...enquanto o esmalte vermelho da minha... Laura Pedrosa

...enquanto o esmalte vermelho da minha unha desbota e os lenços de papeis acabam, você se diverte lá fora.
Não tenho medo de chorar - entendo, que as vezes faz bem - mas, por você eu tentarei não derramar mais lágrima alguma.
Chega um ponto em que você começa a enxergar bifurcações entre o que você deve ou não fazer e o que gosta ou não. Não sou das pessoas mais fortes que já vi; eu costumo chorar de raiva, chorar de alegria ou chorar de qualquer outra coisa, quando me dou conta já sinto os meus olhos arderem. Apesar disso é quase inacreditavel ousar dizer mas, não sou do tipo emocional - os meus sentimentos não são frequentes. Não gosto das pessoas, elas matam umas as outras e se devoram lá fora - depois não me pergunte porque eu talvez prefira ficar no meu quarto qualquer dia. Pessoas estranhas e diferentes me interessam, por isso geralmente eu acabo sozinha, costurando os retalhos de mim que sobraram...
Com você não foi diferente, não somos melhores ou pior no amor ou na dor. Estamos bem distantes de tudo isso, temos nossas bolhas particulares, nossos universos são duas coisas que com certeza não se misturam. E dessa independencia surge o nós, eu e você, você e eu. Paralelamente juntos e presos além desse mundo. Hoje mais que nunca somos dois, disso eu estou convicta. Metade do que eu sei veio de você. Você deu o rumo certo que a minha vida deveria tomar. Eu te agradeço por tudo isso mas, hoje - ainda sim - não devo chorar. Existem coisas melhores a que devo me entregar; pessoas estão morrendo, crianças estao chorando e corpos boiando no mar.
Eu não devo me entregar e acabar como da ultima vez chorando no chão da sala de estar vazia e escura. Eu não devo me entregar a sua ausencia e morrer por isso, eu prefiro ser bem mais, ter mais força e sorrir a cada dia. Mesmo que você morra ou se divirta lá fora.

[RE]-PINTANDO O VERMELHO DAS UNHAS (parte I)