Lago
TRIGÉSIMO TERCEIRO HEXÁSTICO
A loucura da pós-verdade
imanta mentes toscas… líquidas
sem formas descem rios de nadas
única ação: ser a manada
que logo será consumida
pelos algozes comensais
ALMA DE SÍSIFO
De João Batista do Lago
A noite é fria…
Gélida!
O espelho esfumacento
não me revela
nesta fria noite… fria.
Algo dentro de mim
grita feito besta fera.
Ouço-o.
O lamento é lúgubre
e lúgubre é o meu lamento!
Feito Sísifo
desço a montanhosa noite
refazendo meus pensares.
Amanhã terei que rolar a rocha até o topo!
Renascerei ou mais um dia morrerei?
TRIGÉSIMO QUARTO HEXÁSTICO
silencia o choro do espírito
todo lamento gera treva
tuas sombras não são realidades
são ilusões da mediocridade
geradas pelo te’universo
prenhe de tua sabedoria
TRIGÉSIMA QUINTO HEXÁSTICO
ouve a nostalgia do paraiso
ela é prenhe de imagens puras
nela haverá mil sorrisos
nenhum deles será concreto
nenhum imaginador puro
todos capazes no escuro
TRIGÉSIMO SEXTO HEXÁSTICO
vê… rosas multicoloridas
estão novamente nascendo!
todas as praças estão sorrindo
há nova esperança surgindo
em cada jardim florescendo
cada pétala é liberdade
TRIGÉSIMO SÉTIMO HEXÁSTICO
Resgata teus mitos e símbolos
traze-os ao limiar da consciência
a imagem é tua plenitude
resgat’a dimensão existencial
perdida nos vales modernos
serás pois espelho de deus
TRIGÉSIMO OITAVO HEXÁSTICO
Queira pois o Tempo e o Sem-Tempo
“Ksana” é momento favorável
hierofania do ser sagrado
iluminação dos opostos
no espaço do contraditório
produz ser e sabedoria
TRIGÉSIMO NONO HEXÁSTICO
esquece da morte profana
transcende-te a ti tão somente
verás que do eterno retorno
tua ossatura será outro verbo
após livre da mundidade
toda vida é sabedoria
À BEIRA DO CAIS
De João Batista do Lago
O velhinho sentado à beira do cais
é silêncio puro
num final de tarde febril
no ocaso de um dia de abril
onde o sol não sorriu para os cabelos brancos
feito asas de gaivotas soltos na imobilidade do vento
Sento-me ao seu lado
vazio...
e calado...
e mudo na prenhez do tempo e do espaço…
Os meus cabelos ainda estão viçosos
alinhados e sem quaisquer querelas com o vento
estão nervosos
e bem mais sofridos que aqueles cabelos brancos sustentados de experiências
capazes de tudo falarem sem uma palavra sussurrar
E eu tão jovem querendo auscultar
o lamento que somente as ondas do mar ouvem
caladas e correm como loucas para...
para guardar na profundidade do seu mar profundo e eterno
as minhas queixas...
as minhas querelas...
e todas as minhas
mágoas guardadas na plenitude daqueles cabelos brancos feito asas de gaivotas famintas do peixe
De repente
o velhinho sentado à beira do cais
levanta-se
e sem me dizer uma palavra
sem um adeus
sumiu na plenitude do tempo e do espaço
Fiquei só sentado à beira do cais...
QUADRAGÉSIMO HEXÁSTICO
revela teu caráter ético
transmigrando do único “si”
e revela o “si” coletivo
verbo da ossatura do ser
que te fará sujeito númeno
nos campos trigais da existência
Se querem mesmo saber: eu estou cansado desses poetas ditos sagrados, em verdade são uns desgraçados da sorte; são o caldo cultural de uma indústria poético-literária, que têm nos seus livros a exploração póstuma desses escribas que deveriam está definitivamente enterrados.
É preciso tirar a Poesia das prisões intelectuais. O claustro deve ser abolido. As “igrejas”, os “monastérios”, os “colégios”, as “academias”, são todas elas formas de prisões que transformam
e manipulam o poder de imaginação do poeta. Poesia é sinônimo de liberdade plena.
POEMA É TODA LIBERDADE
De João Batista do Lago
Há novos sofistas por aí!...
Preceptores de falsas imagens
Formando coros de aedos,
Papagaios de falsas mensagens.
Sujeitam o poema aos grilhões
Dum isotropismo arcaico e rude,
Forjando a palavra como ferradura,
Ofertando ao intelecto como moldura.
Aos tolos imprimem valor denotativo
E cravam no coração do imaginário
A mentira como princípio ativo:
A metáfora como essência do poema!
