Lilian poesias
A obra de arte pode acessar nosso inconsciente, despertando estranheza e desconforto ao resgatar conteúdos reprimidos. O deslocamento do olhar revela o confronto com significados ocultos, convidando-nos a explorar e simbolizar esses conteúdos.
Lilian M.Dutra Pugliese
Nossos traumas moldam os labirintos da nossa mente, criando caminhos sinuosos para a ansiedade.
Lilian M Dutra Pugliese
A sincronicidade é a dança harmoniosa do destino e do livre-arbítrio, guiando-nos pelo caminho da evolução pessoal.
Lilian M Dutra Pugliese
A verdadeira inteligência não reside apenas no conhecimento adquirido, mas na capacidade de questionar e aprender continuamente
Lilian M Dutra Pugliese
A jornada da perda é uma oportunidade para explorar a dualidade da existência humana, lembrando-nos de que somos seres complexos, em constante luta entre o desejo de viver e a tendência à autodestruição.
Lilian M Dutra Pugliese
A pulsão de morte pode se manifestar na dor da perda, mas também podemos encontrar força na pulsão de vida ao aprender a amar e cuidar de nós mesmos.
Lilian D Pugliese
A empatia é uma ponte para a compreensão mútua, permitindo que nos conectemos além das diferenças.
Lilian Dutra Pugliese
Enxergar a beleza nas pequenas coisas é um sinal de perspicácia, pois é nos detalhes que a magia da existência se revela.
Lilian Dutra Pugliese
A coragem intelectual reside em desafiar nossas próprias crenças e estar disposto a aceitar a mudança diante de novas evidências.
Lilian Dutra Pugliese
Meu coração bate de forma distinta,
Um ritmo novo, mais ofegante.
Ele me deixou pulsando,
Uma vibração que há muito não sentia.
Vivemos em mundos que não se tocam,
E, no entanto, encontro-me envolvida,
Sentindo algo por alguém
Que desafia o meu conforto.
Como é possível, pergunto-me,
Que a diferença possa gerar tal atração?
Que a alteridade possa despertar
Essas profundezas em mim?
Talvez seja na divergência que reside,
Onde a alma encontra um espelho
Em um reflexo inesperado.
O encontro, mesmo que breve, encheu-me de pulsações deliberadas, ora de morte, ora de vida. Esse fim constante e delirante, guardarei só para mim, como é do meu jeito levar de ti o que ficou em mim.
Quando não sei pintar, eu escrevo; quando não sei escrever, eu pinto. E quando nenhuma dessas linguagens me basta, eu esculpo. Se não há nada para escrever, pintar ou esculpir, uso meu corpo como instrumento, expressando meu ativismo através da linguagem. Essa é a essência da minha arte: uma busca constante por comunicar o que palavras e formas não podem captar plenamente. É a tradução das profundezas do meu ser em atos criativos, sempre explorando as possibilidades infinitas da expressão.
Estamos vivendo em tempos de profunda superficialidade, onde o espetáculo devora o sentido e nos priva da pausa necessária para existir. A sociedade do cansaço exige um desempenho extenuante, enquanto a validação momentânea alimenta ansiedades que ficam sem nomear. A violência, tanto física quanto mental, molda relações e silencia almas, fragmentando aquilo que poderia ser inteiro.
Nossas interações se transformaram em vitrines e nossos afetos, em mercadorias. Nas redes que prometem conexão, encontramos distância; na busca por relevância, nos perdemos de nós mesmos. Vivemos no teatro do vazio, onde tudo parece urgente, mas quase nada é essencial.
Resistir é um ato de coragem e cuidado. Precisamos reencontrar o silêncio que nos reconcilia, o olhar que acolhe, a arte que inquieta e a palavra que nos devolve ao real. Só assim poderemos escapar das armadilhas do espetáculo e resgatar a integridade de quem realmente somos.
Feliz Festas
Que este novo ciclo seja doce, mas também consciente,
que sua leveza carrega a força de quem confirma
o próprio lugar no tecido da vida.
Que ao olhar para dentro, você encontra o vasto:
os rios que correm no seu peito,
as florestas que habitam seu silêncio,
e as sensações que esperam sua coragem para germinar.
Somos todos parte da mesma terra,
somos os pés que pisam e as mãos que cuidam,
o fogo que transforma e a água que renova.
Que podemos lembrar que, ao cuidar do mundo,
cuidamos de nós mesmos.
E que, ao final de cada dia,
você celebre a grandeza de ser quem é,
e se permita caminhar com ternura,
sabendo que é em cada gesto
que o amanhã começa a florescer.
Feliz novo ciclo!
Palácio de Queluz: Um Encontro de Descolonização
No quadro "Palácio de Queluz", proponho uma inversão simbólica da história: e se os povos indígenas brasileiros atravessassem o Atlântico, invadissem Portugal e reivindicassem o que lhes foi tirado?
Recrie o Palácio de Queluz como palco de uma devolução imaginária. Não se trata apenas de revanche, mas de justiça histórica, em que as riquezas extraídas das terras indígenas voltam às suas origens. A recente repatriação do manto tupinambá da Dinamarca, após mais de 300 anos, inspira essa reflexão. Esse símbolo sagrado ecoa a luta dos povos indígenas por memória e pertencimento.
