Martha Medeiros Homem e que nem Biscoito

MEU LUGAR.

Sou do nordeste meu povo
das terras de Virgulino
por esse chão que me movo
vou desenhando o destino
e se eu nascesse de novo
pode até ser de um ovo
mas tem que ser nordestino.

SOU EU!

No jardim da ignorância
cada grão brotado é bruto
a semente da arrogância
não valoriza o produto
preconceito em abundância
é árvore sem relevância
cresce... mas não dá fruto

RUMO!

Pode sensurar meu jeito
minha cor ou meu destino
nada muda o meu conceito
não desvaira o meu ensino
maior que seu preconceito
é o prazer dentro do peito
de dizer... sou nordestino.

NÃO DÁ.

Nesse país que vivemos
tem Rei, Rainha e CALIFA
nós plebeus é quem sofremos
porque tudo aqui se RIFA
todos juntos poderemos
e o país que nós queremos
tem que ser no padrão FIFA.

VERDE

pigmento
dá cor à pupila
e reflete a vida
do verde clorofila

enquanto alegre.eu cante
não haverá que desintegre
tanto quanto me desencante

Gastar é muito gostoso, pena que o dinheiro seja demais custoso.

O frio deste ice bar
não me fez arrepiar
mas querer um quente afagar

eu, e aquele urso
de jaqueta e sem polo
sem direção, sem norte
tão longe do polo norte

Para que uma obra-prima nasça, de antemão, há de haver a mão que a faça. O belo não surge sem um elo.

O que escrevo, quando não é poético, só pode ser patético.

SUA POESIA

a garganta vibra
enquanto canta
tanto quanto encanta
entoa em bela melodia
o que pra muitos soa música
pra mim sua poesia

HOSPÍCIO

vivo num concreto espaço
e fujo da besta draconiana
tão besta quanto insana
ela degrada pelo cansaço
a fraca mente humana
aqui, neste louco hospício
neste pouco espaço
isolo-me do homem demente e mal-encarado
imundo, mas bem-humorado
vejo-me são num mundo deturpado
para além daquela porta
reina a insanidade, a vida de ilusão
mas aquém da vida torta
apenas eu, e meu mundo são
neste cubículo
tão concreto como abstrato
eu vejo o meu retrato
e nele percebo
o quanto sou ingrato
já vivi lá fora
e um dia fui um louco
agora, eu tenho um grande amigo
o médico do inimigo
hoje me chamou, sorriu e escancarou:
- lamento, meu amigo, mas a inês é morta.
lamento pela Inês.

ILUSÃO LATENTE

a consciência
já não mais é consciente
e a vida
embora ainda exista
é ilusão latente
mesmo que persista
no tal inconsciente

Do beijo veio a palpitação
dela, um forte desejo
e naquele ensejo
só emoção

colheres sepulcradas
na argila do passado
remontam ao desconhecido
embebido por milênios
de águas dirpersas no tempo
pouco se revela
do muito que se vela
à luz da incapacidade humana

Sentimento se sente, não se descreve. Se fosse para descrever, seria descrevimento.

SOU NORDESTE!

Conversa apenas consome
não salva o cabra da peste
promessa aqui não se come
não mata a sede nem veste
mesmo na seca e na fome
quem esqueceu o meu nome
ainda me chamo Nordeste.

DESIGUALDADE.

Falta saúde e educação
falta alimento também
gente com mais de um milhão
outras sem nenhum vintém
o que destroça um coração
é um filho pedir um pão
e a mãe dizer que não tem.

SENTIR.

Muita gente ainda explora
pra viver enriquecendo
pensa apenas no agora
que está lhe favorecendo
não agradece uma hora
mostra ser feliz por fora
mas por dentro está morrendo.