O CÓDIGO DAS APARÊNCIAS, A ELEGÂNCIA... Diogo Viana Loureiro

O CÓDIGO DAS APARÊNCIAS, A ELEGÂNCIA DO VAZIO
Nunca fui eu quem viu o mundo de um jeito errado. Foi o mundo que se acostumou a olhar torto e chamar de normal o que o desnutriu.
Sempre observei com calma e clareza as vaidades humanas, essa fé cega nas aparências, esse culto ao tecido, à marca, aparência cara.
Percebi cedo que o tratamento muda conforme a roupa.
Se estou de acordo com o figurino, sou tratado como alguém digno de escuta.
Mas basta vestir o que é confortável, o que é meu, e já sou confundido com alguém menor, sem valor.
O traje é um passaporte social.
Quem veste o uniforme da convenção entra. Quem veste a própria pele é barrado na porta.
O mais curioso é que os mesmos que exigem elegância não conseguem enxergar educação no olhar sincero, nem grandeza em um corpo simples.
Confundem brilho com valor, perfume com virtude, mentira com sabedoria.
E nessa inversão de sentidos constroem o vazio que os engole e consomem seus filhos, vendem status, compram aprovação e chamam o aplauso de propósito.
Tristes dos que vivem da casca, só percebem o abismo quando o chão cede, e o chão sempre cede, porque foi feito de vaidade.
A sociedade adora o disfarce.
É por isso que respeita quem finge e rejeita quem sente. O código das aparências é a religião do vaidoso, onde o espelho é altar e a consciência é silêncio.
Mas há quem se negue a ajoelhar.
Há quem saiba que a roupa não sustenta caráter e que o corpo, por mais enfeitado, não abriga verdade alguma se a alma estiver ausente.
Não é rebeldia, é lucidez.
A roupa que visto não muda o que sei.
A aparência que esperam não define o que sou.
O mundo pode continuar se engomando, eu sigo sendo humano.
Prefiro o desconforto da autenticidade ao conforto de uma farsa bem passada.
Porque, no fim, o corpo fica, a roupa apodrece, e o que resta é o que ninguém viu, a dignidade que sustentou o silêncio, a verdade que não precisou de terno e a coragem de não caber no falso figurino.
Daqui não se leva nem o corpo, muito menos a fantasia.