Quem somos nós? A imagem que... Tato Villanova
Quem somos nós? A imagem que sustentamos diante dos outros, construída com cuidado, coerência e esforço, ou aquilo que irrompe quando o controle falha, com um gesto, um pensamento, uma reação que rapidamente tentamos esconder? Talvez essa divisão já revele o conflito central: viver entre o que mostramos e o que tememos revelar. Onde há essa cisão, há tensão contínua, e essa tensão consome energia que poderia ser usada para simplesmente perceber.
Em público, ajustamos a voz, o discurso, o comportamento. Em silêncio, observamos outra coisa se mover. Às vezes contraditória, às vezes desconfortável. Não brigamos contra isso porque seja errado, mas porque ameaça a imagem que aprendemos a proteger. O problema não é a imperfeição do que surge, mas o medo de ser visto sem a armadura. Assim, passamos a vida defendendo uma ideia de nós mesmos.
Então surge a pergunta moral: é melhor ser justo e parecer injusto, ou ser injusto e parecer justo? Enquanto essa escolha existir, já estamos presos à aparência. A justiça verdadeira não precisa de plateia, assim como a injustiça não deixa de existir porque foi bem disfarçada. Quando a preocupação principal é como algo será percebido, o ato deixa de ser claro. Ele passa a ser estratégico.
Buscar equilíbrio entre essas posições talvez seja outra armadilha. O equilíbrio pensado, calculado, escolhido, ainda pertence ao campo do esforço. E esforço implica conflito. O que acontece quando não tentamos parecer nada? Quando não há intenção de sustentar uma imagem nem de combatê-la? Talvez reste apenas o fato nu do que somos naquele instante.
E se a pergunta “quem sou eu?” não exigir resposta, mas observação? Não a observação do personagem público, nem a condenação do impulso oculto, mas a percepção direta do movimento inteiro… sem escolha. Nesse ver sem defesa, sem justificativa, pode não surgir uma definição. Mas talvez surja algo mais simples: o fim da necessidade de parecer.
