Tenho medo, sim. Mas não do mundo —... Aerton Lopes

Tenho medo, sim.
Mas não do mundo —
tenho medo do que o mundo tenta fazer de mim.

Porque percebo tudo.
O excesso, o ruído,
a grosseria que se esconde em gestos pequenos,
o silêncio que fere mais que palavras,
a indiferença que se apresenta como neutralidade.

Vejo como cada interação tenta moldar,
corrigir, reduzir,
empurrar o outro para papéis que não escolheu.
E sei que absorver demais
é o primeiro passo para a descaracterização do ser.

Por isso, resisto.
Não por fragilidade,
mas por consciência.

Recuso o jogo,
o labirinto de estímulos previsíveis,
as investidas que buscam reação, não diálogo.
Não respondo ao obscuro,
não espelho a violência,
não negocio minha essência por aceitação.

Isso não é personalidade.
É disciplina interior.
É inteligência aplicada à sobrevivência do eu.

Permanecer inteiro
num mundo que recompensa a deformação
é, talvez,
a forma mais elevada de lucidez.