Homem Pobre
Quando vires uma pobre Cruz de madeira, só, desprezível e sem valor... e sem Crucificado, não esqueças que essa Cruz é a tua Cruz: a de cada dia, a escondida, sem brilho e sem consolação... que está esperando o Crucificado que lhe falta. E esse Crucificado tens que ser tu.
No mundo em que vivemos o certo é errado, o Suspeito é acusado, o inocente é julgado e o pobre é condenado.
Um cachorro não se importa se você é rico ou pobre, apenas de seu coração a ele, e ele lhe dará o dele.
A pior ambição de um homem é desejar colher pela vida inteira os frutos daquilo que ele nunca plantou.
Eu preferia estar sobre a terra calado e trabalhando para um homem de poucas posses a ser senhor de todos os mortos inertes.
O mundo e o homem são seletivos. Só querem se identificar com figuras-modelos, padrões, superdotados, porque é difícil suportar qualquer relação sem admiração.
O homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão,
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
coloniza a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua.
Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
Vamos para Marte — ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
pisa em Marte
experimenta
coloniza
civiliza
humaniza Marte com engenho e arte.
Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro — diz o engenho
sofisticado e dócil.
Vamos a Vênus.
O homem põe o pé em Vênus,
vê o visto — é isto?
idem
idem
idem.
O homem funde a cuca se não for a Júpiter
proclamar justiça junto com injustiça
repetir a fossa
repetir o inquieto
repetitório.
Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
só para tever?
Não-vê que ele inventa
roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
mas que chato é o Sol, falso touro
espanhol domado.
Restam outros sistemas fora
do solar a col-
onizar.
Ao acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.
A piedade não é natural ao homem.Crianças são sempre cruéis. Selvagens são sempre cruéis.A piedade é adquirida e aperfeiçoada pelo cultivo da razão.
Na educação de todo homem existe uma hora em que ele chega à convicção de que a inveja é ignorância; de que a imitação é suicídio; de que ele precisa considerar a si mesmo, tando por bem como por mal, de acordo com o seu destino.
