Machado e Juca Luiz Antonio Aguiar
Não sei onde começo,
Nem onde acabo. E outra
Dúvida se acrescenta:
Quando eu morrer
Qual dos meus eus estará
Sendo enterrado comigo?
E os outros, os que não me
Seguirem, continuarão
Vagando por ai, continuando
A expor o meu tormento?
Se eu te disse que nasci
Um só e que morri
Vários, foi porque o dom
Da vida se dispersou
Em mim, fazendo de um
Só poeta possível, um
Deserto permeado. Só os
Veros poetas nascem vários
E morrem um só, Eupalinos!
O livro-arbítrio
Morreu. Batem à porta.
— É o destino. Seja,
Ou o nome que os fados
Tenham. É inadiável,
Intransferível.
Confesso que estou cansado.
Sobretudo, de mim mesmo.
Se o telefone tocar digam
Que não estou. Quero ficar
Sozinho. Nem quero saber
O que se passa no mundo.
Até a fé na vida perdi.
Não me suporto mais.
Este conflito já dura
Demais entre eu e
Mim mesmo. Vejo
Que vivi uma vida de sonho
Num mundo de cães.
E se me observo melhor,
Percebo que estou latindo.
Minha casa volante
De vazio e sonho.
O trapézio em que
Me equilibro desde
O dia em que nasci.
A jaula das feras
Com que convivo.
Os palhaços que
Nos reproduzem.
Os domadores que
A nem todos domam.
As amazonas que
Não sabem amar.
O público que não
Nos vê e não aplaude.
Circo: círculo
Concêntrico desta
Roda viva
De purgação
E espera.
Mas se o circo parte
Fico ainda mais só.
És bela, eu velho;
Tens amor, eu tédio.
Que adianta seres
Bela, se a beleza
É coisa externa que
Não está no coração?
E minha velhice
Não te interessa
Já que, na vida,
Seguimos destinos
Opostos.
Tens amor, bem sei
É próprio da idade,
Que amor é
Tão somente impulso
Da natureza cega,
Para perpetuar
A miséria amarga
De nosso próprio
Infortúnio.
És bela, fui moço,
Tens amor, eu... medo.
Ó crise de ações,
Que dás o sofrer
E, a ti, dão lições!
Ó crise de amor,
Que dás o gemer
E, a ti, dão calor!
Políticos, embora nos mandais;
Mulher e filhos, temos de deixar.
Novos empregos, temos de arranjar...
Ides ver se de nós vós vos soltais!
In VERSOS - Trovas e Sonetos
Alguns bancos a fechar
E o Zé-povinho a pagar.
As empresas a falir...
A ordem é p'ra fugir!
In VERSOS - Trovas e Sonetos
Governar assim não custa;
Todos sabem liderar...
Estas regras não são justas,
Pois os bens podem esbanjar!
In VERSOS - Trovas e Sonetos
Com mentiras arquitetam...
E as nossas vidas, nos tramam!
Passam-nos pura utopia
E um mundo de fantasia.
In VERSOS - Trovas e Sonetos
Perdemos a identidade;
Vivemos de caridade.
A colina será dada,
Quase, em troca de nada!
In VERSOS - Trovas e Sonetos
Eles causam os problemas
E vivem de estratagemas.
Nós temos que obedecer,
Para não ter de sofrer.
In VERSOS - Trovas e Sonetos
Alguns, altos cargos são cobiçados
Mas, só os bandidos os podem ter.
Muitos dos seus dados são deturpados,
P'ra bons empregos poderem obter.
In VERSOS - Trovas e Sonetos
Já não existem valores,
Nas nossas sociedades.
Muitos vivem dos horrores
E das suas crueldades!
In VERSOS - Trovas e Sonetos
À religião, vão dar
Um fim ao anoitecer;
Outro Deus, vão arranjar
E, todos, nele vão crer!
In VERSOS - Trovas e Sonetos
Ó, agraciados, cicerones,
Que em nós pondes as vossas verdades!...
Originais as guerras e as fomes;
Viveis fechados, pois sois cobardes!
In VERSOS - Trovas e Sonetos
Religiões, haveis de banir;
Só vosso Deus será venerado.
Presidentes ireis conduzir,
P'ra criação do vosso reinado!
In VERSOS - Trovas e Sonetos
Dinheiro, que estais no céu,
Não me prives de te ter!
Até, por ti serei réu,
Se me deres de beber.
In VERSOS - Trovas e Sonetos
