Marta Medeiros Elegancia do Comportamento

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Não consigo imaginar algo mais satisfatório do que amar, e mesmo não sabendo o que o amor significa, sei o que representa. É o que nos faz, no meio de uma multidão, destacar alguém que se torna essencial para nosso bem-estar, e o nosso para o dele... Ter uma intimidade milagrosa com a alma de alguém.

"Onde é que eu estava com a cabeça, de acreditar em contos de fada, de achar que a gente muda o que sente, e que bastaria apertar um botão que as luzes apagariam e eu voltaria a minha vida satisfatória, sem seqüelas, sem registro de ocorrência?"

“Que a gente siga cultivando um pouco da pureza, inocência e confiança que a gente tinha aos 8 anos, coisas que acabam se perdendo com a brutalidade do cotidiano. Se eu não sinto saudade da infância, é porque essa inocência de certa forma ainda preservo, porque sem ela ficamos muito ásperos em relação a tudo. Então, sigamos inocentes, mas sem deixar de curtir a magnitude de ser gente grande.”

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o escritório e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

mas é que tem dias em que a gente inventa de se investigar, de lembrar dos sonhos da adolescência, de questionar nossas escolhas, e descobre que muitas coisas deu certo, e outras não. Resolve pesar na balança o que foi privilegiado e o que foi descartado, e sente saudades do que descartou. Normal, normalíssimo. São aqueles momentos em que estamos nublados, um pouco mais sensíveis do que gostaríamos, constatando a passagem do tempo. Então a gente se pergunta: o que é que estou fazendo da minha vida?

Quanto mais escrava
mais escrevo
pra libertar essa mulher da vida
que me habita.

Martha Medeiros
MEDEIROS, M. Poesia Reunida. Porto Alegre: L&PM, 1999.

OS RICOS POBRES
Anos atrás escrevi sobre um apresentador de televisão que ganhava um
milhão de reais por mês e que em entrevista vangloriava-se de nunca ter
lido um livro na vida. Classifiquei-o imediatamente como um exemplo de
pessoa pobre. Agora leio uma declaração do publicitário Washington
Olivetto em que ele fala sobre isso de forma exemplar. Ele diz que há no
mundo os ricos-ricos (que têm dinheiro e têm cultura); os pobres-ricos
(que não têm dinheiro mas são agitadores intelectuais, possuem
antenas que captam boas e novas ideias) e os ricos-pobres, que são a
pior espécie: têm dinheiro mas não gastam um único tostão da sua
fortuna em livrarias, shows ou galerias de arte, apenas torram em
futilidades e propagam a ignorância e a grosseria.
Os ricos-ricos movimentam a economia gastando em cultura,
educação e viagens, e com isso propagam o que conhecem e divulgam
bons hábitos. Os pobres-ricos não têm saldo invejável no banco, mas
são criativos, efervescentes, abertos. A riqueza desses dois grupos está
na qualidade da informação que possuem, na sua curiosidade, na
inteligência que cultivam e passam adiante. São esses dois grupos que
fazem com que uma nação se desenvolva. Infelizmente, são os dois
grupos menos representativos da sociedade brasileira.
O que temos aqui, em maior número, é um grupo que Olivetto nem
mencionou, os pobres-pobres, que devido ao baixíssimo poder
aquisitivo e quase inexistente acesso à cultura, infelizmente não
ganham, não gastam, não aprendem e não ensinam: ficam à margem,
feito zumbis. E temos os ricos-pobres, que têm o bolso cheio e poderiam
ajudar a fazer deste país um lugar que mereça ser chamado de
civilizado, mas nada disso: eles só propagam atraso, só propagam
arrogância, só propagam sua pobreza de espírito.
Exemplos? Vou começar por uma cena que testemunhei semana
passada. Estava dirigindo quando o sinal fechou. Parei atrás de um Audi
do ano. Carrão. Dentro, um sujeito de terno e gravata que, cheio de si,
não teve dúvida: abriu o vidro automático, amassou uma embalagem de
cigarro vazia e a jogou pela janela no meio da rua, como se o asfalto
fosse uma lixeira pública. O Audi é só um disfarce que ele pôde
comprar, no fundo é um pobretão que só tem a oferecer sua miséria
existencial.
Os ricos-pobres não têm verniz, não têm sensibilidade, não têm
alcance para ir além do óbvio. Só têm dinheiro. Os ricos-pobres pedem
no restaurante o vinho mais caro e tratam o garçom com desdém,
vestem-se de Prada e sentam com as pernas abertas, viajam para Paris
e não sabem quem foi Degas ou Monet, possuem tevês de plasma em
todos os aposentos da casa e só assistem programas de auditório,
mandam o filho pra Disney e nunca foram numa reunião da escola. E,
claro, dirigem um Audi e jogam lixo pela janela. Uma esmolinha pra
eles, pelo amor de Deus.
O Brasil tem saída se deixar de ser preconceituoso com os ricos-ricos
(que ganham dinheiro honestamente e sabem que ele serve não
só para proporcionar conforto, mas também para promover o
conhecimento) e se valorizar os pobres-ricos, que são aqueles inúmeros
indivíduos que fazem malabarismo para sobreviver mas, por outro lado,
são interessados em teatro, música, cinema, literatura, moda, esportes,
gastronomia, tecnologia e, principalmente, interessados nos outros
seres humanos, fazendo da sua cidade um lugar desafiante e
empolgante. É esse o luxo de que precisamos, porque luxo é ter
recursos para melhorar o mundo que nos coube. E recurso não é só
money: é atitude e informação.

