Lembre se que um dia eu te Amei

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Eu ouvi no meu silêncio o prenúncio de teus passos
Penetrando lentamente as solidões da minha espera
E tu eras, Coisa Linda, me chegando dos espaços
Como a vinda impressentida de uma nova primavera.
Vinhas cheia de alegria, coroada de guirlandas
Com sorrisos onde havia burburinhos de água clara
Cada gesto que fazias semeava uma esperança
E existiam mil estrelas nos olhares que me davas.
Ai de mim, eu pus-me a amar-te, pus-me a amar-te mais ainda
Porque a vida no meu peito se fizera num deserto
E tu apenas me sorrias, me sorrias, Coisa Linda
Como a fonte inacessível que de súbito está perto.
Pelas rútilas ameias do teu riso entreaberto
Fui subindo, fui subindo no desejo de teus olhos
E o que vi era tão lindo, tão alegre, tão desperto
Que do alburno do meu tronco despontaram folhas novas.
Eu te juro, Coisa Linda: vi nascer a madrugada
Entre os bordos delicados de tuas pálpebras meninas
E perdi-me em plena noite, luminosa e espiralada
Ao cair no negro vórtice letal de tuas retinas.
E é por isso que eu te peço: resta um pouco em minha vida
Que meus deuses estão mortos, minhas musas estão findas
E de ti eu só quisera fosses minha primavera
E só espero, Coisa Linda, dar-te muitas coisas lindas...

Que esforço eu faço para ser eu mesma. Luto contra uma maré em nau onde só cabem meus dois pés em frágil equilíbrio ameaçado.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Eu me sinto superfeliz quando encontro uma pessoa tão confusa quanto eu.

Agora eu não sinto mais nada, nem amor, nem ódio. Para mim, você não existe mais.

De hoje em diante eu vou modificar o meu modo de vida... e pra começar eu só vou gostar de quem gosta de mim!

Ultrapassar a dor é a pior crueldade. E eu tenho medo disso, eu que sou extremamente moral. Mas agora sei que tenho de ter uma coragem muito maior: a de ter uma outra moral, tão isenta que eu mesma não a entenda e que me assuste.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

‎Agora que tudo perdeu a magia, se magia houve, e havia, eu não consigo mais ver nenhum anjo em você.

Eu tenho uma boca e eu não tenho medo de usá-la.

O que estou sentindo agora é uma alegria. Através da barata viva estou entendendo que também eu sou o que é vivo. Ser vivo é um estágio muito alto, é alguma coisa que só agora alcancei. É um tal alto equilíbrio instável que sei que não vou poder ficar sabendo desse equilíbrio por muito tempo – a graça da paixão é curta.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

O Vento

Como pode alguém sonhar
o que é impossível saber?
- Não te dizer o que eu penso
já é pensar em dizer
e isso, eu vi,
o vento leva!
- Não sei mais
sinto que é como sonhar
que o esforço pra lembrar
é a vontade de esquecer...
E isso por que?
Diz mais!
Uh... Se a gente já não sabe mais
rir um do outro meu bem então
o que resta é chorar e talvez,
se tem que durar,
vem renascido o amor
bento de lágrimas.
Um século, três,
se as vidas atrás
são parte de nós.
E como será?
O vento vai dizer
lento o que virá,
e se chover demais,
a gente vai saber,
claro de um trovão,
se alguém depois
sorrir em paz.
Só de encontrar... Ah!!!

Hoje eu sei os que me fazem bem, os que me fazem mal e os que não me fazem a menor falta.

Eu não estava querendo que meus sonhos interpretassem minha vida, mas antes que minha vida interpretasse meus sonhos.

Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei! De quem disse que viria e nem apareceu; de quem apareceu correndo, sem me conhecer direito, de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.

Desconhecido

Nota: Embora a autoria seja normalmente atribuída a Clarice Lispector, na verdade o trecho se trata de um híbrido, que combina elementos e excertos de Antônio Carlos Affonso dos Santos com outros, escritos por um autor desconhecido.

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Seu eu te pudesse dizer
o quanto te amo
Te daria grande prazer
e viverias nesse encanto.

Mas amar é meu segredo
O que nunca te direi
Pois sinto muito medo
E sei que te perderei.

Se soubesse compreender
O tamanho desse amor
Tu terias que entender
Que so quero seu calor.

Assim sigo meu caminhar
Te amando sem lei
E sempre a me perguntar
Aquilo que nem eu sei.

Teka Nascimento

Nota: Glosa de uma quadra popular de Fernando Pessoa.

Eu perco pra malandro, perco pra ladrão, perco pra espertinhos e espertões, perco na transação bancária, nos juros e na taxa diária. Ah, mas na sabedoria é que eu ganho de vocês, essa ninguém me tira.

Vida louca vida... Já eu não posso te levar
quero que você me leve..
Vida louca vida... Vida imensa
Ninguém vai nos perdoar! Nosso crime não compensa

Mas não me consolem: da minha dor, sei eu.

Eu

Até agora eu não me conhecia,
julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era Eu não o sabia
mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim... e não me via!

Andava a procurar-me - pobre louca!-
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!

E esta ânsia de viver, que nada acalma,
E a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!

É absolutamente indispensável que eu seja uma ocupada e uma distraída.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Atualidade do ovo e da galinha (II).

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Eu vou ficar na minha, não vou me desgastar. Se tiver alguma batalha, só por hoje eu me retiro, preciso cuidar um pouco mais de mim.