A projeção que virou espelho Achei que... Luis Henrique Takatsu
A projeção que virou espelho
Achei que te via,
mas o reflexo era meu.
Tuas palavras vinham de fora,
mas quem as moldava por dentro
era o que eu queria ouvir.
Todas as vezes que olhava o pôr do sol no horizonte,
na verdade, era uma projeção de nós dois
iluminando meu inconsciente.
Uma foto sua e se abria um álbum em minha frente,
histórias criadas e até roteiros feitos...
Projetei um enredo,
acreditei no roteiro que escrevi sozinho,
e, quando o silêncio chegou,
percebi que o eco não era ausência tua —
era excesso meu.
Criado por um, mas pertencente em silêncio a dois.
Nesse excesso, criei um mundo todo só nosso —
mas apenas eu tinha acesso.
Hoje olho com carinho todo esse sentimento.
Não acabou, na verdade, é apenas o primeiro dia
fora do nosso mundo encantado.
O que doeu não foi perder alguém,
foi perder o personagem que inventei.
Descobrir que o amor idealizado
tem o brilho exato do pôr do sol:
belo, mas breve,
e feito de despedida.
Observando tudo que criei e senti ao longo desse tempo,
me vejo como um belo arquiteto,
porém, um péssimo projetista —
criei estruturas lindas, dignas de um conto de fadas.
Hoje vejo de fora o “nosso mundo perfeito”,
sem saber o que você acharia dele de verdade.
Hoje entendo:
a decepção é só a luz acendendo no cinema,
mostrando que o filme era projeção.
E no escuro que fica depois,
a vida me convida a assistir de novo —
dessa vez, com os olhos abertos.
Das cenas que eu mais gosto são os créditos.
Pois mesmo sendo o único colaborador físico dessa criação,
todas as cores e formas são méritos seus.
Lhe agradeço por fazer tanto por mim.
Nunca haverá mágoas em um mundo onde nunca existiram
dois corações batendo acelerados
por compartilharem o mesmo sentimento.
