O luto é um território onde o tempo... Damião Leão

O luto é um território onde o tempo anda diferente. Não é atraso, nem falha — é o corpo e a alma tentando compreender a ausência que não cabe em palavras. O luto não é um túnel escuro, como tantos dizem; é uma travessia, sim, mas uma travessia feita de noites e amanheceres entrelaçados, onde dor e amor caminham de mãos dadas.

Perder alguém é sentir o mundo deslocar-se um pouco para o lado, como se tudo estivesse igual, mas profundamente alterado. E, ainda assim, dentro dessa ferida aberta, existe um brilho silencioso: é o amor que permanece. O luto nada mais é do que o eco desse amor, tentando encontrar um novo lugar para morar dentro de nós.

A verdade é que não “superamos” o luto — nós o integramos. Aprendemos a carregar a ausência com mais leveza. Aprendemos que lembrar não é sofrer, mas honrar; que chorar não é fraqueza, mas prova da presença que existiu e transformou quem somos. Com o tempo, a dor muda de textura: deixa de ser um corte bruto e se torna cicatriz sensível, que dói quando tocamos, mas também nos recorda de que vivemos algo real, grande, importante.

Brilhar no luto não significa esconder a dor, mas permitir que ela se transforme. É deixar que o amor que ficou ilumine as partes escuras. É reconhecer que, embora alguém tenha partido, aquilo que essa pessoa despertou em nós — ternura, coragem, riso, memória — permanece vivo.

No fim, o luto é uma prova silenciosa de que tivemos a sorte de amar alguém a ponto de sua ausência mudar nosso mundo. E, pouco a pouco, aprendemos que seguir em frente não é deixar para trás, mas caminhar levando junto — de outro jeito, em outro ritmo, mas com o mesmo amor.