Setembro é da cor da vida Tenho visto... Leandro Flores - Escritor,...
Setembro é da cor da vida
Tenho visto os setembros passarem,
daqui do meu apê, sob a sombra de um ipê.
Uns vieram com promessas,
outros, com silêncios.
Janeiro trouxe planos.
Fevereiro trouxe pressa.
Março, um cansaço antigo —
e um medo novo, mascarado de esperança.
Foram dias longos, janelas fechadas,
um país inteiro precisando respirar.
Mas a vida, teimosa, continuou.
E, entre um tropeço e outro,
a gente foi vivendo.
Apesar de ser quase dezembro.
Este ano não tem carnaval,
mas ainda há tempo de recomeçar.
De pintar de novo as paredes do coração
com as cores que o tempo não levou.
Setembro chega sem pedir licença,
derrama o amarelo dos ipês sobre o cinza das ruas,
traz consigo o sopro da primavera,
e nos lembra —
que há beleza até no que cai,
que o chão também floresce em meio às estações.
A cigarra canta sua breve existência,
como quem entende
que viver é gritar mesmo quando se sabe o fim.
E o amarelo segue dançando,
nas árvores, nas calçadas, nos olhos que resistem.
Então...
Volte para agosto, reencontre a saudade.
Siga até janeiro, descubra seus gostos.
Passe por março, atravesse o medo.
Mas não pare.
Outubro vem rosa, novembro vem azul,
dezembro vermelho —
mas ainda não é o fim.
A vida não é calendário — é caminho.
Encha os dias de poesia,
independente da cor que ela se pinta.
Porque, como diz o poeta, “viver é um ato de coragem”,
e a vida, no fim,
ainda tem a cor que a gente pinta.
✍️ Leandro Flores
21/09/2021