Homenagem a uma Pessoa que Morreu

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Tive grandes ambições e sonhos dilatados – mas esses também os teve o moço de fretes ou a costureira, porque sonhos tem toda a gente: o que nos diferença é a força de conseguir ou o destino de se conseguir conosco.

Grande é a poesia, a bondade e as danças. Mas o melhor que há no mundo são as crianças.
(in "Liberdade")

Rapaz, você tem que entender que aquela garota não
é fácil não! Ela é marrenta e irritada demais,
mas que com jeitinho as pessoas conseguem que
ela se derreta como uma manteiga. Ela é durona,
mas isso é tudo uma fachada para não se magoar
outra vez. Alguns caras que passaram pela vida
dessa menina quebraram o seu coração, desde
então, ela se protege sendo assim e não dando
espaço para ninguém visitar seu coração
novamente, então se quiser fazer uma visita ao
coração dela, você vai ter que a conquistar, mas
lembre-se, sempre com jeitinho.

Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho. Pesa-me um como a possibilidade de tudo, o outro como a realidade de nada. Não tenho esperanças nem saudades. Conhecendo o que tem sido a minha vida até hoje — tantas vezes e em tanto o contrário do que eu a desejara —, que posso presumir da minha vida de amanhã senão que será o que não presumo, o que não quero, o que me acontece de fora, até através da minha vontade? Nem tenho nada no meu passado que relembre com o desejo inútil de o repetir. Nunca fui senão um vestígio e um simulacro de mim. O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto.

Breve sombra escura de uma árvore citadina, leve som de água caindo no tanque triste, verde da relva regular — jardim público ao quase crepúsculo —, sois, neste momento, o universo inteiro para mim, porque sois o conteúdo pleno da minha sensação consciente. Não quero mais da vida do que senti-la a perder-se nestas tardes imprevistas, ao som de crianças alheias que brincam nestes jardins engradados pela melancolia das ruas que os cercam, e copados, para além dos ramos altos das árvores, pelo céu velho onde as estrelas recomeçam.

Fernando Pessoa
SOARES, B. Livro do Desassossego. Vol.II. Lisboa: Ática. 1982. 186p.

Quem sou eu para mim? Só uma sensação minha.

Custa tanto ser sincero quando se é inteligente! É como ser honesto quando se é ambicioso.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

(do poema "Mar Português")

(...) Porque enfim
Sempre haverá sol
Ou sombra na cidade
Mas em mim...
Não sei o que há

“Para compreender, destruí-me.”

Amo por que te amo e sei que por amor te amo

Ninguém pode sonhar por ti.

A vida que se vive é um desentendimento fluido, uma média alegre entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver.

Amizades e amores requerem lealdade, um mentiroso nunca terá relações assim para vida inteira. A mentira cauteriza e por fim desumaniza.

Se de mim não me lembro, como me lembrarei de ti?

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

Há qualquer coisa
de longínquo em mim neste momento.
Estou de facto à varanda da vida,
mas não é bem desta vida.
(...)
Sou todo eu uma vaga saudade,
nem do passado,
nem do futuro:
sou uma saudade do presente,
anônima,
prolixa e incompreendida.

Estou ignorando tanta coisa,fingindo não ver,não sentir...
Pra ver se eu consigo me convencer mesmo que não existe.

Não adianta tirar da mente o que não sai do coração.
Você apaga os momentos, mas as lembranças se mantêm
vivas dentro de você

"Há um cansaço da inteligência abstrata, e é o mais horroroso dos cansaços. Não pesa como o cansaço do corpo, nem inquieta como o cansaço do conhecimento e da emoção. É um peso da consciência do mundo, um não poder respirar da alma”.

( Bernardo Soares [Semi-heterônimo de Fernando Pessoa]).

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a marcará,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.

Fernando Pessoa
Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1944.

Nota: Trecho do poema Tabacaria.

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Tudo o que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica
E eu sou um mar de sargaço –

Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar de além...
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem