La Rochefoucauld

O mal que fazemos não atrai contra nós tanta perseguição e tanto ódio como as nossas boas qualidades.

Os vícios entram na composição da virtude assim como os venenos entram na composição dos remédios. A prudência mistura-os e atenua-os, e deles se serve utilmente conta os males da vida.

Se julgarmos o amor pela maior parte dos seus efeitos, ele assemelha-se mais ao ódio do que à amizade.

A gratidão da maioria dos homens não passa de um desejo secreto de receber maiores favores.

A prudência e o amor não se fizeram um para o outro; à medida que o amor aumenta, a prudência diminui.

Falta muito para que a inocência tenha tanta proteção como o crime.

Louvam-se ou criticam-se muitas coisas porque está na moda louvá-las ou criticá-las.

Ninguém pode pronunciar-se acerca da sua coragem quando nunca esteve em perigo.

O silêncio é o partido mais seguro de quem desconfia de si mesmo.

Os velhos gostam de dar bons conselhos para se consolarem de já não estarem em estado de dar maus exemplos.

A verdadeira eloquência consiste em dizer tudo o que é preciso e em só dizer o que é preciso.

É uma grande habilidade saber esconder a própria habilidade.

Descobrem-se maneiras de curar a loucura, mas não se encontra nenhuma para endireitar um espírito louco.

Nem o sol nem a morte se podem olhar fixamente.

Um verdadeiro amigo é o maior de todos os bens e entretanto, é aquele com que menos nos preocupamos em adquirir.

Prometemos conforme as nossas esperanças e cumprimos segundo os nossos receios.

Quando não encontramos o repouso em nós próprios, é inútil ir procurá-lo noutro lado.

Cada um de nós faria mais coisas, se as julgasse menos impossíveis.

Os homens não poderiam viver muito tempo em sociedade se não se deixassem enganar uns pelos outros.

As relações mais felizes são aquelas baseadas na mútua incompreensão.