Ainda que prostrado no chão diz o poema:
“‒ A essência que me há é toda liberdade de imaginação.”.
ESPÍRITOS LIVRES
Onde vos encontrais
Ó espíritos caminhantes e
livres?
Por quê vos deixais
aprisionar pelos dogmas
dos monastérios acadêmicos
― tão velhos e tão toscos! ―
que oram terços dos passados
enclausurados nas cavernas?
Vossos caminhares são
os espaços livres dos tempos… e dos templos.
Ainda não aprenderam que o
bom caminhante não sabe para onde vai;
e que o caminhante perfeito
não está preocupado com a sua origem?
Caminhai como os loucos!
Ó espíritos caminhantes e livres
despertai de vossos sonhos e dos vossos pesadelos
― ilusões e fantasias! ―
e tomai vossa sagrada loucura
e a ofertai como palavra divina
aos acorrentados da sagrada família.
Vosso caminho é livre:
ele não tem início;
ele não tem fim.
PROMETEU ESQUECIDO
De João Batista do Lago
Ei, Tu aí que estás preso nesse madeiro
E com esse olhar de Réu arrependido
E tentando decifrar o mundo inteiro
E com rosto transpirando sangue comedido
E com essa boca de imolado carneiro
E suplicante do deus que Te fez Prometeu esquecido
E com braços abertos para o abraço de nadas
E com mãos chagadas por ferros encravados
E com peito trespassado pela lança da manada
E com pernas e pés ao suplício condenado
E com espírito de justiça da vida emanada
E com caminhos de espinhos cravejados…
Desce da Crucis
E vem
O inferno é aqui!
E ele precisa de Ti.
Há fome no front
Miséria em toda parte
― o inferno precisa de Ti! ―
Não parte.
Vem e guia-nos
Ante a suprema dor;
Fortalece
Todo furor crucificado
E que todo sangue derramado
Seja pleno fulgor
D’um povo calejado
― agora resgatado
com a esperança do porvir ―
Tempo novo
Há de vir!
NA QUARTA PELE
De João Batista do Lago
A serpente que me habita desejosa está,
A pele que nela há precisa reabilitar-se ― troca!
É preciso comê-la. Degustá-la até o fim ― profundamente!
Minha nova pele fugazmente anseia…
No pasto do mundo comi com toda manada.
E bebi do vinho sacrossanto ― satânico e santo!
E de entre todas as peles vomitara deuses e diabos!
― Poderia embriagar-me com a minha pele? ― Como!?
CANTO REFLEXIVO
De João Batista do Lago
Desperto sob raiares de um forte sol
Ciente da realidade de um novo crisol
Porém tudo continua sendo mero sonho
Nesta estrada que a caminhar me ponho
Perscrutando o tempo, espaço, terra e mar
Curioso para saber em qual lugar vou parar
Lembro ainda dos primeiros passos
Trôpegos mas esperançosos ante toda vida
Ali tudo era esperança desmedida
Em cada passo meu olhar de aço
Açoitava os percalços imprevidentes
Sem temer quaisquer almas indolentes
Mas a vida essa quimera indomada
Logo tratou de pregar novas surpresas
Navios alados formaram uma armada
Esconderam o sol e pariram torpezas
Prenderam estrelas no breu da noite densa
E mataram por instantes esperança imensa
Contudo o sol da liberdade se impôs
Novo dia raiou e com o povo se compôs
Tecendo um manto de linhas entrelaçadas
Tirando das gargantas as espinhas de aço
Que açoitavam as vozes das liberdades
Agora livres em toda praça e em todo paço
Em toda rua um carnaval de bonança havia
E no front daquele menino novo mundo surgia
Viram-se o operário e a mulher com galhardia
Nascerem no horizonte de dias esplendorosos
E juntos com todos os nativos ardorosos
Entoarem o hino da igualdade e da harmonia
Mas a triste e miserável ganância
Travestida de honra e democracia
Desfila nos palácios todos os horrores
Mentindo que por todos nutre amores
A todos matando num único cenário
Ofertando a sacristia do mesmo covário
Ainda terei tempo de assistir
Aos raiares do sol de novo porvir?
Lembro ainda dos primeiros passos
Ali tudo era esperança desmedida
Açoitava os percalços imprevidentes
Sem temer quaisquer almas indolentes
O homem dito "moderno" trocou seu cérebro pela internet. Todo seu comportamento e ações são o que a massa de ignorantes manifesta na rede.
Político é fruto do sistema, quem alimenta o sistema é povo.
Enquanto povo for inculto e ignorante a árvore vai dar sempre o mesmo fruto.
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