É lá no fundo que estão as razões verdadeiras que levam as pessoas a mudarem ou a manterem as coisas como estão. É lá no fundo que os desejos e as necessidades se confrontam. Em vez de nos queixarmos, ganharíamos mais se nadássemos até lá embaixo para trazer a verdade à tona. E então deixar de sofrer."

"Eis uma frase, uma verdade, um verso: dá pra escolher. Todo dia, ao levantar da cama, eu procuro me lembrar: dá pra escolher. Nem eu nem você estamos jogados ao léu, nas mãos do destino. Não temos controle sobre tudo, mas dá pra escolher entre ter amigos ou viver recluso, dá pra escolher entre privilegiar um amor ou ter vários casos superficiais, dá pra escolher entre participar ativamente de um projeto que alavanque nosso bem-estar ou ficar de fora apenas criticando, dá pra escolher entre se refugiar num lugar tranqüilo ou aprender a lidar com o stress urbano, dá pra escolher entre levar a vida com bom-humor ou levar a vida na ponta da faca.
Tudo é uma escolha, inclusive ser velho ou ser jovem, e isto não se resolve apenas numa clínica de estética. Todas as nossas escolhas passam pelo estado de espírito. É ele que vai determinar se vamos viver uma vida mais simples ou mais complicada, mais solitária ou mais social, mais produtiva ou mais lerda. Dá pra escolher entre ser carnívoro ou vegetariano, entre fumar ou não, entre correr na praia ou ficar um pouco mais na cama, entre jogar paciência ou ler um livro, entre amores serenos ou amores turbulentos. Se a escolha será acertada, aí já é outro assunto, o futuro vai dizer."

"E sabe que serão importantes na história um do outro para sempre, independentemente de tudo que estiver pra acontecer."

"Quando ele sorri, doce, imagino meus filhos."

Meu marido, como gosto de imaginá-lo, tem os ombros largos de proteção e abraço eterno. Tem uma mão grande que serve para tudo: desde atravessar a rua segura até sentir prazer sem medo das horas.
"(...)Quando ele sorri, doce, imagino meus filhos. Exatamente com aquela ironia pura estampada na cara: um misto de esperteza com falsa esperteza. Quando ele acorda e eu acordo, e nos olhamos, é sempre uma promessa de que a vida não vai acabar porque sempre acordaremos juntos. E para sempre vamos nos amar mesmo com o desgaste das olheiras e remelas. Respiro aliviada e mesmo distante de Deus eu sinto que ele abençoa tudo aquilo."

“Você pode conhecer vinte caras bonitos e que te entendem muito bem, dez caras legais que cuidam de você como se fosse um diamante precioso, uns outros tantos inteligentes, atraentes, bacanas e engraçados em ordem aleatória. Nenhum deles te encanta. Por que? Falta o tão chamado click, aquele jeito especial que ninguém explica. Pode ser o jeito de mexer no cabelo, a forma como ele te olha, que conversa contigo ou até mesmo um jeito secreto que nem o profeta mais sábio percebe, mas que está lá, você pode ver. Entre tantos milhares, talvez um ou outro se salve ao filtro do ‘jeito’, e daí você percebe: é esse que eu quero abraçar e não largar mais, com quem eu quero me enrolar embaixo de cobertores e com quem eu quero dividir todos meus segredos. Baseado no que? Num jeito inexplicável ao resto do mundo.”

Temos amores necessários e amores contingentes ao longo da vida.

Não havia um único dia em que eu não escutasse de você o quando me amava, dizia no meu ouvido ou através de bilhetes, te amo, te amo, como é que você fez para incinerar todo esse amor em tão pouco tempo, onde o escondeu, em algum guarda-volume de rodoviária, enterrou em algum matagal, como é que seu amor foi desaparecer sem deixar pista, rastro, feito um crime perfeito?

Martha Medeiros
MEDEIROS, M. Fora de Mim. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2010.

Por um lado, não me sinto como as outras pessoas e, por outro, sou exatamente como elas."

“Obrigada por insistir para eu voltar pra você, para eu deixar de ser adolescente e aceitar uma vida a dois, uma família, uma serenidade que eu não suspeitava. Eu não sabia que amava tanto você e que havia lhe dado boas pistas sobre isso, como é que você soube antes de mim?”

O único silêncio que perturba é aquele que fala. E fala alto. É quando ninguém bate à nossa porta, não há recados na secretária eletrônica e mesmo assim você entende a mensagem.

Martha Medeiros
Crônica "A Voz Do Silêncio", 1999.

Nota: Trecho da crônica "A voz do silêncio"

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“Foram os livros que me deram consciência da amplitude dos sentimentos. Foram os livros que me justificaram como ser humano. Foram os livros que destruíram um a um meus preconceitos. Foram os livros que me deram vontade de viajar. Foram os livros que me tornaram mais tolerante com as diferenças.”

" Eu já não te amava com a mesma insensatez. Bastou saber que você havia pensando em mim, fosse pela besteira que fosse, e o meu coração já batia mais devagar, ganhava autoconfiança, eu podia voltar a respirar."

"A gente nunca fica satisfeita com os desfechos de nossos relacionamentos: se não conseguimos esquecer alguém, sofremos. Se conseguimos, lamentamos o quão pueril tornou-se o passado. Senti uma fisgada hoje pela manhã que nada mais era do que a dor da perda, mas não a perda de uma pessoa, e sim de uma etapa vencida. Acho que agora compreendo quando, ao subir uma montanha muito íngreme, recomendam que a gente não olhe para baixo."

você
não sente a minha falta

e eu
sem ti

Martha Medeiros
MEDEIROS, M. Poesia Reunida. Porto Alegre: L&PM, 1999.

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