Vocês podem considerar esse pensamento utópico, mas, se o trouxermos para os dias atuais, veremos que a colonização persiste em novas formas. À medida que as big techs continuam a colonizar nossos territórios, explorando dados e lucros sem retribuir de forma justa às comunidades afetadas, temos uma nova versão da exploração que repete as dinâmicas coloniais do passado.
Minha busca aqui não é apenas despertar a imaginação, mas também provocar uma inquietação política. Essa inversão desafia as narrativas de poder, expõe as feridas da incursão portuguesa e provoca a pergunta: o que significa devolver o que foi tomado?
Assino esta obra como um gesto artístico e político, para repensarmos os lugares que ocupamos no passado e os que podemos recriar no futuro.
Mulheres de Pano e Terra
Vieram de longe, cruzaram o mar,
trouxeram a cruz, o aço e a fome,
tomaram o chão, queimaram os nomes,
fizeram o sangue da terra jorrar.
Os povos caíram, as terras sangraram,
ergueram engenhos, correntes, senzalas,
o açúcar crescia, o latifúndio mandava,
e o povo do Nordeste aprendia a lutar.
Mas quando o homem partiu sem aviso,
quem ficou foi o ventre, a enxada e a dor.
Foram as mães que costuraram a vida,
fiando o tempo com linha e suor.
Lavadeiras de rio, rendeiras da sorte,
mãos que tecem, que lavram, que oram.
E enquanto o homem some na cidade,
elas seguram o sertão nos ombros.
O Nordeste é feito de suas pegadas,
de suas vozes, de suas lutas.
Se o passado arrancou-lhes a terra,
foram elas que ficaram — e criaram a vida.
Bosch e eu: entre a crítica e a ferida colonial
De todos os artistas europeus, há apenas um que ainda me atravessa: Hieronymus Bosch. Ele me coloniza — não pela forma, não pela técnica, mas pela crítica feroz que carrega. Bosch é o único colonizador que ainda habita meus delírios, talvez porque a acidez do seu olhar sobre o mundo medieval encontre eco no que eu também preciso denunciar.
Ele pintava o colapso moral da Europa — os vícios, o poder podre, a queda da alma. Eu pinto outro colapso: o da terra invadida, dos corpos silenciados, da memória arrancada pela violência da incursão portuguesa.
Se Bosch mostrava o inferno como consequência do pecado, eu mostro que o inferno chegou com as caravelas. Não há punição futura — o castigo já está aqui: na monocultura do eucalipto, na esterilização do solo, na morte do camponês brasileiro , no apagamento dos povos indígenas.
Há em nós uma fúria semelhante, mas nossos mundos são outros. Ele critica o homem que se perde da alma. Eu denuncio o sistema que rouba a alma dos povos. Bosch pinta o desejo que conduz à danação. Eu pinto a resistência que surge depois do desastre.
E, mesmo assim, ele me coloniza. Como assombro. Como espelho invertido. Às vezes penso que sua crítica me provocou antes mesmo de eu saber meu nome. Ele habita uma parte do meu gesto. Um inimigo íntimo. Uma fagulha que queima, e que às vezes me ajuda a incendiar o que precisa cair.
Transfiguração das Cores
Sempre fui fiel às primárias,
à urgência do vermelho,
ao azul que carrega o silêncio,
ao amarelo que arde sem pedir licença.
Cor pura, sem concessão.
Cor como grito inaugural.
Fugia das misturas —
como quem foge do engano.
Preto e branco?
Nem isso.
Ausências demais.
Um, silêncio sem fundo.
Outro, claridade que cega.
Preferia o mundo onde tudo começa:
a cor em estado bruto.
Mas algo mudou.
Veio um verde que cheira a memória,
um lilás que murmura coisas que não sei.
Um rosa — que nunca convidei —
se assentou na borda da tela.
Será que estou virando romântica?
Será isso… ou será que a cor
também sabe onde ferve o inconsciente?
Não sei se é hora de confiar.
Quem pinta com tons que não conhece
não caminha, atravessa.
E o que vem por aí —
não vem calmo.
Vem pirando tudo.
Porque criar
é deixar que a ausência fale,
que o excesso se cale,
e que a cor — enfim —
nos revele
onde estamos por dentro.
Se eu pudesse te proteger...
Ah, se eu pudesse te proteger
De todas as dores,
grandes e pequenas deste mundo.
Eu estaria lá...
Quando você sentiu medo.
Quando se sentiu sozinho, em meio ao escuro.
Quando você sofreu os seus primeiros traumas,
Violências, injustiças,
quando viu pela primeira vez,
E uma e outra vez, e mais de uma vez,
Que o mundo não é assim
tão bom de se estar,
E de se habitar.
Para que isso fosse, enfim, possível,
Você, talvez nem nasceria, talvez,
Talvez nem estaria aqui.
Porque para nascer, já é preciso chorar...
E para sofrer, basta se estar vivo.
