🌬🌪⚡Ode à Iansã (2) Senhora dos... Miriam Da Costa

🌬🌪⚡Ode à Iansã (2)


Senhora dos ventos que carregam histórias antigas,
dos trovões que chamam pelo nome o que deve despertar,
das tempestades que lavam a alma
como quem lava um altar profanado pelo tempo.


Óh Iansã!
Quando tu ergues teu braço,
a poeira se transforma em dança,
as folhas ganham voz,
os instintos se lembram de si mesmos.
És tu quem movimenta o que dorme,
quem assopra coragem
nos recantos mais frágeis do peito.


Óh Iansã!
Tua ventania não destrói:
revela.
Desnuda o que estava encoberto,
arranca máscaras,
afina verdades.
Rainha que conduz os espíritos
com a firmeza de quem conhece
os segredos da travessia,
leva contigo as sombras que colecionei,
os medos que herdei,
os silêncios que engoli.


Óh Iansã!
Devolve-me apenas o que é vivo,
o que é chama,
o que é livre.
E quando tua tempestade passar,
que eu me reconheça de novo
(limpa, inteira, acesa)
como folha que balança,
mas não quebra
e não cai.


Óh Iansã!
Tu és o instante entre o relâmpago e o silêncio,
o sopro que vira destino,
a dobra invisível onde o tempo se curva.
És o vermelho que dança na rotação do mundo,
a espada que corta o ar em espirais de fogo,
o búfalo que rompe as portas
do que ficou esquecido.


Óh Iansã!
No teu vento vivem vozes antigas,
ancestrais que conversam com as folhas,
mensagens que se escondem nos giros do ar.
Quando chegas,
os véus caem.
Quando falas,
as sombras se recolhem.
Quando danças,
o universo escuta.


Iansã, Rainha das passagens,
daquilo que se move entre mundos,
do que muda sem pedir desculpa:
abre o portal do novo em mim.
Que eu aprenda contigo
a ser vento quando necessário,
tempestade quando inevitável
e brisa quando o amor falar mais alto.


Eparrey Oyá!!!
✍©️@MiriamDaCosta