(de 2012) Quem sabe um dia tudo ficará... Yuzo Canguçu

(de 2012)

Quem sabe um dia tudo ficará bem...

Embora eu já não saiba mais o que “bem” realmente significa.
Há tanta dor, tantos sentimentos e pensamentos comprimidos dentro de mim que já não cabem, mesmo que eu me sinta tão vazio por dentro. É um paradoxo estranho: cheio demais para suportar, vazio demais para entender. Camus diria que o absurdo nasce exatamente aí — entre aquilo que espero do mundo e aquilo que o mundo realmente me entrega.


Acreditei. E pagar o preço da esperança sempre dói.
Quando a verdade chega, ela não pede licença: arromba a porta e espalha pedaços do coração pelo chão, como se fosse possível sobreviver quebrado e continuar andando. É difícil recolher tudo isso… mais difícil ainda é encaixar de volta.


Dizem que só um novo sentimento cura o antigo, mas ninguém avisa que o novo pode ser ainda mais amargo.
E quando o que chega não salva — machuca? Quando a cura arde mais que a ferida? O que fazer além de existir, esperar, respirar e tentar não desabar?


Talvez eu espere mais um pouco.
Não quero apagar memórias — isso seria negar minha própria história — mas queria que elas perdessem o poder de me ferir. Queria poder lembrá-las como quem observa uma cicatriz antiga: com certa distância, com certa aceitação… sem voltar para o dia do corte.


Meu coração é amaldiçoado, talvez. Sente raiva demais, mas não o suficiente para sujar as mãos de sangue.
A vingança às vezes me parece uma ideia sedutora, quase reconfortante, como se devolvesse uma ordem ao caos. Mas no fundo eu sei: é só mais uma armadilha do absurdo tentando me convencer de que existe alguma justiça perfeita no mundo. Não existe. Nunca existiu.


Meu orgulho me segura. Minha razão me impede.
Ela segura a raiva, segura essa fome de destruir tudo que me feriu — porque no fim eu sei que destruir o outro não reconstrói nada em mim.


No fundo, sobreviver é isso: um ato de rebeldia silenciosa.
Persistir mesmo quando o mundo não dá respostas.
Continuar mesmo quando nada faz sentido.
Erguer-se mesmo quando o coração implora para desistir.


E talvez seja nisso que eu ainda posso acreditar — não em um final feliz, mas na força de continuar apesar de tudo.


Y.C