para o rosto sem vida, e então beijou a boca do seu melhor amigo, Rudy Steiner, com suavidade e verdade. Ele tinha um gosto poeirento e adocicado. Um gosto de arrependimento á sombra do arvoredo e na penumbra de coleçao de ternos do anarquista. Liesel o beijou demoradamente, suavimente, e, quando se afastou, toucou-lhe a boca com os dedos.
-Que tal um beijo, Saumensch?
Ficou parado mais alguns instantes, com água pela cintura, antes de sair do rio e lhe entregar o livro. Tinha as calças grudadas no corpo e não parou de andar. Na verdade, acho que ele sentiu medo. Rudy Steiner ficou com medo do beijo da menina que roubava livros. Devia ter ansiado muito por ele. Devia amá-la com uma intensidade incrível. Tanto que nunca mais tornaria a lhe pedir seus lábios, e iria para sua sepultura sem eles.
Ele era o segundo boneco de neve a derreter diante de seus olhos, só que esse era diferente.
Era um paradoxo. Quanto mais frio ficava, mais derretia.
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