O MENINO DO CÉREBRO EXPOSTO O menino do... Maxileandro FRANÇA LIMA

O MENINO DO CÉREBRO EXPOSTO




O menino do cérebro exposto nunca teve caminhos prontos.
Cada manhã era um recomeço.
Andava como quem não deixa pegadas no chão,
como quem sabe que o destino não pertence a ninguém.
Dentro de sua cabeça latejavam memórias indesejadas,
toques que não deveriam ter existido,
palavras que nunca deveriam ter sido ditas.
Era chuva demais para tão pouca infância.
E, ainda assim, ele sonhava com o sol.
Um corpo que pudesse brilhar,
uma mente que pudesse incendiar de luz —
mas a tempestade parecia não cessar.
Os primeiros erros, ele carregava como feridas.
Não eram seus, mas o peso recaía sobre ele.
Chovia e chovia,
e o menino aprendia a sorrir sem vontade,
a se calar quando tudo gritava por dentro.
No silêncio, nascia a resistência.
No papel, surgia um idioma secreto,
em traços e cores que buscavam curar o que o mundo insistia em ferir.
Hoje, já homem em travessia para a terceira idade,
ele olha para trás e percebe:
se pudesse ver seu passado inteiro,
talvez fizesse parar de chover.
Talvez resgatasse a infância roubada.
Mas é exatamente na chuva que floresceu.
Cada gota se fez semente.
Cada sombra, terreno fértil para a imaginação.
O menino do cérebro exposto não é só dor.
É coragem.
É poesia insurgente contra o silêncio.
É música que se recusa a calar,
mesmo quando o mundo só oferece tempestade.
Eis o recado:
o sol ainda vive nele.
A chuva o formou, mas não o venceu.
Agora, literatura e música se entrelaçam para dizer sua verdade:
a mente que foi ferida é a mesma que cria,
o coração que foi exposto é o mesmo que pulsa,
e o homem que nasce dessa travessia é, ao mesmo tempo,
chuva e sol.