QUESTÃO 624 DE O LIVRO DOS ESPÍRITOS -... Marcelo Caetano Monteiro
QUESTÃO 624 DE O LIVRO DOS ESPÍRITOS - FIEL À VERDADE.
A Autoridade Moral do Profeta e a Dialética da Consciência: Uma Leitura Espírita, Filosófica e Psicológica da Questão Seiscentos e Vinte e Quatro.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.
Desenvolvimento ampliado.
A questão seiscentos e vinte e quatro de O Livro dos Espíritos institui um dos marcos conceituais mais nobres da Codificação ao redefinir o sentido da palavra profeta. Longe da tradição teológica que associava a profecia a fenômenos miraculosos ou a prerrogativas sobrenaturais, o Espiritismo desloca o eixo de compreensão para a moralidade. A verdadeira profecia nasce da elevação interior do Espírito e não da exterioridade dos fenômenos.
Quando os Espíritos Superiores afirmam que o verdadeiro profeta é o homem de bem inspirado por Deus, desconstroem toda noção espúria de mediunidade privilegiada e estabelecem que a legitimidade profética se afere pelo caráter, pela humildade e pela fidelidade às leis divinas. Em essência, o profeta é aquele cuja consciência já alcançou um nível de integração e lucidez que o torna apto a refletir a verdade com pureza.
Emmanuel, comentando a missão dos mensageiros espirituais, reitera que ninguém representa a vontade divina se não demonstrar coerência íntima com os princípios do bem. Para ele, a autoridade moral é a única que perdura e a única capaz de transmitir com autenticidade as inspirações superiores. Nessa linha interpretativa, o profeta não é um detentor de segredos futuros, mas sim alguém que vive na verticalidade da verdade eterna.
Joana de Ângelis, ao tratar da psicologia profunda do discípulo do Cristo, amplia essa compreensão ao afirmar que nenhuma consciência inspirada permanece dividida. A cisão psíquica, tão comum na criatura humana, cede lugar ao estado de unidade interior. O profeta verdadeiro é um Espírito que realizou o trabalho árduo de autoconhecimento, individuação e iluminação de suas zonas sombrias. Ele expressa, portanto, a harmonia do ser consigo mesmo.
Sob tal prisma, a profecia não é um dom extraordinário, mas o efeito natural da maturação espiritual. O homem de bem, ao alinhar mente e coração aos princípios da Lei Divina, torna-se receptivo às vibrações superiores e capaz de transmiti-las com autenticidade. Essa transmissão não é meramente verbal. Ela se inscreve na conduta. As palavras inspiradas são importantes, mas o testemunho de vida é a verdadeira assinatura do profeta.
A psicologia contemporânea, particularmente em seus estudos sobre coerência interna e autenticidade, confirma essa visão ao demonstrar que a integridade moral produz estabilidade psíquica, clareza de propósito e capacidade ampliada de influenciar positivamente o meio. Assim, o critério oferecido por Kardec é tanto espiritual quanto psicológico. A inspiração divina não se manifesta em personalidades que ainda funcionam sob o regime da impostura, da dissimulação ou da busca de glória pessoal.
O Espiritismo, ao recusar a ideia de que Deus se serve da mentira para ensinar a verdade, estabelece um axioma ético universal. Qualquer doutrina ou indivíduo que ensina a verdade por meios violentos, obscuros ou fraudulentos está, por definição, afastado da lei divina. A inspiração de Deus só se expressa onde há pureza de intenção e elevação da consciência.
A coerência entre palavra e ato é, portanto, o que distingue o profeta verdadeiro de todos os falsários espirituais. Ele não reivindica autoridade. Ele a irradia. Não busca seguidores. Atrai pela força moral. Não se autoproclama instrumento celeste, porque sabe que a humildade é o selo da grandeza espiritual.
O paradigma doutrinário presente na questão seiscentos e vinte e quatro é uma bússola segura para todas as épocas, pois impede que a fé se confunda com fanatismo e que a inspiração seja corrompida pela vaidade. É também um apelo à responsabilidade individual, lembrando que a profecia maior é sempre a da própria vida quando vivida segundo a lei do bem.
Se desejar, posso aprofundar ainda mais com análise comparada entre outras questões correlatas, como as dezoito, cento e treze, novecentos e onze, e mil e dezenove, ou desenvolver um estudo temático sobre discernimento moral, mediunidade e autoridade espiritual.
