Liberdade Borboleta Fernando Pessoa
Que gostavam de estar assim, agora, sós, donos de suas próprias vidas. Embora, isso não disseram, não soubessem o que fazer com elas.
Eu carrego comigo uma caixa mágica onde eu guardo meus tesouros mais bonitos. Tudo aquilo que eu aprendi com a vida, tudo o que eu ganhei com o tempo e que vento nenhum leva. Guardo as memórias que me trazem riso, as pessoas que tocaram minha alma e que, de alguma forma, me mudaram pra melhor. Guardo também a infância toda tingida de giz. Tinha jeito de arco-íris a minha.
Finjo o tempo todo, rio, sou alegre, dispersivo, com aquele brilho superficial e ridículo. E em cada fim de noite me sinto um lixo.
Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir. Que eu continue alerta. Que, se necessário, eu possa ter novamente o impulso do vôo no momento exato. Que eu não me perca, que eu não me fira, que não me firam, que eu não fira ninguém.
Confesso que esperava um sorriso ou qualquer outra manifestação dessas de afeto. Mas não houve nada disso.
Não sei o que se fez ou o que eu mesmo fiz depois. Sei, e isso com certeza absoluta, que não teve a menor graça. Desde então, tenho uns agostos por dentro, umas febres. Uma tristeza que nada, nem ninguém conserta. É assim que se começa a partir?
Estou aqui aprendendo que nem todos dão valor ao que você pode oferecer, e acabar demonstrando afeto demais começa a encher o saco, e eu digo tudo isso da minha parte. Chega de ligações, preocupações, sentimentos demonstrados aos extremos. Vou ficar mais relax mesmo.
Há uma distância enorme entre eu e as pessoas. Estou chegando de experiências que elas não tiveram - e eu não estou sabendo o que elas viveram nesse tempo que fiquei fora. E difícil, difícil. Como começar tudo de novo. Até reencontrar os pontos de contato, leva tempo. Entre eu e as pessoas. Entre eu e a terra. Entre mim e eu.
Também já não tenho aquelas queixas infantis, na base do “tudo dá errado pra mim”, ou autopunições como “eu sou uma besta, faço tudo errado”.