Frases de Fernando Pessoa sobre Vazio

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Tem um poema da Florbela Espanca que diz assim: "As coisas vêm a seu tempo/ quando vêm, essa é a verdade". Um dia a coisa sai. E eu acredito no mecanismo do infinito, fazendo com que tudo aconteça na hora exata.

Esta coisa terrível de não ter ninguém para ouvir o meu grito. Esta coisa terrível de estar nesta ilha desde não sei quando. No começo eu esperava, que viesse alguém, um dia. Um avião, um navio, uma nave espacial. Não veio nada, não veio ninguém.

Tem dias que não existem emoções, nem pensamentos: só dor!

Quem nos faz falta acerta o coração como um vento súbito que entra pela janela aberta.

Se você quiser me amar, esteja a gosto, coração.

É esse seu bloqueio de aço encouraçando o silêncio, eu não consigo entender.

E eu quero ver, rever, trasver, milver tudo que não vi.

E para que não doesse demais quando não era capaz de, apenas esperando, evitar o insuportável, fazia a si próprio perguntas como: se a vida é um circo, serei eu o palhaço?

Nunca esperei que um dia, numa tarde de sábado, você podia sair de dentro do meu rádio para dizer olhando para mim: I love you. Quando eu queria sair de Minas e não sabia como... Como se eu fosse uma estrela caindo do céu, longe. Então eu imaginava você vindo, como eu te imaginava.

-Você lembra de mim? – perguntei.
- Claro que lembro. Você esteve no meu apartamento em São Paulo, há muitos anos.
- Eu mudei muito, como você lembra?
- Eu mudei também, quem sabe por isso lembro.

Ninguém te ama, ninguém te quer, ninguém te conhece, ninguém tem acesso à tua alma. Tuas neuras são só tuas, e parece que nada nem ninguém preenche esse vazio.

É estranho que para se desfazer laços, baste uma palavra, quando para construí-los de verdade, bem mais!

Boas e bobas são as coisas todas que penso, quando penso em você.

Caio Fernando Abreu

Nota: Carta Anônima, do Livro Pequenas Epifanias.

Na vida, as coisas mais doces custam muito a amadurecer.

Vocês são muito transitórios, entende? Tão instáveis, hoje aqui, amanhã ali. Eu sei, também já fui assim. Só que chega um ponto que a gente cansa, que não quer mais saber de aventuras ou de procuras, entende?

Os dois se abraçaram e se deram beijos como duas pessoas que não se vêem há muito tempo. Atropelaram perguntas como: por onde é que tu anda?

Você sabe que vai ser sempre assim. Que essa queda não é a última.

Mas sempre me pergunto por que, raios, a gente tem que partir. Voltar, depois, quase impossível.

Não acredito que maus fluidos, por mais fortes que sejam, consigam destruir um amor bonito, limpo.

São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições.

Caio Fernando Abreu
Pequenas epifanias. Rio de Janeiro: Agir, 2006.

Nota: Trecho da crônica Sugestões para atravessar agosto, publicada originalmente no jornal "O Estado de S. Paulo", em 6 de agosto de 1999.

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