A gente gosta de repetir que está... Aerton Lopes

A gente gosta de repetir que está evoluindo.
Que agora sabemos mais, entendemos mais, pensamos melhor.
Mas basta olhar com calma para perceber que, enquanto a tecnologia sobe, a consciência desce um degrau silencioso.

Hoje vemos o sagrado desfigurado no sambódromo, tratado como peça de teatro, como se debochar da fé alheia fosse sinônimo de coragem artística.
Dizem que é liberdade… mas muitas vezes é apenas vazio fantasiado de ousadia.

As palavras perderam peso.
Os valores perderam forma.
O respeito virou só mais um item descartável em nome do “conteúdo que engaja”.

Criamos uma cultura em que o desleixo é celebrado como autenticidade,
o egoísmo é vendido como autocuidado,
e a grosseria virou manual de comportamento com título moderno.

Quanto mais raso, mais viral.
Quanto mais vulgar, mais lucrativo.
Quanto mais ofensivo, mais “revolucionário”.

E no meio disso tudo, alguém ainda diz:
— Estamos melhorando.

Porque, se chamam de evolução aquilo que nos faz desprezar o que é sagrado,
trocar profundidade por espetáculo,
e aplaudir o que corrói a dignidade humana…
então isso não é crescimento.
É só o caos ficando mais organizado, mais bonito, mais vendável.
É a desordem aprendendo a usar terno e gravata.

A verdade é simples e incômoda:
não existe progresso quando a alma anda para trás.