Martha Medeiros Homem e que nem Biscoito
A princípio bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos!
Atravessar fronteiras era um desejo meu desde menina, incluindo as fronteiras mentais, não apenas as geográficas. Conhecer, descobrir, avançar, aprender: verbos que de certa forma me definem, todos relacionados com o exercício da liberdade.
Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo que não seja uma euforia,um entusiasmo, mesmo que seja uma melancolia. Sentir é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do fazer, que é conjugado pra fora.
É mil vezes preferível uma voz que diga coisas que a gente não quer ouvir, pois ao menos as palavras que são ditas indicam uma tentativa de entendimento.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Nota: Trecho da crônica "As razões que o amor desconhece" de Martha Medeiros.
Envelhecer, quem sabe
não seja assim tão desastroso
me interessa perder esta ansiedade
me atrai ser atraente mais tarde
um pouco mais de idade, que importa
envelhecer, quem sabe
não seja assim tão só
Mais que as mentiras, o silêncio é que é a verdadeira arma letal das relações humanas.
Eu já fui um caramujo ambulante, daquelas criaturinhas desconfiadas, que torcia o nariz para tudo o que não fosse xerox do meu pensamento. Desprezava os diferentes de mim e com isso, claro, custava para encontrar meu lugar no mundo. Era praticamente um autoboicote. Me trancava no quarto e achava que ninguém me compreendia. Ora, nem podiam mesmo. Aliás, nem queriam. (...)
Quando alguém me diz “como você tem sorte”, penso que tenho mesmo. Mas não a sorte de receber tudo caído no colo, e sim a sorte de ter percebido a tempo que nosso maior inimigo é a falta de humor.
Sem humor, brota preconceito para tudo que é lado. A gente começa a ter mania de perseguição, qualquer coisa parece difícil e uma discussãozinha à toa vira um dramalhão. Prefiro escalar uma montanha a viver dessa forma cansativa.
Caso você não tenha recebido gratuitamente na sua herança genética, dá pra desenvolver por si próprio.
Isso vem ao encontro de algo que sempre defendi, por mais que pareça egoísmo: se quer colaborar com o mundo, comece por você.
Tem gente à beça fazendo discurso pela ordem e reclamando em nome dos outros, mas mantém a própria vida desarrumada. Trabalham naquilo que não gostam, não se esforçam para conservar uma relação de amor, não cuidam da própria saúde, não se interessam por cultura e informação e estão mais propensos a rosnar do que a aprender. Com a cabeça assim minada, vão passar que tipo de tranquilidade adiante? Que espécie de exemplo? E vão reivindicar o quê?
Quer uma cidade mais limpa, comece pelo seu quarto, seu banheiro e seu jardim. Quer mais justiça social, respeite os direitos da empregada que trabalha na sua casa. Um trânsito menos violento, é simples: avalie como você mesmo dirige. E uma vida melhor para todos? Pô, ajudaria bastante
colocar um sorriso nesse rosto, encontrar soluções viáveis para seus problemas, dar uma melhorada em você mesmo.
Parece simplório, mas é apenas simples.
Se a felicidade depende de nossas escolhas, é da sorte a última palavra. Você pode escolher livremente virar à direita, e não à esquerda, mas é a sorte que determinará quem vai cruzar com você pela calçada, se um assaltante ou o Chico Buarque.
O que todos deveríamos aceitar: nosso controle é parcial. Há quem diga até que não temos controle de nada. Não existe satisfação garantida e tampouco frustração garantida, estamos sempre na mira do imprevisível. Treinamos, jogamos bem, jogamos mal, escolhemos bons parceiros, torcemos para que não chova, seguimos as regras, às vezes não, brilhamos, decepcionamos, mas será sempre da sorte o ponto final.
Tenho um problema com esta esfuziante e libidinosa festa popular [Carnaval]. Não consigo me soltar. Todo mundo pula, brinca, se acaba, enquanto eu entro na minha fase mais introspectiva.
Ter liberdade é fácil, difícil é entender que a liberdade não é a troca do velho pelo novo, não é a busca por viver emoções diferentes a cada dia, ou viver de forma intensa atropelando a vida e os sentimentos.
A liberdade pode ser cruel, se você não tomar cuidado ela só mostrará as pessoas a beleza das flores da árvore da sua vida, mas não as raízes de quem você é.
Tudo pode virar passageiro, fútil, inútil. E você refletir exatamente isto. Você pode se tornar uma pessoa extremamente agradável para bons momentos e não uma pessoa para a vida das pessoas, de alguém.
A liberdade não pode e nem deve ser a busca da cura das dores do passado.
O tempo de liberdade ameniza, mas não cura, muito pelo contrário ele pode machucar muito mais.
Porque liberdade também significa escolhas, trocas e abandono, pode te cegar e te fazer freneticamente buscar novas formas de viver, novas aventuras, novas pessoas.
Ela pode te transformar numa pessoa fria, insensível e extremamente dura, criando defesas e mais defesas porque você começa a achar que se apegar, sentir, gostar é uma forma de te podar, de te acorrentar.
Então você isola tudo aquilo que possa "tirar a sua liberdade" e busca a cada dia uma novidade.
"A novidade preenche, mas não substitui, principalmente pessoas"
A liberdade tem que ser vivida não como fuga, como se não houvesse um amanhã, mas sim como forma de fazer escolhas que engrandecem a sua vida, que te levem a conquistas sólidas e não passageiras.
Como disse Pablo Neruda:
"Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências."
E a pior delas é viver por si só, só pensando em você, isto não é liberdade, mas egoísmo.
Seja livre, mas busque o equilíbrio, não perca sua essência, muito menos suas raízes.
Seja livre, talvez vá o mais longe que puder, mas não perca de vista o seu mundo.
Faca da sua liberdade uma ferramenta de construção e não de destruição, da destruição de quem você é.
Todo dia eu procuro me lembrar: dá pra escolher. Não temos controle sobre tudo, mas dá pra escolher.
Passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo, os olhos novamente secos, a boca vazia. Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim. Um novo amor? Nem pensar. Medo, respondemos.
Me pergunto como é que se explica que sentimentos tão fortes como o medo,o amor ou a raiva se desintegrem. Alguém era grande no meu passado, fica pequeno no meu presente. O tempo, de novo, dando a devida proporção aos meus afetos e desafetos.
O silêncio que perturba é aquele que fala. É quando alguém não te responde, não abre uma aba, mesmo assim, você entende a mensagem.
Nota: Paráfrase de trecho da crônica "A voz do silêncio"
E quando vier aquela vontade de chorar imensa que quase rasga a sua garganta, apenas deixe o choro sair, e se possível grite...
Estou cansado de dar conselhos as pessoas que me importo, e no fim elas tomarem a decisão errada. E como sempre, fico com o pensamento do que eu deveria ter feito a "mais" para tomarem a decisão certa...
