Lira dos vinte anos
" Tentando expurgar os demônios que me atormentam; afogo-me, flagelo-me.
Lagrimas quentes, grito enclausurado e um suspiro longo pra certificar que ainda estou viva.
até quando terei que sabotar-me na esperança de pagar pelos erros outrora cometidos?"
"Pra amar, tem que conhecer. Pra amar, tem que se perceber. Pra amar, tem que doer um pouco. Porque dói, é uma descoberta, é uma mudança, é um se ver no outro, é um ver o outro exatamente como ele é - e ainda assim amar."
Quem ama o caminho do conhecimento nunca terá uma mente infértil e inútil para sociedade, sempre buscará formas de resolver problemas e desvendar enigmas implantados no meio social.
Finalmente, esses dias, admiti para mim mesma que não sou mais uma pessoa tão aberto ao amor quanto era há dez anos.
O mundo, afinal, é um espelho, dizem, e vemos sempre nossa cara.
Se ouvia batidas na porta, eu a abria.
Amor, basta querer. É um potencial.
Pois eu não acredito no amor como uma coisa pronta: ele aparece com uma possibilidade e você a desenvolve, com suas forças, com sua energia, com a pequenina sabedoria que nós humanos temos.
Com seu próprio amor.
O amor entre duas pessoas é desenvolvido através do amor de cada um dos participantes. Do quanto eles querem se entregar a esse desenvolvimento e colocar trabalho amoroso nisso. Como ingredientes que se acrescenta pouco a pouco ao longo dos dias, semanas, meses, anos ou, às vezes, se retira.
O amor entre duas pessoas é uma oportunidade. Um investimento para diferentes e simultâneos prazos.
Você olha para uma semente de mostarda e, mesmo sem conseguir ver a árvore, você rega.
Não penso que os amores que dão mais certo são aqueles em que a coisa é instantânea. Não acredito em amor à primeira vista (embora também não duvide).
Quem acredita em amor à primeira vista está sempre procurando. E sempre encontra. Um atrás do outro.
E, assim, por diversas vezes estendi a mão a outras pessoas. E, quando pensei que nossas mãos iam se tocar, o outro braço se recolhia.
Claro, tive encontros de outra natureza nesse meio tempo. Mas era outra coisa.
Claro, também recolhi o braço para mãos que se estendiam para mim.
Porém, sinto uma exaustão emocional, quase uma incapacidade ou uma falta de vontade de abrir a porta, de construir algo tão grande como já, com outra pessoa, cheguei a construir.
Porque, no fim, tudo desmorona mesmo... é como me sinto agora.
O mundo é um espelho. Talvez eu esteja encontrando também pessoas indispostas a isso. Sinto tudo muito superficial. Sinto as pessoas querendo só a superfície, ainda que eu busque a profundidade.
Mas mesmo havendo as possibilidades, não tenho tido à vontade o ânimo de acalentar.
Não sei nem se estou me tornando amarga. Mas está me faltando vontade de investir, de deixar alguém se aproximar, tudo me parece tão sem sentido, tão vazio, que me falta coragem para recomeçar, se é que tem algo para recomeçar...
Nem sempre eu tô feliz como parece.
Enfim...
Talvez eu já tenha vivido mais coisas do que é comum para a maioria das pessoas nesse quesito e já devia me dar por feliz.
Talvez eu esteja chegando a uma fase da vida em que eu devo aprender outros tipos de amores.
Não os arrebatadores. Nem os construídos cuidadosamente.
Mas os inevitáveis. Os resignados. Os que já vêm prontos e a gente aceita com um sorriso e lágrimas de gratidão.
Quem sabe se aí tem coisa...
Tenho medo sabe? Medo de não conseguir amar no futuro, medo de não ser o suficiente para alguém, medo de não conseguir retribuir. Um recado para você pessoa do futuro que talvez possa vir a me amar. Você me desculpa viu? Eu não vou saber retribuir. Me desculpa se eu falhar com você, me desculpa se eu não conseguir fazer de tudo, me desculpa se o meu tudo não for o suficiente.
Acontece que antes de você teve alguém, e essa pessoa levou tudo o que tinha aqui.
Então não perca seu tempo comigo. Eu não sou um corpo que você achou na noite. Eu não sou uma boca que precisa ser beijada por outra qualquer... quando estiver comigo, seja todo você. Corpo e alma. Ás vezes, mais alma. Às vezes mais corpo. Mas, por favor, não me apareça pela metade.
